quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

RUI MARTINS ALERTA: BRASIL MARCHA PARA UMA DITADURA DE DEUS, MAIS TERRÍVEL AINDA QUE A DOS MILITARES!

rui martins
EVANGELISMO BRASILEIRO COPIA O FORMATO IRANIANO
Para quem é pesquisador, o momento é único, pois mostra uma transformação no comportamento religioso dos brasileiros. 

E se trata de uma transformação praticamente inédita, sem qualquer forma aparente de pressão, cujas consequências se fazem sentir na política, mas sorrateiramente poderão modificar os hábitos sociais, a música, a literatura, as expectativas de vida, com reflexos no cinema, no teatro e no próprio comércio. O Brasil é um país em mutação.

E a pergunta se impõe: mutação para melhor ou pior? Vou procurar alinhar os fatos, deixarei a conclusão aos leitores e pesquisadores.

Se começássemos pelo fim, frustraríamos quem prefere acompanhar a evolução dos processos sociais. Por isso, vamos ver onde tudo começou, sem ter de fazer um grande retrocesso, pois tudo ocorreu de maneira rápida, mesmo se tratando de um fenômeno envolvendo tradições e gerações de seres humanos.

O ponto de partida fica há 200 anos, 1820, quando chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes alemães e suíços. Alguns foram para São Paulo e Rio Grande do Sul; a maioria, porém, se dirigiu para o leste de Minas Gerais. O ciclo da cana-de-açúcar estava chegando ao fim e ia começar o do café.

Esses lavradores, que logo se impuseram na região, não eram católicos como os brasileiros, mas luteranos e uns poucos calvinistas. 

Para viver na região e nela assegurar o desenvolvimento da agricultura, tinham recebido o direito de manter sua fé protestante e o império brasileiro garantia o pagamento de um salário mínimo para o primeiro pastor imigrante. Era, porém, proibida a construção de igrejas, para evitar uma concorrência com a religião oficial, o catolicismo.

Tais regiões prosperaram, tornaram-se importantes cidades e os grupos protestantes se desenvolveram. Enquanto as comunidades luteranas progrediam no Sul, porém, o quadro era diferente nas Minas Gerais: por falta de pastores luteranos, havia uma dispersão dos fiéis. Essa lacuna seria preenchida no fim do século XIX pelos presbiterianos.

Ao contrário dos luteranos, cujo credo foi levado ao Brasil pelos imigrantes, a Igreja Presbiteriana, de origem calvinista, chegou ao país na metade do século XIX por um missionário estadunidense, Ashbel Green Simonton, com o objetivo de promover a evangelização dos brasileiros. Ao chegarem a Minas Gerais, os primeiros presbiterianos encontraram os luteranos, que a eles se agregaram. 

É importante para o presbiterianismo a participação dos mineiros convertidos do catolicismo, que substituíram os missionários estadunidenses, na expansão dessa denominação protestante, pois Minas funcionou como um celeiro de pastores para as igrejas presbiterianas de outros estados brasileiros.

Entre eles, o mineiro Boanerges Ribeiro, que, depois de formado no Seminário de Campinas, foi ser pastor na cidade portuária de Santos, justamente na época em que o Partido Comunista, de volta à legalidade após a libertação de seu líder, Luís Carlos Prestes, tinha conseguido a maioria absoluta na Câmara Municipal. 
Boanerges transformou a congregação de presbiterianos de Santos, que se reunia no templo da Igreja Luterana, numa frente avançada contra o comunismo, recuperando para a igreja muitos dos membros simpatizantes do partido.

Depois de deixar Santos e passar alguns anos nos EUA, e de ser reconhecido como um dos mais inteligentes e cultos líderes do presbiterianismo, tendo sido escritor e diretor da Universidade Mackenzie, Boanerges Ribeiro chegou ao posto máximo de presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana.

O Brasil vivia o começo da ditadura decorrente do golpe de 1964.

Dentro da Igreja Presbiteriana e de seus seminários, expandia-se a ideologia do evangelho social. A intervenção de Boanerges Ribeiro foi forte, com o fechamento de seminários, a expulsão de pastores considerados esquerdistas e mesmo denúncias ao governo militar. 

Um dos pastores expulsos foi James Wright, filho de missionários estadunidenses no Paraná, conhecido por sua participação na missa em memória de Vladimir Herzog.

Não foram apenas os presbiterianos os apoiadores do golpe de 64, mas todas as denominações protestantes ou evangélicas. Tinha sido um rompimento com as próprias origens libertárias do protestantismo europeu. O protestantismo verde-amarelo nada tinha a ver com Lutero ou Calvino, atrelado que já estava ao conservador protestantismo estadunidense.

Nessa época, os protestantes não chegavam a 4 milhões em todo o Brasil. A Igreja Católica ainda era socialmente ativa, mas regrediu alguns anos mais tarde, abandonou a AP e os movimentos inspirados num evangelho social. 

Foi quando as denominações evangélicas estadunidenses mais conservadoras decidiram invadir o Brasil. Primeiramente com o movimento popular de cura divina e, logo a seguir, adaptando à teologia cristã a teoria de best-sellers americanos – como O Poder do Pensamento Positivo, de Norman Vincent Peale – para a ideologia do Evangelho da Prosperidade.

A visão capitalista do Evangelho da Prosperidade vem derrubando o tradicional catolicismo e conquistando fiéis seguidores, principalmente entre os brasileiros mais pobres – até 2050, deve haver mais evangélicos do que católicos no Brasil. Hoje, já são mais de 30%. 

As denominações protestantes tradicionais, inclusive os presbiterianos, não participam dessa expansão. Ela é exclusiva das chamadas igrejas evangélicas: Assembleia de DeusIgreja PentecostalCongregação Cristã e Igreja Universal estão entre as principais.

Até aí, essa expansão evangélica nada teria de reprovável. Poderia ser qualificada como um fenômeno de moda, se não fosse a decisão dos evangélicos de se reunir em termos políticos. Isso significou a eleição do atual presidente Bolsonaro e o aumento das bancadas evangélicas na Câmara, no Senado e, logo mais, nas câmaras municipais.

Deixando de lado as frases de Cristo, “o meu reino não é deste mundo” e “a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, os evangélicos querem hoje repetir, no Brasil, o que a Igreja Católica foi até o fim da Idade Média e o regime em vigor nos Estados teocráticos muçulmanos, como o Irã.

No Irã, que poderia estar entre os mais democrático dos países muçulmanos, existem dois poderes. O religioso é superior e controlador do poder político. Hoje, ao que parece, os evangélicos pretendem criar no Brasil, de alguma forma, a supremacia do poder evangélico sobre o poder político, incluindo a criação e a revogação de leis e a supremacia sobre o STF. 
A eleição de Bolsonaro foi conclusiva para os evangélicos. A partir do crescimento dessas igrejas, com seu evangelho de consumo e a inspiração capitalista baseada na prosperidade econômica, os evangélicos logo disporão de maioria no Parlamento e dominarão a vida política brasileira. 

Serão capazes de mudar nossos códigos Civil e Penal e de ditar a vida social brasileira, acabando, p. ex., com o Carnaval e os cultos de origem africana, mediante a instituição de um rigoroso governo teocrático. 

A ditadura de Deus será mais terrível ainda que a dos militares. (por Rui Martins, no Observatório da Imprensa)

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