segunda-feira, 20 de maio de 2019

O MOVIMENTO EM TORNO DO CAPITÃO REGRIDE À CÉLULA-MÃE: PARANOIA, DESPREPARO E FANATISMO.

vinicius mota
DEMOCRACIA JÁ EMPAREDOU O AUTORITARISMO
As instituições democráticas, como previsto, estão vencendo. 

Elas rapidamente obrigaram o ingrediente autoritário que emergiu das eleições de outubro, misturado a interesses legítimos da sociedade, a se separar da maçaroca.

Em menos de cinco meses, o bolsonarismo vê-se isolado e depurado. 

Nenhuma organização relevante o apoia mais, nem sequer os principais rebentos da nova direita nascidos dos protestos de 2013.

Na burocracia federal, talvez apenas o nicho vingador de juízes, policiais e procuradores ainda resista na associação, mas as investigações no Rio contra o primogênito do clã deverão esgarçar depressa até mesmo essa solidariedade. 

Sob o sol, o movimento em torno do capitão regride à célula-mãe. Paranoia, despreparo e fanatismo.
Emparedada, a seita aposta numa manifestação no domingo (26), em que só lhe restará atiçar o golpismo. Contra o Supremo, contra o Congresso, contra o oficialato militar. Pregará no deserto.

Apesar da destruição econômica que a catarse acarreta, há um valor positivo em encararmos esse contraste radical —aquilo que não queremos ser. Isso promove o autoconhecimento e relativiza antinomias que outrora pareciam insolúveis.

Delineia-se, na reação ao Cérbero populista, o Partido Institucionalista. Lideranças e organizações que se esbofetearam nos últimos anos, como se combatessem o inimigo mortal, redescobrem sua filiação comum aos pactos fundamentais do civismo.

A face horrenda do monstro também favorece a autocrítica. O desejo de eliminar o adversário, a imoderação, a ojeriza à derrota política e econômica estiveram, como sempre estão, dentro de nós mesmos. 

Não foram domados e por isso produziram uma sequência de desgraças que nos deixaram mais pobres e rudes.

Jair Bolsonaro, reduzido a seu átomo original, talvez faça bem ao Brasil. Vai depender de como evoluirá o grande consenso que se esboça contra isso daí.
(por Vinicius Mota)

2 comentários:

Anônimo disse...

Depois de tanto tempo lendo textos tersos* sob sua editoria, é difícil aceitá-lo panfleteiro.
Mas, o blog é seu. O editor é você. E, decerto, vai censurar este comentário.
Desculpe aí, mas sua declarada indigência mexeu com seu tirocínio.
Se lhe restou algum, sabe que não foi o capitão quem provocou os problemas econômicos, ora vividos no país.
Sabe que a tal mobilização de estudantes foi feita com os professores dizendo que dariam pontos e considerariam "aula" para quem fosse a manifestação.
(A linda relação autoritária e despótica das salas de aulas e das sociedades governadas pela esquerda da qual o senhor faz parte.)
Sabe que a Nova Matriz Econômica é só uma maneira de dar dinheiro aos amigos do rei.
Que o crédito subsidiado pelos bancos públicos, a custa de uma dívida interna impagável foi a irresponsabilidade que deu origem à recessão que vivemos.
E tantos erros econômicos e políticos da esquerda que resultaram na acachapante derrota nas urnas para um candidato completamente despreparado para o cargo.
E, como sua sagacidade não deve estar de todo perdida (assim espero), sabe que, caindo Bolsonaro, quem governará serão os generais associados com os procuradores da república.
Se vai ser bom eu não sei, mas se obtiver alguma soberania para esta nação já estará de bom tamanho.
Um fato me parece certo é que a esquerda, e seu entorno, perderam e perderão cada vez mais força e representação.

*terso é um adjetivo da língua portuguesa que o corretor ortográfico não reconheceu.

celsolungaretti disse...

O que eu sei, com absoluta certeza e total convicção, é que não estamos diante de uma luta política e ideológica (como a que travavam petistas e tucanos, p. ex.), mas sim de uma luta entre a civilização e a barbárie.

E que, no atual cenário brasileiro, não existe ABSOLUTAMENTE NADA pior do que a horda bolsonaro-olavesca, pois se trata de um fascismo de becos e grotões: em termos políticos tenta fazer-nos retroceder aos piores tempos da ditadura militar, enquanto em termos sociais e culturais o retrocesso é ainda maior, de séculos, até a Idade Média.

Nada indica que os militares pretendam submeter os brasileiros aos rigores jacobinos dos procuradores da Lava-Jato, isto não passa de um chute de sua parte. A imagem que o Mourão (opção óbvia para a volta dos fardados ao poder) tem projetado, pelo contrário, é de abertura para o diálogo e busca da pacificação nacional, única saída imediata possível da recessão que nos fustiga desde 2015.

Quem, de forma velada (atacando os opositores, já que o governo Bolsonaro é simplesmente indefensável) apóia ISSO QUE ESTÁ AÍ AGORA, não tem nada a ver com um blog cuja missão é defender a liberdade, os direitos humanos, a justiça social e o exercício do pensamento crítico.

Por último: repudio a insinuação contida na expressão "DECLARADA indigência". Para alguém que está tendo um direito líquido e certo arbitrariamente escamoteado há 13 anos, que tem três decisões unânimes do STJ e uma do STF em seu favor até hoje não cumpridas e que viu sua família despedaçada como consequência desses abusos de poder da União, sendo agora obrigado a morar sozinho num quarto de hospedagem aos 68 anos, é chocante ver, ademais, um incógnito qualquer colocar sua palavra em dúvida.

É o que eu sempre disse a respeito das torturas: geralmente aqueles que nos criticavam por não sermos tão heróis como os modelos que tinham em mente, não aguentariam nem uns poucos dias do tratamento a que éramos submetidos durante meses a fio.

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