BOLSONARO LIDERA
REPÚBLICA DA IGNORÂNCIA
Há ministros que dizem besteiras sobre ciência e desenvolvimento por oportunismo ou má-fé, como Ricardo Salles (Meio Ambiente). Outros, por conveniência e farisaísmo, como Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia). Outros ainda, por pura ignorância, como Paulo Guedes (Economia).
Começando pelo último, o mais recente. Guedes, seguindo a liderança do presidente Jair Bolsonaro sentado a seu lado, deitou falação sobre a Amazônia num evento da Suframa. Deu um show de desconhecimento sobre a floresta.
Para bajular o capitão, pôs-se a discorrer sobre as riquezas materiais e biológicas da Amazônia, “que nenhum outro país tem”: minérios, gás e, principalmente, biodiversidade. E, claro, oxigênio.
Oxigênio?!
O superministro não prima pela clareza. Sua referência ao elemento químico imprescindível à vida se deu no contexto de um argumento sobre negociações comerciais com os Estados Unidos. O proverbial toma-lá-dá-cá: vocês deixam entrar o etanol, nós deixamos entrar o milho etc.
Aí ele disse que questionaria os negociadores americanos: “Vocês reconheceriam nosso direito de propriedade sobre o oxigênio?” —largou Guedes. “Nós produzimos oxigênio para o mundo.” Sugeriu que Manaus se tornasse a capital mundial de transações com oxigênio e carbono.
Não, ministro, não é nada disso. O senhor caiu no conto do pulmão verde do mundo, um equívoco pedestre. O erro indica que a pessoa faltou nas aulas ginasianas de botânica.
Árvores produzem oxigênio durante o dia. Empregam energia solar para fazer fotossíntese, ou seja, utilizam gás carbônico (CO2) do ar para sintetizar carboidratos, num processo que tem oxigênio (O2) como subproduto.
Durante o dia, note bem. À noite, as plantas respiram como nós: consomem oxigênio e expelem gás carbônico. Num sistema em equilíbrio, não há superávit de O2 para vender. Pulmão verde uma ova.
Ocorre que a floresta amazônica não se encontra em equilíbrio. Ela já perdeu uns 800 mil km2, 20% da área original, mais da metade disso só nas últimas três décadas.
Multiplicado esse número pelas 30 ou 40 mil toneladas de biomassa em cada quilômetro quadrado de mata, tem-se uma ideia de quanto CO2 o desmatamento lançou na atmosfera com a queima e a decomposição de toda essa matéria vegetal. O CO2 é um gás do efeito estufa, que agrava o aquecimento global e nos projetou na crise climática que o planeta enfrenta.
Marcos Pontes, por seu turno, não teve pudor de lançar hidrogênio na fogueira da reputação do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) iniciada por Bolsonaro.
Depois das ofensas do presidente contra o instituto, em lugar de defendê-lo, disse que vai convocar o diretor do Inpe para dar explicações sobre possíveis falhas na metodologia do monitoramento florestal.
Para um ex-astronauta, cujo feito não foi mais que uma viagem de turismo espacial, mais ainda um beneficiário do complexo espacial erguido sob as asas da Aeronáutica em São José dos Campos (CTA, ITA, Inpe, Embraer), é um acinte. Vale tudo para se manter no cargo.
De Ricardo Salles, Damares Alves, Abraham Weintraub e Osmar Terra é melhor nem falar.
Com Pontes e Guedes, formam o primeiro escalão zureta da República da Ignorância que Bolsonaro instaurou e lidera em Brasília, secundado por Huguinho, Zezinho e Luizinho.
(por Marcelo Leite, jornalista especializado em ciência
e ambiente)
e ambiente)
Um comentário:
Os únicos organismos que (ainda) produz oxigênio líquido, mais oxigênio do que precisa para sobreviver, são as algas. Com as mudanças climáticas e a consequente mudanças nas características físico-químicas das águas dos oceanos estes organismos, que são bastante sensíveis às quaisquer mudanças ambientais, são um dos primeiros a serem afetados. Aliado às altas emissões de CO2 e gás metano (NH4) pelos desmatamentos tropicais e combustíveis fósseis, o cenário para sobrevivência na Terra é bastante nebuloso.
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