terça-feira, 14 de maio de 2019

O PROTESTO DO DIA 15 TALVEZ SIRVA PARA DAR ALGUM RUMO À OPOSIÇÃO, QUANDO ELA VOLTAR DE VIAGEM...

Em Sampa, a manifestação começará às 14h no vão do Masp. Na semana passada vimos o trailer
vinicius torres freire
GREVE, O MIOLÃO DO CONGRESSO E TSUNAMI
Os professores fazem greve nacional contra a reforma da Previdência amanhã (4ª feira, 15), com manifestações no centro das principais cidades do país. O protesto terá pelo menos o apoio de estudantes, incitados pelas declarações ferozes do ministro da Educação.

Também pelo meio da semana, o governo deve tomar uma traulitada do parlamentarismo de improviso da Câmara, cortesia das lideranças do miolão. Trata-se do ajuntamento de dois terços dos deputados, uns 340 personagens à procura de um autor, bloco majoritário e maior que o velho centrão, nem governista nem oposicionista.

Mais ou menos sob a liderança de Rodrigo Maia, presidente da Casa, o miolão pretende ser um governo-sombra ou paralelo, que imponha limites a Jair Bolsonaro e invente uma pauta própria de projetos para si e até para o país.

Protestos e traulitadas talvez sejam o tsunami de que o presidente da República falava na 6ª feira (10). Pelo menos era o que causava nervosismo no Gabinete de Segurança Institucional.

Em abril de 2017, houve uma greve que praticamente enterrou a já então estertorante reforma da Previdência de Michel Temer. O Joesley Day de maio foi pá de cal na morta.

Era uma greve geral, no entanto. Além do mais, teve repercussão e adesão mais amplas do que o universo das centrais sindicais que convocaram o protesto e dos paredistas mais costumeiros (pessoal de transporte, servidores, bancários, petroleiros). P. ex., professores de escolas privadas aderiram; milhares de paróquias católicas faziam campanha contra a reforma. Para facilitar, o presidente era unanimidade nacional. Além da margem de erro, ninguém apoiava Temer.

Por enquanto, um terço dos eleitores acredita que Bolsonaro é bom ou ótimo. Por mais azedo que esteja o Congresso, não há projeto parlamentar organizado de enterrar a reforma previdenciária, ao contrário, apesar da baderna palerma do Planalto. A ideia é mais colocar uma corda no pescoço do governo do que decapitá-lo, ao menos por enquanto.

É possível que as lideranças do miolão arranquem mais um tanto do couro de Sergio Moro, votem uma lei de abuso de autoridade, aumentem o valor das emendas parlamentares ao Orçamento, limitem o poder presidencial de baixar medidas provisórias e aprovem outras pautas próprias, como é o plano registrado desde março nestas colunas. Mas não querem afogar o governo no tsunami.

Óbvio, o miolão é um partido da ordem, situacionista quando se trata dos poderes do país, um ônibus em que, de um lado do corredor, viajam os interesses das castas burocráticas, e, de outro, o das elites econômicas privadas. No miolão cabe quase tudo, menos o PT e o PSL.

Sim, Bolsonaro deve apanhar bem nesta semana. Há riscos, tanto que suas milícias virtuais também estão preocupadas e começam a difundir uma campanha contra o miolão do Congresso e o STF, além dos militares. Não há, porém, um movimento de cerco, que juntaria ruas e parlamentares.

Nem ainda há rua, nem os parlamentares estão nessa onda. A elite, o dinheiro grosso em particular, está um tanto desesperada em fazer com que algo dê certo (reforma da Previdência, trabalhista 2.0), que se evite uma recessão, que Bolsonaro valha parte do que custa.

Decerto, haverá pelo menos mais seis meses sem nenhum alívio econômico, clima seco propício para revoltas. O protesto do dia 15 talvez sirva para dar algum rumo à oposição, quando ela voltar de viagem. (por Vinicius Torres Freire)

5 comentários:

Anônimo disse...

Estou relendo matérias da Revista Civilização Brasileira e do o Correio da Manhã, de 64/65; tentando entender ~não só as diferenças ~ mas Como essas coisas estão se dando e se enredando. Os intelectuais que tivemos em 64 ~Enio Silveira, Florestan Fernandes, Nelson Werneck Sodre (um General) Marcio Moreira Alves, Paulo Francis, e tantos, tantos outros, publicando e conduzindo o pensamento, arriscando a integridade pessoal. Que intelctuais temos agora que tudo aquilo se repete? No governo havia Roberto Campos, tal como há Paulo Guedes, com o mesmo projeto de servidão. A bajulaçao de Carlos Lacerda aos americanos, hoje é feita pelo governo todo. Parece não haver presos políticos e tortura (quem sabe?) Mas , Marielle...Parece que a imprensa não cede carros para a repressão Será que não é questão de tempo? Não estou paranoico não! Você sabe o que nó vimos e passamos.
Enio Silveira escreveu em um editorial da Revista Encontros com a Civilização Brasileira em 1965:" No Brasil de hoje, os generais parecem fazer de tudo, menos ocupar-se primordial- mente de suas específicas tarefas profissionais, o que pode ser uma prova concreta da índole pacífica e conciliadora de nosso povo. Na ativa ou na reserva, sempre dão um jeito de se inserirem nos mais variados setores da vida civil: atuando direta ou indiretamente na política, opinando em matéria econômica, artística, técnica ou filosófica, exercendo altos cargos na administração pública ou privada, ostentam uma tal universalidade de conhecimentos e aptidões que, do cultivo de rabanetes ao comércio exterior, passando pelas superintendências de trânsito e pelos órgãos de com- bate à inflação, os generais estão em todas, e aí querem ficar."

celsolungaretti disse...

Companheiro,

uma diferença é que, naquele tempo, os intelectuais de esquerda tinham mais e melhores espaços, sem o abominável sectarismo atual.

É chato falar em causa própria, mas quantas vezes já acertei nas minhas previsões quando tantos famosos do jornalismo e da política erraram?

Uma parte desse trabalho a que você se refere eu poderia estar fazendo, se deixassem. Mas, as panelinhas de esquerda hoje são parecidas com as gafieiras de antigamente, quem está fora não entra e quem está dentro não sai (ou só sai morto).

De resto, o antientelectualismo do PT, que tratou a pontapés os ilustres que estavam do nosso lado, afugentou muita gente. São bem poucos os consagrados que hoje se dispõem a atuar com os partidos. Foi uma tremenda besteira estimularmos preconceito contra os formadores de opinião, deveríamos, isto sim, conquistá-los.

O Nelson Werneck Sodré era um general à moda antiga, que acreditava no Exército como a instituição na qual jovens de origem humilde poderiam alcançar sucesso e prestarem bons serviços ao povo. O Lamarca também me dizia que foi por isso que ele, filho de sapateiro, se engajou. Só caiu na real ao participar de uma missão da ONU no Canal de Suez. Aí começou a perceber a quais interesses as Forças Armadas realmente serviam. Ah, outro detalhe: o Werneck era ligado ao partidão...

Quanto a Roberto Campos e Paulo Guedes, o papel cumprido pode ser o mesmo, mas a distância intelectual entre ambos é estratosférica. O Guedes sempre pertenceu à segunda divisão dos economistas brasileiros, assim como o Joaquim Levy.

De resto, não adianta lamentarmos, temos é de ajudarmos as novas gerações a receberem o bastão e nos tirarem desta entalada. É para isto que eu irei no Masp amanhã.

Um forte abraço, companheiro!

Unknown disse...

Voces tão fazendo comparações desnesnecessarias. Deixemos o épico e vamos ao lirismo sejamos CONTEMPORRANEOS. A situação é outra o sofrimento e maior que a 4 décadas. A tortura não é fisica. Porém ela é real e abstrata.
Ha coerência nesta briga, temos certeza que não há governo digno de de confiança. Há intersse em uma ordem que srja para o.bem de muitos.

Ricardo Pires disse...

O sectarismo do PT deixou uma revista como Caros Amigos à míngua, sem nenhuma verba publicitária das estatais federais. Enquanto isso, na VEJA havia publicidade dos CORREIOS, BB, CEF E PETROBRAS até durante o processo de impeachment. Basta ir numa bilbioteca e ver os números da revista.

Lembro-me de uma das últimas entrevistas da Caros Amigos. Foi com o psiquiatra Tales Ab' Sáber, filho do grande geógrafo Azis Saber, onde o entrevistado disse : "quando o trabalhador vê o Lula levando uma caixa de isopor na praia durante suas férias da presidência ele [Lula] é o povo, mas ele é o capital".

Verdades como essa dita pelo psiquiatra eram venenos para o PT.

E assim o partido foi chutando os intelectuais, menosprezando juristas como Dalmo D'Abreu Dallari, Fabio Konder Comparato, que nunca foram consultados sobre nomeações para o STF.

No entanto,tristemente, muitos ainda esperam a volta de Dom Sebastião que está injustamente preso em Curitiba. É o bordão que se ouve. O que queriam? que fosse justamente?
Enquanto isso, o povo no desespero o PT marca seu Congresso para novembro depois de aprovada reforma da previdência. Isso eles não discutem, não fazem crítica.

celsolungaretti disse...

Ricardo,

você esqueceu o herói que derrotou o Esquadrão da Morte, Hélio Bicudo, um filiado que dava imenso prestígio ao partido.

Primeiramente, o partido anulou o veredicto da comissão de ética presidida pelo Bicudo, que apurou as acusações do Paulo de Tarso Venceslau contra o Roberto Teixeira, compadre do Lula. A comissão decidiu pela expulsão do Venceslau por vazar para a imprensa um assunto interno do partido e do Teixeira por ser corrupto e corruptor. Aí o Lula ameaçou abandonar o partido e a Executiva estadual expulsou apenas o Venceslau, desprestigiando o Bicudo.

Depois, como vice da Marta Suplicy, ele assumiu o mandato de prefeito de São Paulo enquanto ela disputava e perdia a eleição para governador(a). E, como não não era um inútil qualquer, resolveu ser prefeito de verdade enquanto estivesse no cargo.

Resultado: estava tendo um desempenho muito melhor que o dela, isto estava dando na vista, então o PT pressionou o Bicudo para que parasse de trabalhar de verdade. Foi a gota d'água. Pouco depois ele deixou o partido e, mais tarde, daria a credibilidade que faltava ao processo de impeachment da Dilma.

Quando enfrentava o Esquadrão, Bicudo só não sofreu atentados porque a ditadura sabia que ele tinha total apoio do jornal O Estado de S. Paulo e, como consequência, da Sociedade Interamericana de Imprensa. Seria uma notícia negativa que correria mundo, causando imenso dano à imagem do país e afastando investimentos. Então, os fardados fizeram saber ao Fleury que aquele alvo estava vetado, e ai de quem desobedecesse!

Mas, claro, o Bicudo nem sabia disto nem poderia acreditar piamente, ainda que soubesse. Mesmo assim, aceitou pagar qualquer preço para desbaratar aquele bando de assassinos formado no radiopatrulhamento da capital e depois assimilado pela repressão política.

O PT perdeu o Bicudo para conservar um Roberto Teixeira e uma Marta Suplicy. O que se pode esperar de um partido que faz tais opções, se não exatamente o que acabou acontecendo?

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