quarta-feira, 12 de junho de 2019

MORO NÃO MORA MAIS AQUI. MUDOU-SE PARA O FUNDO DO POÇO.

josias de souza
MORO VIROU UM SUB-MORO EM MENOS DE 72 HORAS
Digamos que na noite de domingo Sergio Moro tivesse uma biografia impecável, estabilidade no emprego, um pacote anticrime, uma promessa de poltrona no Supremo e uma mulher chamada Rosângela. 

Decorridas menos de 72 horas, Moro precisa aproveitar o Dia dos Namorados para enviar rapidamente umas flores para Rosângela. Ela pode ser a única coisa que lhe resta. 

Há um novo Moro na praça. É menor do que aquele que existia antes da divulgação das mensagens tóxicas que trocou com Deltan Dallagnol quando era juiz. 

Sua biografia está sub judice. O cargo tornou-se instável. Em vez do pacote anticrime, prioriza objetivos mais urgentes: não cair e passar a impressão de que ainda comanda o próprio destino. Já não enxerga no seu horizonte encurtado o assento no Supremo, que estava previsto para o final de 2020.

A rotina do novo Moro tornou-se confusa. À noite, diz numa entrevista em Manaus que as mensagens vazadas não continham nada de anormal. Na manhã seguinte, atende à convocação de Bolsonaro para explicar as anormalidades. Informa que o encontro foi ótimo. 

À noite, liga a televisão para assistir ao noticiário e vê o presidente fugir de uma entrevista coletiva no instante em que uma repórter balbucia o nome radioativo: "Sergio Moro…" 

Dias atrás, Moro procurava parlamentares para pedir que mantivessem o Coaf na estrutura do seu ministério. Agora, é procurado por senadores que o aconselham a se oferecer para um interrogatório no Senado, sob pena de arrostar uma convocação. 

Como super-juiz, Moro era temido pelos encrencados na Lava Jato. Na pele de sub-ministro, socorre-se de um alvo da operação de Curitiba, o líder do governo Fernando Bezerra, para encaminhar a carta em que é apresentado ao Senado como um depoente hipoteticamente voluntário. 

Apinhado de culpados e cúmplices, o centrão guardava seu ódio no freezer. Agora, articula-se com a oposição petista. O grupo atrasa o relógio à espera de novos vazamentos. Equipa-se para despejar sobre a bancada de uma CPI todo o fel acumulado em cinco anos de Lava Jato.

Como magistrado, Moro não perdia oportunidade de se antecipar às manobras dos ministros anti-Lava Jato do Supremo. Com as mensagens privadas penduradas nas manchetes, tornou-se uma oportunidade que Gilmar Mendes aproveita. 

Sentado desde dezembro sobre a enésima arguição de suspeição da defesa de Lula contra Moro, Gilmar colocou o recurso para andar. Marcou-se o julgamento para o próximo dia 25. 

Antes da descoberta de sua parceria radioativa com os investigadores, Moro prevaleceu contra os advogados de Lula em todas as instâncias. Agora, seu futuro depende de uma combinação de hipóteses —das mais amplas até as mais específicas. 

Na melhor das hipóteses, seus desafetos dirão cobras e lagartos na fatídica sessão do Supremo. Mas a sentença do caso tríplex será mantida por apertada maioria. 

Na pior das hipóteses, a imagem de Moro —ou o que resta dela— será eletrocutada num curto-circuito provocado por novos vazamentos. E o Supremo anulará a condenação de Lula por vícios processuais. 

Uma novidade como essa deixaria o ex-juiz destroçado. E provocaria reações com três lados. 

De um lado, a esquerda soltando fogos. Do outro, a direita soltando fogo pelas narinas. E no terceiro lado, provavelmente, a Rosângela, torcendo para que o marido vire uma alternativa presidencial para 2022. (por Josias de Souza)
"Quem olhar pro fundo do poço / (...) Quem se olhar dos pés à 
cabeça vai ver / Que tudo é tão simples / Que tudo é tão claro"

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