quarta-feira, 23 de outubro de 2019

QUAL SERÁ A FAGULHA BRASILEIRA?

A revolta está no ar e nas telas, com protestos brotando como cogumelos pelo mundo...
Aprovado o confisco das aposentadorias dos trabalhadores: festa nos bunkers de banqueiros e financistas do Brasil. 

A aprovação em si não foi surpresa. A casa de bandidos chamada Congresso Nacional é movida na base do suborno. Aberto o cofre, o resto não passa de questão de tempo. A surpresa é a apatia social em torno desta aprovação. 

No tocante à oposição, a indiferença é explicada por acordos de bastidores em favor da libertação de Lula (falo mais disto noutro artigo).

Quanto ao povo, sua indiferença advém tanto de uma despolitização fruto de décadas de pregação à direita (via TV, rádios, jornais e igrejas) e à esquerda (graças a Lula e asseclas), quanto da desinformação pela qual a mídia também tem grande responsabilidade. E não podes ser omitidas a apatia generalizada e uma visível indiferença a mudanças pela via institucional. 
...mas o povo brasileiro assiste bovinamente à destruição boçal dos fundamentos da vida civilizada...
O povo brasileiro não acredita na política institucional. Prova disto é o constante crescimento dos votos nulos, brancos e de abstenções nas últimas décadas, além da baixa aprovação das instituições do Estado – atestada por pesquisas de institutos insuspeitos como Ibope e DataFolha –, afora ter eleito um imbecil que pregava contra o stablishment. Não se enganem, o povo elegeu Bolsonaro por acreditar que ele destruiria o sistema político brasileiro. 

Quantas lágrimas rolariam hoje no Brasil se um atirador entrasse no Congresso Nacional e promovesse um massacre de parlamentares, fazendo voar perucas e ternos? Nenhuma! 

Quanto choro haveria se o STF explodisse rumo aos céus? Zero! 

Sejamos realistas, o povo odeia seus ditos representantes e defensores dos seus direitos. Odeia seus juízes, seus governadores, seus prefeitos e representantes legislativos. O ódio no Brasil é tão profundo que se pode cortá-lo no ar. 
...pode, contudo, ser só a calmaria que antecede a tempestade...
Mas, não é apenas ódio ao sistema político. É também de classe. Menos claro, mas presente. O Brasil é um país tão desigual e massacrante que o vizinho com um padrão de vida um pouco melhor já é visto como sendo um burguês. 

O favelado odeia a classe média remediada, que por sua vez odeia o favelado incivilizado. Isto porque o abismo é imenso e basta ter uma renda mensal de meros 5 mil reais para alguém já ser considerado rico! Mesmo que tal rico esteja afogado em dívidas do cartão de crédito ou do consignado bancário. 

Tal golpe de vista também é fruto da despolitização. O trabalhador pobre não consegue enxergar de modo adequado seu verdadeiro inimigo de classe. Muitas vezes, acaba se solidarizando com ele. Odeia seu vizinho, que pode viajar para o Nordeste, mas fica entusiasmado com o dono da Havan, um dos maiores exploradores do país. 

Felizmente, na prática o povo acaba mostrando sua capacidade de identificação política. 2013 já mostrou isto: em meio ao tumulto, bancas de jornais acabavam pagando o pato da fúria do povo, mas também agências bancárias, lojas de veículos, lojas do varejo e hipermercados. Cada ônibus queimado nos quase diários protestos das periferias brasileiras é prova da consciência de classe do povo, que teima em surgir, apesar de tudo.

Hoje, a situação da população brasileira é muito pior do que era em 2013. A recessão econômica, incubada pela crise de 2008, mas largamente piorada pela burguesia brasileira para impor suas medidas draconianas, leva milhões de brasileiros ao desemprego, ao subemprego e à miséria. 
...e nada impede que ressurja aqui o que aqui nasceu...

Quem não trabalha, sobrevive no crime, na venda ambulante ou na mendigagem. 

A sorte não é melhor para quem trabalha, tendo de se submeter, muitas vezes, condições desumanas ou aceitar virar um empreendedor: entregador de comida, cruzando a cidade em cima de motos e bicicletas, ao longo de jornadas de doze horas e faturando pouco mais que o suficiente para sobreviver. 

O Estado brasileiro, por sua vez, resolveu abandonar por completo qualquer tentativa de mitigar o sofrimento dos infelizes. Até mesmo o neoliberal bolsa família passou a ter sua verba diminuída, em paulatino processo de extinção. 

A burguesia abraçou por completo sua natureza colonial e viverá de vender commodities, comprar manufaturados e enricar com jogatinas financeiras. Não quer mais produzir um só parafuso. 

Como consequência, milhões de pessoas são jogadas na desesperança. E, com a crescente automação técnica dos serviços, tudo tende a piorar no médio prazo, pois nem os precários empregos atuais estarão disponíveis no futuro. 

A consequência será terrível, pois milhões de desempregados, desalentados e desesperançados formarão uma massa poderosa de insatisfeitos, causando intensas tensões políticas. Nos aproximaremos do que já dizia Marx no século 19: "os trabalhadores não possuem nada a perder a não ser seus grilhões". 
...até porque a tarefa ficou inconclusa em 2013 e urge completá-la!
Neste contexto, a grande questão é: qual será o estopim da sublevação popular no Brasil? Em 2013, não foi exatamente a alta da passagem do transporte coletivo, mas a violência desmedida da PM contra os  manifestantes na Avenida Paulista que impulsionaram milhões às ruas. E agora, o que será?

No Equador e na França foram aumentos do combustível. Em Hong Kong, a tentativa de aprovar uma lei de extradição. No Chile, foi a majoração dos tíquetes do metrô. No Líbano, uma singela lei que buscava taxar conversas de WhatsApp. Em Honduras, fraudes eleitorais e no Haiti, novamente o encarecimento do preço do combustível. 

No entanto, tais foram as fagulhas, as causas são muito mais profundas, principalmente o fato de a economia estar degradada, com poucos faturando bilhões e muitos relegados a condições materiais cada vez piores. 
Então, como acontecerá no Brasil? Qual será nossa fagulha? 

Que a sublevação virá, é algo esperado até por Bolsonaro, pois ele colocou o exército em prontidão. A contagem regressiva está em curso. (por David Emanuel de Souza Coelho) 
"O 3º mundo vai explodir! Quem tiver sapato não sobra!"

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