domingo, 29 de setembro de 2019

VIRAMUNDO

O Facebook me envia a cobrança automática de novidades. Eu poderia simplesmente repetir estes versos de 1976 do Chico Buarque: "Aqui na terra 'tão jogando futebol / Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll / Uns dias chove, noutros dias bate sol / Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui 'tá preta".

O crescimento econômico se desacelerava e a fúria assassina da ditadura fora contida a partir do Caso Herzog. Entrávamos na fase do marasmo, a agonia lenta do regime que fôramos incapazes de derrubar, mas não sabia para onde ir nem tinha o que oferecer à sociedade. 

Agora também uns dias chove, noutros dias bate sol. O Bozo fez jus ao apelido de bufão e, parafraseando Shakespeare, a tempestade de som e fúria que antes da posse ele anunciava (e muitos dos nossos temeram) acabou sendo quase nada. 

Os fardados já deixaram bem claro que não respaldarão nenhuma tentativa de bisar 1964, enquanto o Senado, a Câmara e o STF emparedaram o (des)governo. 

A perspectiva é de que, ou amarguemos mais 39 meses de agonia lenta, ou os poderosos da economia deem um jeito de demitir o serviçal inepto que botaram na presidência.

Chego aos 69 anos (daqui a uma semana) com pique e lucidez para continuar por um bom tempo ainda lutando pelos ideais a que dediquei toda a minha vida adulta: liberdade e justiça social.

Mas, sem que me ofereçam opções para um engajamento político consistente, nem para voltar a atuar profissionalmente como jornalista. O blog continuará sendo minha trincheira enquanto outros caminhos não se abrirem. Desistir, jamais! 

E, por força principalmente de uma combinação de fogo amigo até 2016 e fogo inimigo desde então, a vida que construíra para minha velhice desmoronou e estou morando sozinho em quarto de uma hospedagem para professores e estudantes, na esquisita condição de vovô da turma.

Tenho o carinho de duas filhas que desabrocham a olhos vistos (a cada visita percebo mudanças) e muita determinação para trilhar até o fim a estrada que escolhi.

Como o viramundo de uma longínqua canção do Gilberto Gil, "prefiro ter toda a vida / a vida como inimiga / a ter na morte da vida / minha sorte decidida".

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