sábado, 16 de março de 2019

CRIME DE ÓDIO? NÃO! MARIELLE FOI EXECUTADA POR COLOCAR EM RISCO OS NEGÓCIOS E A SEGURANÇA DAS MILÍCIAS.

demétrio magnoli
CAUSA MORTIS
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Ela morreu porque era negra, homossexual, feminista e socialista. 

Um ano atrás, logo após o assassinato de Marielle Franco, incontáveis ativistas de esquerda atribuíram o crime a isso que a lei qualifica como motivo torpe

No dia da prisão dos suspeitos (12/3), a promotora Simone Sibílio, coordenadora do Gaeco, reproduziu a conclusão prévia: "os autos de investigação nos autorizam a imputar aos dois denunciados a motivação torpe, decorrente de uma repulsa à atuação política de Marielle na defesa de suas causas: minorias, mulheres negras, LGBT". 

No megafone dos ativistas, o diagnóstico reflete o impulso de direcionar os holofotes para suas convicções militantes. Já no microfone da promotora, denota incompetência —ou, pior, o desejo de encerrar as investigações sem elucidar a autoria intelectual da execução. 

O crime foi meticulosamente planejado. Os suspeitos não mantinham relações pessoais com a vítima. Um deles pertenceria a uma milícia de Rio das Pedras; o outro seria responsável por homicídios ligados à contravenção. Tudo indica que eles dispunham de um arsenal de fuzis de assalto M-16.

A tese do crime de ódio não combina com esse conjunto de circunstâncias. As causas das minorias, mulheres negras, LGBT contam com inúmeros destacados porta-vozes. Contudo, não há indícios de que os suspeitos buscavam a eliminação genérica deles. Por que precisamente Marielle, entre tantos?

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo na última 4ª feira (13), Mônica Benício, viúva de Marielle, faz referências ao racismo e à homofobia mas não inclui, em momento nenhum, a palavra milícias

Talvez sem perceber, seu texto assenta-se sobre a tese do crime de ódio. Contudo, simultaneamente,  noutra declaração ela afirma que "não basta prender mercenários" pois é preciso "saber quem mandou articular tudo isso e qual foi a motivação".

O problema é que, se estamos diante de um crime de ódio, a demanda não faz sentido. Nessa hipótese, os suspeitos não poderiam ser classificados como mercenários e suas recompensas transitariam exclusivamente na esfera psicológica. 

A viúva da vítima tem direito à confusão; a promotoria não tem. A promotora que, açodada, joga todas as fichas na motivação torpe está, conscientemente ou não, sabotando a investigação.

A indagação quem mandou articular tudo isso? inscreve-se na tese do crime político, que Simone parece disposta a afastar. 

Marielle, negra e homossexual (assim como Marcelo Freixo, branco e heterossexual) era uma liderança engajada na exposição das ligações das milícias com a polícia e com a política. A primeira foi executada; o segundo consta de listas semipúblicas de marcados para morrer das milícias. 

Sob a lógica do crime político, compreendem-se as características metódicas da execução e as motivações racionais que deflagraram a operação. Mas ela solicita perseguir respostas politicamente sensíveis.

Marielle foi executada pois colocava em risco os negócios e a segurança das milícias. Raul Jungmann, ex-ministro da Segurança Pública, partia desse princípio quando declarou, há quatro meses, que um complô impedia que viessem à tona os mandantes e executores do assassinato.  

Na ocasião, Jungmann atribuiu o complô a "interesses que envolvem agentes públicos, milícias, políticos". Simone, a promotora, tem evidências de que o ex-ministro assoprava um balão de denúncias vazias?

De um ex-ministro a um ministro, e do passado ao presente: Sergio Moro assegurou que a Polícia Federal "continuará contribuindo com todos os meios necessários para as investigações do crime e das tentativas de obstruí-las".

Disse, ainda, esperar que as prisões conduzam à "elucidação completa deste grave crime, para que todos os responsáveis sejam levados à Justiça".

complô, porém, segue ativo, agora agarrado à conveniente tese do crime de ódio. (por Demétrio Magnoli)

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