terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

UM TERÇO DOS BRASILEIROS SABE ONDE PISA, OUTRO ESTÁ EM CIMA DO MURO E O RESTANTE CONTINUA NO MUNDO DA LUA

ricardo kotscho
BRASIL CONTINUA DIVIDIDO EM TRÊS, COMO
 NO DIA DA ELEIÇÃO DOS BOLSONAROS
Aconteça o que acontecer, um terço da população brasileira apoia Bolsonaro; um terço é contra e o outro terço é coluna do meio.

A nova pesquisa XP/Ipespe divulgada na 2ª feira de Carnaval, como todas as anteriores, mostra que o eleitorado brasileiro continua dividido exatamente como no dia das eleições de 2018.

As pequenas oscilações ocorreram dentro da margem de erro de 3,2 pontos percentuais da pesquisa.

Para 39%, o governo do capitão é ruim ou péssimo, exatamente o mesmo porcentual de outubro do ano passado.

Para 34%, o governo é ótimo ou bom e 29% o consideram regular.

Essa divisão do país em três partes quase iguais permaneceu inalterada nos levantamentos divulgados por todos os institutos de pesquisa de um ano para cá.

É como se o Brasil tivesse sido congelado, imobilizado politicamente, no dia da eleição dos Bolsonaros.

Por maiores que sejam as barbaridades já cometidas pelo governo miliciano-militar contra o povo brasileiro, a sua soberania e seu futuro, os números não se mexem.

O Fla-Flu das redes sociais também continua o mesmo e se revela até nos comentários sobre os desfiles das escolas de samba.

Quem defende o governo ataca o desfile da Mangueira, de forte crítica social e política, e vice-versa nos que são contrários.

Nos últimos 14 meses, as condições de vida da maioria da população só pioraram, com a perda dos direitos trabalhistas e previdenciários e a uberização da economia.

Pouco importa. Parece que até mesmo os desempregados, as maiores vítimas, que votaram em Bolsonaro, votariam de novo no capitão se as eleições fossem hoje.

No levantamento da XP Investimentos em parceria com o Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas, o que mais me chamou a atenção foi que 40% da população ainda acha a perspectiva ótima ou boa para os próximos anos de mandato do capitão.

Como explicar esse brutal contraste entre a cada vez mais degradada vida real dos brasileiros e esse otimismo que se mantem irredutível?
Só encontro uma explicação: a maioria dos brasileiros ainda prefere acreditar nas fake news da rede bolsonarista de comunicação, montada nos subterrâneos da internet e amplificada por grandes veículos da mídia amiga, do que nos fatos de uma economia estagnada, sem nenhum sinal de que possa melhorar tão cedo.

Como Bolsonaro só governa para os seus devotos e trapaceia diariamente a realidade, esses seguidores se mantém fiéis em qualquer situação, nada é capaz de mudar seu sentimento.

Os demais dois terços da população, que votaram no adversário do capitão no 2º turno (o petista Fernando Haddad, lembram-se dele?) e aqueles que digitaram branco/nulo ou se abstiveram, permanecem onde estavam, só vendo a banda de patos amarelos passar pela janela.

Só um fato novo poderá mudar esse cenário. Mas qual fato novo se pode esperar depois do Carnaval?

Estão previstas três manifestações para depois da 4ª feira de Cinzas.

Uma, no Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, contra o governo Bolsonaro.

Outra, em defesa de Bolsonaro, no dia 15, contra o Congresso e o STF, liderada pelo general Augusto Heleno, o grande patriota do foda-se.

E a terceira, o dia nacional de greve do serviço público: 18 de março.

A partir daí, algo poderá começar a se mover para um lado ou outro, a depender do número de manifestantes levados às ruas em cada manifestação.

Ou não acontecerá nada, o que é mais provável, e o cortejo fúnebre do país estrangulado pelo poder miliciano-militar seguirá seu caminho.

Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)

2 comentários:

Anônimo disse...

***
Acredito que o Kotscho está sendo otimista.
Na humanidade inteira a percentagem de quem tem algum saber político e critérios sólidos para avaliar a, aparentemente, mutante face da política é bem menor do que um terço.
O resto é manada e está dominada.
Mas, veja o lado bom.
A eleição de Bolsonaro veio para abalar e expurgar muitos falsos esquerdistas e motivar as novas gerações a dar valor a liberdade e a utopia de um mundo melhor.
***
Outra coisa boa que está acontecendo é o esgotamento de um modelo de sociedade e o nascimento de outro, que não sei como será, mas que deverá ser bem melhor que o atual.
O interstício entre um modelo e outro é que toma a forma de aparente caos.
Nele surgem os anormais que, sem a coerção civilizatória, mostram a verdadeira face monstruosa e deselegante.
Obviamente, não conseguirão criar nada de bom e se extinguirão em contendas, como é comum acontecer entre néscios.
Você deveria ser o primeiro a entender que a civilização exige valores que esses caras não tem, o que faz crer na sua derrocada próxima.
Isso é histórico.
*

celsolungaretti disse...

Companheiro,

até 1967 eu parecia ser destinado a me tornar um sábio no topo da montanha (alguém que apenas esperaria pacientemente a debacle da horda de bárbaros, pois era o que se depreendia das minhas análises teóricas e de muitos outros companheiros).

Por que quis tanto ir para o calor da luta, até que acabei conseguindo, ao preço de ser quase destruído? Essas coisas a gente nem consegue entender no momento, só muito depois.

É porque sou um ser humano compassivo e lamento profundamente o desperdício de vidas. Não suportaria ver as tragédias acontecendo à distância. Queria estar onde, talvez, as pudesse evitar.

Talvez eu só tenha encontrado meu verdadeiro caminho a partir de 1986, quando comecei a travar batalhas em defesa dos direitos humanos: dos quatro de Salvador, do Cesare Battisti e de outros que não consegui ajudar, embora fizesse o humanamente possível.

De algo, pelo menos, o destino me poupou. Quando estava na luta armada, jamais recebi tarefa que me obrigasse a matar ou inutilizar outro ser humano.

Naquele tempo, se isto acontecesse, eu cumpriria ou tentaria cumprir a missão. Era militante disciplinado. Mas sei que passaria o resto da vida me remoendo em remorsos.

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