domingo, 26 de maio de 2019

ENQUANTO O GOVERNO TORNA O BRASIL UM PÁRIA NO MUNDO CIVILIZADO, NOSSOS ARTISTAS CONTINUAM ACLAMADOS LÁ FORA

rui martins
PRÊMIO CAMÕES E PRÊMIO EM CANNES SÃO DUAS CHAPULETADAS EM BOLSONARO
Todos sabem que presidente Bolsonaro tem cortado o apoio à Cultura no Brasil. Ele provavelmente deve achar que cultura não é importante, pois nunca lhe fez falta.

Assim, o Brasil estará condenado, caso esse presidente exerça seu cargo durante quatro anos, a perder sua projeção internacional nas diversas manifestações artísticas onde tem se sobressaído. Vai ser uma enorme marcha-à-ré que nos condenará à mediocridade.

Mas, por enquanto, não é. E talvez toda a pressão contra nossa cultura acabe provocando resultado inverso. Na 3ª feira (21), foi Chico Buarque quem ganhou o mais importante prêmio da literatura de língua portuguesa, o Prêmio Camões, concedido por Portugal e o conjunto dos países de língua portuguesa, por ser, além de compositor, escritor e dramaturgo. Uma enorme honra para todos nós brasileiros.

E não é só: em seguida veio a conquista pelo cinema brasileiro do prêmio do júri (com o filme Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles), no Festival Internacional de Cinema de Cannes, o mais importante festival de cinema do mundo. 
Chico Buarque, sempre vitorioso, apesar deles...

É outra bela resposta, para não dizer chapuletada, no presidente Bolsonaro, empenhado em cortar verbas e subvenções culturais a fim de provocar uma paralisação da nossa criação artística no teatro, cinema, dança e na literatura.

Hoje governado pelo que existe de mais atrasado, desatualizado, reacionário, chegando a ser motivo de chacota aqui na Europa, o Brasil culto, inteligente, atualizado, livre, laico, não racista, resiste a essa onda reacionária e retrógrada.

Me permito transcrever aqui as palavras de Mendonça Filho ao jornal parisiense Le Monde, quando perguntado pelo repórter sobre a situação cultural no Brasil:
"Ah, se você soubesse! Nunca eu teria pensado viver essa situação aos 50 anos. Estamos andando num terreno totalmente desconhecido. 
Rio de Janeiro, cidade que adoro, se tornou totalmente deprimente.  A maioria das pessoas fala no seu desejo de sair do Brasil. Existe uma grande tristeza. As pessoas andam de cabeça baixa, como nos anos 80".
"o presidente se refere aos artistas como drogados"
Kleber enfatizou, ainda, a pressão do governo sobre a cultura: 
"Tudo o que se relaciona com o mundo das ideias é ridicularizado, diminuído, destruído: as universidades, os festivais, os programas de ajuda sociais. Todo o dinheiro destinado à cultura foi cortado e os artistas são criminalizados. O presidente se refere aos artistas como drogados".
Talvez poucos saibam, mas quando Cannes selecionou o filme Bacurau, as autoridades brasileiras demoraram a oficializar a escolha, pois ela os incomodava. (por Rui Martins)

2 comentários:

Ricardo Pires disse...

Não assisti esse filme ainda e, portanto, a crítica que ora faço não é dirigida aos produtores do mesmo.

Segundo dados divulgados, trinta milhões de brasileiros portam problema auditivo.

A maioria dos filmes brasileiros são produzidos com grande parte de recursos vindo de incentivos fiscais. Nada contra; nos filmes colombianos, argentinos, bolivianos, os créditos das agências governamentais de apoio ao cinema aparecem na tela.

A maioria dos nossos atores veio da televisão ou a televisão fez escola, pois eles não falam, não articulam bem as palavras; simplesmente ciciam.

Mesmo em boas salas, com excelente sistema de som como o CINESESC, da rua Augusta, eu e muitos amigos que portam a deficiência auditiva [e os que não portam também] têm muita dificuldade em acompanhar um diálogo conforme o ator, devido a falta de formação, e mesmo esforço, exercício em aprimorar a comunicação oral.

Deviam mirar-se nos grandes vultos de nosso teatro e cinema tais como Paulo Autran, Walmor Chagas, José Wilker e outros de voz nítida e clara.

Depois de um relativo sucesso, o produtor, o diretor, dão "n" entrevistas.

Mostram uma comovente sensibilidade com os dramas que retrataram, mas não são questionados porque não reservaram uma parte dos recursos captados para legendarem o filme, ante esse terrível problema de surdez que afeta milhões de brasileiros.

Vai ser preciso que o grande pai, a grande teta mãe que é o Estado, que implicitamente, em suas obras cinematográficas denunciam, obrigá-los de que todo filme que for produzido com recursos captados mediante incentivos é obrigatório serem legendados.

celsolungaretti disse...

Ricardo, companheiro de sofrimento, tenho a impressão de que as legendas incomodariam aos que têm audição boa. Mas, nos cinemas com várias salas, talvez fosse possível exibi-los legendados numa delas ou em determinado(s) horário(s).

Há bom tempo não assisto mais a filmes nacionais por causa desse problema. Quando uma série particularmente me interessou, baixei-a e acrescentei legendas em espanhol que fui buscar num site dos hermanos. Funcionou.

Abs.

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