sexta-feira, 20 de setembro de 2019

O TERMOSTATO DO PLANETA JÁ ESTÁ NA POSIÇÃO "GRATINAR OS IDIOTAS", IRONIZA SAKAMOTO NUM ARTIGO DE ARREPIAR!

leonardo sakamoto
IRREVERSÍVEL, IMPACTO
DA MUDANÇA CLIMÁTICA
SERÁ DO TAMANHO DA NOSSA BURRICE
As mudanças climáticas em andamento na Terra são irreversíveis. 

Nas próximas décadas, teremos milhões de refugiados ambientais por conta da subida no nível dos oceanos e pelos eventos climáticos extremos; fome em grande escala devido à redução e desertificação de áreas de produção e à perda da capacidade pesqueira; aumento na quantidade de pessoas doentes e subnutridas, além de conflitos e guerras em busca de água e de terra para plantar. 

Muita gente vai morrer no Brasil e no mundo. E os sobreviventes terão que adaptar sua vida para conviver com um ambiente mais hostil. 

A mudança de nosso modelo de desenvolvimento em escala global não serve mais para evitar, mas mitigar impactos. Segundo a Organização Meteorológica Mundial, os 20 anos mais quentes, desde 1880, foram registrados nos últimos 22 anos. 

Tendo em vista o atual comportamento de governos, empresas e consumidores, alterações significativas em nossa economia baseada em carbono não devem ocorrer a tempo de nos encaixarmos nos prognósticos menos piores. 

Para limitar o aumento da temperatura global abaixo dos 2 graus Celsius até o final do século, conforme o que foi perseguido pelo Acordo de Paris sobre o clima, seria necessário zerar emissões de dióxido de carbono, com relação ao ano de 2010, nas próximas duas ou três décadas. 

Contudo, baseado nas promessas de redução de gases de efeito estufa dos países que assinaram o documento, o aumento de temperatura já seria de 3 graus em 2100. 

E tomadas como base as políticas atuais desses países, o aumento seria de 3,5 graus. 

O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas (IPCC) refez os cálculos e, agora, diz que 2 graus não são uma margem segura, sendo que a meta deveria ser de 1,5 grau Celsius em relação aos níveis pré-industriais.  

Detalhe, já estamos em 1 grau de aumento. Muito difícil, para não dizer impossível. No ritmo em que as coisas andam, é provável que a humanidade ultrapasse os 4 ou 5 graus de crescimento até o final deste século. E altere, em definitivo, sua própria existência. 

Qualquer alce que caiu em um buraco na Sibéria após o colapso do permafrost local ou qualquer urso polar deprimido por estar à deriva em uma placa de gelo que se soltou no Ártico ou ainda qualquer tamanduá-bandeira cercado pelas chamas de uma queimada descontrolada na Amazônia é capaz de dizer que, infelizmente, já ajustamos o termostato do planeta para a posição gratinar os idiotas. E que, neste momento, estamos nos esforçando apenas para que o assado fique pronto antes da hora. 

De acordo com o IPCC, com um limite de aumento de 2 graus Celsius, 37% da população global estará exposta a ondas de calor severas pelo menos uma vez a cada cinco anos; em um em cada dez anos, não haverá gelo no verão do Ártico; o nível do mar vai subir 0,46 metro até 2100; a pesca reduzirá a produção em 3 milhões de toneladas e a agricultura produzirá 7% a menos de trigo nos trópicos. 

A verdade é que, desculpe o trocadilho infame, mas já estamos fritos. O que não é novidade para muita gente que está se esfolando para alertar os demais sobre os impactos e buscar compromissos reais dos governos há anos. 

O otimismo mobilizador que os cientistas tendem a expressar em público contrasta com o realismo pessimista revelado quando estão entre quatro paredes. Isso se traduz na fala de dois diplomatas brasileiros e um europeu, por mim ouvidos, frustrados diante da dificuldade de mudar o modelo de desenvolvimento no curto prazo. 

Um quarto, norte-americano, lamenta o seu presidente, que acredita que mudança climática é uma conspiração da China – os dois países são os principais emissores de gases de efeito estufa. Todos lembram que mesmo que os compromissos internacionais sobre o clima deem certo, teremos um mundo mais quente e eventos climáticos extremos com os quais teremos que lidar. 

Ouvi também um representante das Nações Unidas que atua nessa área – que pediu para não ser identificado porque deu uma posição estritamente pessoal. Segundo ele, são importantes as manifestações ocorridas, nesta 6ª (20), ao redor do mundo, na Greve pelo Clima. Mas, proporcionalmente, ainda é muito pouco comparado com a tragédia que nos espreita logo à frente. 

Como fazer para que pessoas acreditem que o mundo está mudando sem que sintam isso na pele? Para ele, talvez o esperado investimento para a redução de emissões e a mudança no comportamento dos cidadãos, bem como o desenvolvimento de tecnologias mais baratas para sequestrar carbono da atmosfera virão quando houver pânico generalizado. 

O que ele falou não é novidade na história humana. O mundo, ainda em choque com os horrores da 2ª Guerra Mundial, proclamou, três anos após o fim do conflito, a Declaração Universal dos Direitos Humanos – o documento mais importante da raça humana. O Brasil, ainda olhando para as feridas de 21 anos de ditadura militar, promulgou, três anos depois, em 1988, uma Constituição Federal – que pode não ser perfeita, mas é a melhor garantia de direitos fundamentais que tivemos em toda nossa história. 

Infelizmente, é depois de andar pelo vale da sombra que estamos mais abertos para olhar o futuro e desejar que o sofrimento igual nunca mais se repita. Infelizmente, porque há inocentes (desde os que são muito novos ou que nem nasceram até os que sempre estiveram alijados do consumo por serem pobres demais) que não sócios da tragédia ambiental como o resto de nós. 

Temos que parar de falar em evitar mudanças climáticas e passarmos a tratar de reduzir a tragédia que já começou. O mundo precisa entender que já está no poço. Apenas não chegou ainda ao fundo. 

Se os países desenvolvidos, os mais poluidores, ampliarem sua ambição de cortes de emissões, menos pessoas vão morrer e o inferno da Terra será menor. O secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, fez um apelo aos países-membros de se comprometerem publicamente com mais do que já acordaram. 

Vale ficar de olho na cúpula do clima, em Nova York, na próxima 2ª (23), para ver se o chamado será atendido. Adianto que, considerando os grandes emissores, não deve haver muita novidade. 

Por que há uma pressão muito grande em todo o mundo sobre o Brasil apesar de sermos o sexto país que mais emite gases de efeito estufa? 

Caso fossemos capazes de seguir o caminho que prometemos trilhar e reduzir drasticamente o desmatamento e as queimadas na Amazônia, reduziríamos a aceleração do mundo na estrada da Perdição rumo ao Juízo Final. 

Ao invés de se aproveitar disso para ganhar dinheiro, afinal estamos prestando um serviço ambiental importantíssimo ao mantermos a floresta de pé, Bolsonaro preferiu afagar madeireiros, pecuaristas, garimpeiros e grileiros de terras, insinuando que não seriam punidos. 

Ou seja, para ele, se os países desenvolvidos poluíram o mundo por séculos, nós também temos esse direito. Esquecendo que, agora, não há mais condição de repetir aquele padrão porque o planeta não aguenta. Seguindo a toada atual, o Brasil não cumpre suas metas do Acordo de Paris. 

E desfilando nu, apenas coberto de glitter verde e amarelo, com uma bandeirola escrito soberania, sendo aplaudido por terraplanistas climáticos, o presidente vai passando (vergonha) pelo mundo. Pensa que o calorzinho que sente é orgulho, quando, na verdade, é concentração de gases de efeito estufa. 

Torço para os que afirmam que as mudanças climáticas são um exagero, como nosso chanceler Ernesto Araújo, tenham uma vida longa a fim de serem cobrados dos resultado de seus discursos e ações. E que possam senti-los na pele.

Não acreditem em quem fala que estamos em contagem regressiva: já adentramos uma nova era de extinção em massa de uma série de espécies. 

Talvez menos a nossa – ao final, os ricos comprarão sua segurança e herdarão a Terra, desta vez mais árida e violenta. 

O tempo que temos é para que o mundo não se torne um plágio barato de Mad Max – no qual líderes políticos e econômicos egoístas se sintam em casa. Tic, tac. Tic, tac. (por Leonardo Sakamoto)

9 comentários:

Anônimo disse...

Caro, CL

A preservação ambiental é uma boa causa.

Não obstante isso, alguém já viu o greenpeace et caterva lutar por saneamento básico ?

Sim, estender o saneamento básico a toda população do planeta já seria uma revolução verde...

https://g1.globo.com/economia/noticia/saneamento-melhora-mas-metade-dos-brasileiros-segue-sem-esgoto-no-pais.ghtml

Acredite, até os ambientalistas estão contaminados pela máquina/lógica capitalista: concentração de bens, serviços e riqueza ---->os pobres que se explodam...

Alessandro Alcântara disse...

Não é o Greanpeace que elege prefeitos, é o povo. E esse mesmo povo hoje acha que prioridade de prefeitos é censurar beijo gay, não estão nem aí pro próprio saneamento básico. Faço é rir desse ódio suicida, os tapados cavam a própria tumba, e como quem foi às ruas em 2013 reivindicando mais bem-estar mudou de idéia bem rápido.

Alessandro Alcântara disse...

Aqui na capital Manaus o calor já tava demais, agora tá surreal; nunca antes tinha ficado com uma dor de cabeça como fiquei neste sábado, a Clima Tempo comstatando recorde de temperatura que nem é tanto assim mas o abafado tá potencializando tudo. Tô achando bem-feito a capital do estado que mais votou no Bozo, ansiosos pra varrer LGBT do mapa, ser fritada (sim, perdi minha paciência com esse pessoal depois de 2018). É a insanidade eleitoral cobrando a conta.

celsolungaretti disse...

Anônimo das 12h06,

parece que vc não se deu conta da gravidade da situação. Falta de saneamento básico pode causar epidemias, matar muita gente, etc., mas as alterações climáticas apontam para a extinção da espécie humana.

E o pior de tudo é que medidas corretivas levarão um bom tempo para produzirem efeito. Mesmo que conseguíssemos impor mundialmente o fim das utilização dos combustíveis fósseis para o transporte individual, ainda pagaríamos durante anos por os estamos utilizando até hoje.

A questão é: quando grandes catástrofes fizerem a ficha cair para toda a humanidade, ainda haverá tempo hábil para salvar nossa espécie?

celsolungaretti disse...

Alessandro,

sua decepção me faz lembrar a minha em 1970.

Passava os dias arriscando-me a ser morto ou a sofrer terríveis torturas, vendo companheiros estimados tombarem, e bastou a situação econômica melhorar um tiquinho para a classe média deslumbrar-se com a ditadura.

E, se vc assistir ao "Terra em Transe", do Glauber Rocha, perceberá que uma grande discussão da esquerda em 1964 foi a de se a culpa por tudo aquilo era ou não do povo.

Eu ficaria no meio termo: o povo brasileiro precisaria ter a consistência de um povo para ser culpado ou não de alguma coisa. Nem isto ele tem. É rebanho que as manipulações da indústria cultural empurram para onde bem entenderem.

Anônimo disse...

Caro CL,

Desculpe-me, mas não engulo esse discurso colonizado da extinção da humanidade por uma catástrofe climática.

Isso porque o hemisfério norte não quer o desenvolvimento industrial e tecnológico do sul colonizado.

É mais fácil a humanidade se extinguir pela terceira guerra mundial.

Lembre-se do impacto de asteroides na Terra (equivalente a milhões de bombas atômicas) há 65 milhões de anos. Extinguiu os dinossauros e 75% das espécies no planeta, mas em decorrência disso estamos agora trocando mensagens...

celsolungaretti disse...

Anônimo das 1h09,

se todos os estudos científicos sérios apontam um avanço cada vez mais rápido rumo ao ponto de não-retorno, quando já não haverá como impedir catástrofes numa escala tal que a espécie humana dificilmente deixará de ser extinta em sua totalidade, é o cúmulo da insensatez ficar defendendo o "direito de poluir".

O hemisfério norte, aliás, está é se lixando para os países pobres. Antes, eles eram explorados. Agora, são só transtorno. Esse discurso da esquerda é jurássico e burro.

Um trailer do que está para vir foi quando tsunami provocado por maremoto de enorme magnitude inundou a usina nuclear de Fukushima em 2011 e a vida humana quase foi varrida do Japão.

Pense só em quantas usinas nucleares existem no mundo, prontinhas para servirem de estopim quando as alterações climáticas provocarem tsunamis, terremotos, furacões, etc.

E isto é só uma pequena parte do que nos espera. Haverá também desertificação, submersão de territórios no mar, destruição de nossas fontes de alimentos, etc., etc.

Quem tenta desmentir o que está evidenciado de forma gritante são exatamente os cientistas a soldo de crápulas do capitalismo, como os magnatas da indústria de combustíveis e dos fabricantes de veículos para transporte individual.

Anônimo disse...

Caro CL,

Lembro-me do saudoso Antonio Abujamra, para quem você já deu entrevista :

"Eu idolatro a dúvida"...

P.S.: Grato por manter este blog ativo, juntamente com os textos imprescindíveis do Dalton Rosado.

celsolungaretti disse...

Companheiro,

em agosto de 2008, quando resolvi criar meu blog próprio (o anterior, que continua ativo até hoje, servia apenas para postar os textos que eu escrevia para o site O "Rebate"), prometi que ele teria post novo todo dia.

Sou um sujeito formal: esforço-me ao máximo para cumprir todas as promessas que faço. Então, os raríssimos dias em que o "Náufrago" passou em branco foram aqueles nos quais os problemas técnicos nos tiraram do ar. Nem doenças me impediram de postar.

Hoje, chegando aos 69 anos, nem sempre tenho inspiração para escrever algo diferente todos os dias, mas os colaboradores me socorrem e eu também aproveito textos de terceiros, sempre escolhidos com critério.

Como dizia aquela ótima letra do Paulo César Pinheiro, o importante é que a nossa emoção sobreviva.

Abs!

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