domingo, 28 de julho de 2019

É INDISSOCIÁVEL A RELAÇÃO ENTRE O SIGILO DOS ATOS DO GOVERNO E A OPRESSÃO ESTATAL A SERVIÇO DO CAPITAL – 2

(continuação deste post)
EPISÓDIOS SOB BREVE ANÁLISE DA CRÍTICA SOCIAL: o não abastecimento do cargueiro iraniano
A política, eu já ressaltei noutros artigos, é submissa aos ditames do capital, que lhe dá ordens. E o episódio da retenção no porto brasileiro de um navio mercante de bandeira iraniana explicitou de modo bem compreensível esta questão, demonstrando, ao mesmo tempo, a contraditoriedade das relações econômicas quando colocadas em xeque por interesses político-econômicos circunstancialmente conflitantes. 

Comparativamente aos Estados Unidos, principal destinatário de nossas exportações,  o Irã não é tão importante para o Brasil economicamente falando, pois ocupa apenas o 23º lugar no ranking brasileiro de comércio exterior; de qualquer forma, para lá exportamos commodities importantes como soja, milho e carnes, perfazendo um total anual de cerca de US$ 2,2 bilhões. 

Assim, por interesses econômicos (mas, principalmente, para agradar gratuitamente ao presidente destrumpelhado), o patético congênere brasileiro se apressa em dar provas de sua submissão aos interesses estadunidenses. Afinal, ele quer porque quer presentear o filho com a sua nomeação para embaixador nos EUA, entre outras iniciativas de alinhamento ideológico gratuito e incondicional.  

Os interesses econômicos do Brasil com relação aos Estados Unidos não são de pequena monta; por outro lado, nossos interesses com relação ao Irã não são estrategicamente importantes, apesar de serem do interesse direto dos produtores dos produtos exportados, que a partir deles oferecem postos de trabalho num país com cerca de 13 milhões de desempregados.

Sobre o interesse econômico (que, neste caso, converge com o político) prevalece o interesse familiar, colocado à frente de qualquer outra ponderação. Portanto, há cerca de dois meses, obedientemente, mantemos estacionado no litoral brasileiro o cargueiro iraniano, por temor de represálias estadunidenses à Petrobras e também porque não se pode contrariar o big brother do norte, de quem se espera o agreement para que o Papai Noel desça pela chaminé em Washington e traga o presente para o filho 03 do presidente do Brasil.  

Como elemento complicador, vem o Supremo Tribunal Federal (que se imiscui na esfera administrativa) e, pela pela mão do seu presidente, o ministro Dias Toffoli, toma a decisão de liberar o abastecimento do navio iraniano, colocando a Petrobrás numa situação na qual qualquer decisão de atendimento à ordem judicial causará algum prejuízo às relações econômicas brasileiras. 

Se abastece o navio, a Petrobrás corre o risco de ser sofrer represálias estadunidenses; se não abastece, causa prejuízos à nossa já pouco representativa balança comercial internacional. Se correr o bicho pega; se ficar o bicho come.

Este é um exemplo elucidativo das contradições da guerra da concorrência mundial de um mercado cada vez mais recessivo e diminuto em termos de soma da massa global de valor produzido, o que mais uma vez demonstra a saturação do atual modelo de mediação social, tanto no seu conteúdo político (dependente da economia), como da própria economia em fim de festa.

O mundo tem de se livrar das relações político-econômicas internacionais e estabelecer relações transnacionais sob a égide das necessidades humanas de cada continente. 

Nunca priorizando interesses econômicos e políticos sigilosos e regionais, cujo escopo final é a segregação de grandes contingentes populacionais e de nações inteiras. (por Dalton Rosado) 

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