GREVE DE CAMINHONEIROS
E AGRONEGÓCIO INSATISFEITO AMEAÇAM BOLSONARO
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"Líder dos caminhoneiros autônomos, Marconi França anunciou que, à zero hora da próxima 2ª feira, dia 16, pelo menos 70% dos cerca de 4,5 milhões de profissionais autônomos e celetistas vão parar em todo o país." (Correio Braziliense).
"Seremos muito mais exigentes no trato com o governo. A bancada dá sustentação política e tem de ter o respeito que merece. Certamente, vamos subir o volume da nossa voz para exigir do governo decisões que defendemos" (deputado Alceu Moreira, presidente da frente parlamentar do agronegócio, também conhecida como a bancada do boi, em entrevista ao Estadão).
Essas notícias deveriam, mas não estão nas manchetes porque a ordem unida da imprensa agora é dizer que a economia desencalhou e o pior já passou, o Natal vai ser uma beleza.
As maiores ameaças ao governo, às vésperas de completar um ano, não vêm da oposição, mas de seus aliados de primeira hora, os 14% da população, segundo o Datafolha deste domingo, que formam o gado bolsonarista, núcleo duro da extrema-direita de raiz.
Fundamentais na sua eleição, caminhoneiros e ruralistas têm as mesmas queixas, uns acusando os outros de serem beneficiários do governo.
O que está em jogo é o preço do combustível e o valor do frete, fantasmas que já fizeram o país parar outras vezes.
“O governo não cumpriu nada do que prometeu. O preço do diesel teve 11 altas consecutivas, em 2019. Não aguentamos mais ser enganados pelo senhor Jair Messias Bolsonaro, que protege o agronegócio e diz que o caminhoneiro só sabe destruir rodovias”, acusou o líder dos caminhoneiros.
De outro lado, com 247 deputados e 40 senadores, a bancada ruralista é um dos paus da barraca do governo bolsonarista.
Alceu Moreira, que sucedeu Teresa Cristina, hoje ministra, na liderança da bancada, considera inaceitável a redução de recursos para o Ministério da Agricultura em 2020.
O impasse está criado. Se aumentar o valor do frete para evitar a greve dos caminhões, o governo desagrada a bancada do boi porque vão aumentar os custos do transporte.
Como a Petrobras e o ministro Paulo Guedes nem pensam em reduzir o preço dos combustíveis, o cobertor é curto para abrigar as demandas do gado bolsonarista.
Sem partido e sem articulação política no Congresso, Bolsonaro precisa dessas bancadas temáticas para se manter no poder.
Não pode contar só com os evangélicos da bancada da Bíblia, que já prometeram lhe entregar cinco milhões de assinaturas para legalizar a Aliança para o Brasil, em troca de apenas dois ministérios.
No troca-troca instalado pela nova política em Brasília, só quem sai perdendo é o baixo clero do eleitorado do capitão, com o aumento do preço dos alimentos, a começar pela carne.
Com apenas 30% de aprovação no novo levantamento do Datafolha e rejeitado por 38% dos brasileiros, Bolsonaro é o mais mal avaliado presidente eleito no primeiro ano de governo, empatado com Fernando Collor.
Alguns colunistas mais deslumbrados com o crescimento de 0,6% do PIB, na falta de um tucano competitivo, agora deram para achar que o governo é uma maravilha e a reeleição são favas contadas.
Vivemos num mundo de fantasia, que se desfaz quando vamos à feira (a inflação está sob controle…) e contamos quantos dias ainda faltam para acabar o mês, sempre antes do salário.
Metade do contingente de trabalhadores brasileiros já está na informalidade e não deve surpreender a ninguém que os maiores índices de aprovação de Bolsonaro estejam entre os homens brancos, mais ricos e moradores do Sul.
De abril a dezembro, na população em geral, o otimismo com o governo caiu de 59% para 43%.
Para 55%, a crise deve demorar para acabar e o Brasil não vai voltar a crescer tão cedo.
Toda pesquisa permite mil leituras, mas o índice que mais deveria preocupar o capitão-presidente é a sua falta de credibilidade: 80% dizem ao menos desconfiar de declarações de Bolsonaro.
Entre eles, encontram-se agora caminhoneiros e ruralistas – e aí está o perigo.
Só 19% ainda acreditam em tudo o que ele fala, depois de menos de um ano de governo.
É o que temos para hoje.
Vida que segue. (por Ricardo Kotscho)
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