domingo, 27 de outubro de 2019

QUERIDA, ESMERDEEI O BRASIL

jânio de freitas
SOZINHO E EMPESTEADO
A festa da direita está chegando ao fim. 

O mundo se vira para a direita veio a ser uma ideia que encobriu todo o planeta. E trouxe uma onda de voracidade material e prepotência antissocial projetadas como um ódio sem razão nem controle. 

Nada sugeria essa irrupção: os ricos continuavam se fazendo mais ricos, o fantasma do comunismo destruíra-se, as guerras eram o de sempre. 

Onde o desejo de menos injustiça social chegara ao poder, não houve um só caso de cobrança à riqueza particular por seu débito humanitário. 

No entanto, a onda veio, voraz e feroz, planejada por teorias econômicas forjadas (nos dois sentidos da palavra) onde maiores são a riqueza e seu poder.

O refluxo da onda diz respeito ao Brasil de modo particular. Com referências diretas e indiretas ao risco de contaminação, Bolsonaro mostra o mesmo medo disseminado no poder empresarial pelo levante do povo chileno. 

Bem de acordo com sua capacidade de compreensão, ao mesmo tempo ele ameaça isolar a Argentina se a direita lá perder a presidência. 

E faz dessa eleição o pretexto para retirar o Brasil do Mercosul —intenção, na verdade, já exposta como candidato e adequada a reiterado desejo de Trump. O isolamento que se prenuncia é, porém, o que Bolsonaro não percebe. 

No Chile, Sebastián Piñera, de centro-direita, se afasta do Brasil de Bolsonaro, forçado a abandonar suas políticas afinadas só com o capital, estopins da explosão agressiva que o surpreendeu. 

O plano de aproximar o Brasil mais de Uruguai e Paraguai, para isolar a Argentina, revela desinformação patética: neste domingo mesmo, os uruguaios devem eleger Daniel Martínez, definido como o oposto de Bolsonaro.

Na Bolívia, Evo Morales já bateu Carlos Mesa, este nostálgico da Presidência a que um dia renunciou, e deve derrotar a articulação internacional para impedi-lo de tomar posse. Negócios com o Brasil, sim; com Bolsonaro, nada. 

No Equador, Lenín Moreno, eleito pelo antecessor Rafael Correa, traiu-o depressa, traiu seus eleitores e entregou-se ao FMI, que, mais uma vez, provocou violenta revolta de massa. Lenín agora vai trair a si mesmo, para conter a revolta. 

Da Venezuela, nem se fale.

Na Europa que vale bom entendimento, a imagem do Brasil pode ser encontrada em certos latões nas calçadas da madrugada. 
Nos Estados Unidos, o amado dos Bolsonaros recebe a cada dia nova acusação, já em trâmite o processo de impeachment. Além disso, tem a disputa eleitoral a assoberbá-lo por antecipação, com a vantagem inicial dos democratas.

O Brasil em breve estará isolado por Bolsonaro. Na duvidosa companhia apenas de Peru, Colômbia e, olhe lá, Paraguai. 

O bom vizinho, conceito que o Brasil se deu com orgulho, está empesteado. 

(por Jânio de Freitas)

"Sentado num banco de parque/ Olhando as garotinhas com más intenções/ 
Catarro escorrendo de seu nariz/ Dedos engordurados ensebando
 suas roupas surradas/ Ei, Aqualung!"

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