O BREXIT VAI SAIR, MAS OS PROBLEMAS SÓ COMEÇARAM
Get the Brexit done (Concluam o Brexit!), slogan da campanha vitoriosa do primeiro-ministro Boris Johnson, expressa o motivo da vitória acachapante dos conservadores nas eleições parlamentares desta 5ª feira, 12.
O Brexit paralisou o Reino Unido nos últimos três anos. Desde a vitória no plebiscito de 2016, já se foram três primeiro-ministros e três eleições, com uma série de votações frustradas, tentativas de golpes e prorrogações de datas. Nada acontece entre os britânicos e o próprio dia-a-dia da população está travado devido à luta contínua no parlamento.
Por isto, não é preciso ser muito inteligente para adivinhar quão cansada a população está da lengalenga da saída da União Europeia e o quanto ela quer, de uma vez por todas, uma solução definitiva para o impasse.
Johnson é mais um filhote do neofascismo internacional, agindo até mesmo como uma espécie de cosplay de Trump. Foi um dos principais impulsionadores da campanha pelo Brexit à época do plebiscito e trabalhou arduamente para torpedear a antiga primeira-ministra Theresa May quando esta tentava encontrar uma saída menos traumática para o caos instalado.
Diante de um parlamento fraturado e cheio de oponentes do Brexit, Johnson manobrou até onde pôde, tentando até mesmo um golpe de Estado com o fechamento da casa legislativa.
Sem sucesso, o jeito foi apelar às eleições gerais, o que acabou obtendo o consentimento de seu principal oponente, Jeremy Corbyn, o qual também apostava em ampliar sua maioria na casa.
Corbyn, no entanto, acabou traído por suas próprias ambiguidades e vacilações. Comandando um partido tão fraturado quanto o próprio país, não foi capaz de firmar com clareza uma posição quanto ao Brexit sem, com isso, melindrar os sentimentos de algum apoiador importante.
Diante de um parlamento fraturado e cheio de oponentes do Brexit, Johnson manobrou até onde pôde, tentando até mesmo um golpe de Estado com o fechamento da casa legislativa.
Sem sucesso, o jeito foi apelar às eleições gerais, o que acabou obtendo o consentimento de seu principal oponente, Jeremy Corbyn, o qual também apostava em ampliar sua maioria na casa.
Corbyn, no entanto, acabou traído por suas próprias ambiguidades e vacilações. Comandando um partido tão fraturado quanto o próprio país, não foi capaz de firmar com clareza uma posição quanto ao Brexit sem, com isso, melindrar os sentimentos de algum apoiador importante.
Hitler também fracassou nesse intento |
Não podia se dizer a favor da saída, pois arriscaria perder apoio dos defensores da continuidade britânica na Europa Unida. Nem se posicionar a favor de uma permanência no bloco, pois isto o indisporia com aqueles simpatizantes do Brexit.
Enfim, ficou numa sinuca de bico e acabou adotando a pior opção de todas: tentando agradar a todo mundo, não agradou a ninguém e preferiu o muro, ignorando solenemente a questão durante a campanha.
Este foi o erro crucial de Corbyn e de seu partido. O tema fundamental do país, o tema que paralisa o reino há três anos, simplesmente foi escanteado.
Os trabalhistas acreditaram que poderiam falar de coisas mais palpáveis ao cotidiano da população, como a questão da saúde, da falta de segurança ou do transporte público. No entanto, a população sabe que nenhum destes temas poderá ser debatido enquanto não se der um fim definitivo à questão do Brexit.
Corbyn perdeu graças à ambiguidade em relação ao maior problema dos britânicos. Perdeu por não ter conseguido assumir lado. Perdeu por falta de radicalismo.
Corbyn perdeu graças à ambiguidade em relação ao maior problema dos britânicos. Perdeu por não ter conseguido assumir lado. Perdeu por falta de radicalismo.
Já o bufão Johnson se atentou bem ao que estava em jogo. Respaldado pelo fato de o Brexit ter sido vitorioso há pouco mais de três anos, não pestanejou em centrar toda sua artilharia num único ponto: a questão é completar o Brexit e sair de uma vez por todas da União Europeia.
Se os trabalhistas emudeceram sobre isto, os conservadores fincaram terreno desde o começo.
Se os trabalhistas emudeceram sobre isto, os conservadores fincaram terreno desde o começo.
Por óbvio, o programa econômico e social de Johnson para o pós-Brexit é devastador e poderá muito ser pior para os britânicos. Para quem se indignava em ser escravo de Bruxelas, muito mais intolerável será tornar-se escravo de Washington.
Sim, pois a elite britânica visou pôr fim à sua união com a Europa – na qual, aliás, nunca acreditou 100%, – porque esta impunha restrições ao avanço destrutivo sobre a classe trabalhadora e o meio ambiente.
Sim, pois a elite britânica visou pôr fim à sua união com a Europa – na qual, aliás, nunca acreditou 100%, – porque esta impunha restrições ao avanço destrutivo sobre a classe trabalhadora e o meio ambiente.
E não é que eles foram render-se ao Trump! |
Livre das regulações europeias, ela pode agora mirar os dólares de seus ex-súditos.
O fato de eventualmente se tornar um híbrido de México e Canadá não a intimida.
O problema, no entanto, é que o eleitor deu a Johnson a missão de fazer o Brexit. O que virá depois não consta no pacote e é aí que a porca torce o rabo.
Podemos estar assistindo ao fim definitivo do outrora imenso Império Britânico, o qual chegou a cobrir todo o planeta e agora arrisca-se a ficar circunscrito aos arredores de Londres.
Na Escócia e Irlanda do Norte o Brexit foi derrotado; ambas agora juram reivindicar suas independências em caso de saída definitiva da União Europeia. No plebiscito escocês, a independência perdeu por pouco e um dos argumentos contra ela era o fato do Reino Unido ser parte da União Européia...
O partido vencedor na Escócia é contra o Brexit e os norte-irlandeses foram os principais atravancadores das votações no parlamento.
Para completar, mesmo dentro do partido conservador o Brexit nunca foi unanimidade. Talvez Johnson não consiga tudo o que queira, no final das contas.
No entanto, se conseguir, o fim do impasse do Brexit será apenas o preâmbulo de uma longa novela, agora sobre o futuro social, econômico e político do que hoje conhecemos por Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. (por David Emanuel de Souza Coelho)
3 comentários:
Isso tudo faz parte da guerra comercial China-EUA.
O Reino Unido apoiou um pacto de investimento entre China e UE, e muitas empresas chinesas instalaram filiais no Reino Unido a fim de aproveitar o acesso sem tarifas ao mercado europeu em geral.
É claro que também o Reino Unido era um cavalo de troia dos EUA na UE.
A geopolítica mundial envolve necessariamente EUA-China-Rússia.
À Rússia interessa o enfraquecimento da OTAN com o Brexit...
Há também a guerra das moedas: dólar, euro e yuan.
De fato, é um xadrez geopolítico muito complicado e com muitas variáveis.
Enquanto isso, vamos vivendo o nosso mundinho bolsonárico e ignaro...
O que os ingleses podem esperar da oposição representada pelo Partido Trabalhista? O governo desse partido no passado traz toda desconfiança por traição ao povo.
O Partido Trabalhista foi "remodelado" por Tony Blair que,no poder, como primeiro-ministro trabalhista , continuou com a política econômica de Margaret Tatcher aprofundando a desigualdade social, desmantelando os serviços sociais, médicos, aposentadoria,etc.
Blair foi mais além, aliou a Inglaterra aos EUA nas infames guerras do imperialismo estadunidense: Guerra contra o Kosovo em 1999, contra o Afeganistão em 2002 e contra o Iraque em 2003.
Contra o Iraque, a mais infame de todas, tinha como motivo a falsa alegação de "armas de destruição em massa" possuídas por Saddam Hussein.
Blair, em audiência, em fevereiro de 2002, não convenceu nem o conservador papa João Paulou II das razões da guerra.
Num futuro não tão longínquo, a não ser por ser possuidora de armas nucelares, a Inglaterra terá menos relevância política, militar e estratégica do que a atual Turquia do antigo império otomano que durou bem mais que o império inglês.
Parece que a sina de partidos que fazem referências ao "trabalho" no seu nome é a de servirem à burguesia como forças auxiliares...
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