quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

DE HORA EM HORA, O GOVERNO PIORA: ALÉM DE DESASTRADO, É PÉ FRIO...

dalton rosado
ESTAMOS NUMA MARÉ BAIXA... 
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"O Estado brasileiro é o inimigo maior da sociedade, porque
ele existe pra isso. Ele é sistemático, ele é organizado,
ele é poderoso, ele é endinheirado, ele é armado,
ele faz de tudo que tem na mão para isso" 
(Ricardo Boechat, 1952-2019)
O novo (velho) governo do Brasil, em pouco mais de 40 dias, tem sido marcado por revezes de todos os lados. Estamos numa maré baixa...

Observa-se uma falta de sincronia entre os segmentos que formaram o governo, e não podia ser diferente. Os boçalminions, desde o começo, formam um bloco heterogêneo, cuja única unidade consiste numa confusa ideia de resgate de um nacionalismo patriótico e moralista diante da nossa debacle econômica. 

Debacle que levou a chamada classe média a um achatamento do poder aquisitivo, empurrando-a para níveis de pobreza próximos aos dos segmentos mais despossuídos da nossa sociedade. 

Assim, não foi exatamente um projeto político ideologicamente definido o fator determinante da recente vitória eleitoral de um candidato que abraçou bandeiras claramente conservadoras e historicamente retrógradas, mas sim o desejo de volta a um passado que, se nunca foi bom, era melhor do que o presente. Isto dimensiona bem a nossa tragédia social. 

Mas, tal colcha de retalhos politicamente heterogênea, de tendências díspares e contraditórias, não poderia  mesmo dar certo, uma vez que aglutinou em torno de si:

— pensamentos exotéricos tão alucinados quanto os do astrólogo Olavo de Carvalho;
— posturas fundamentalistas religiosas como as da ministra Damares;
— a salada de ideias inconciliáveis (feudais-nacionalistas-entreguistas) do sinistro ministro Ernesto Araújo; e
— oportunistas de partidos de aluguel como o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, presidente do laranjal, quer dizer, do PSL.

Não esquecendo a insólita influência exercida pelos príncipes deslumbrados, os irmãos parlamentares Flávio, Eduardo e Carlos Bolsonaro, sendo que este último já desmente publicamente o mesmo ministro Bebianno, sendo endossado pelo pais.
  
Mais: tudo isso é amalgamado pelo liberalismo econômico radical e retrô do ministro Paulo Guedes e, ainda, tutelado por militares de pijama que não se coadunam com o pensamento do generalato militar mais recente.

O resultado é uma sucessão de desencontros que deixa atônitos os seus esperançosos eleitores. Caso, p. ex., da destrambelhada participação brasileira no recente Fórum Econômico Mundial de Davos, quando os representantes do governo e seu próprio titular deixaram de comparecer diante de uma plateia ávida por ouvir possibilidade econômicas e identificar nichos promissores de mercado numa conjuntura economia mundialmente depressiva.

O presidente sinaliza numa direção e seu vice aparece frequentemente na imprensa dizendo o oposto.
Na campanha falou-se repetidamente em combate à corrupção (igualzinho ao que fez Collor de Mello com relação ao combate aos marajás) e se descobre mais furos nesse discurso do que numa tábua de pirulitos (ou num refinado queijo suíço servido em Davos à comitiva presidencial).

Parlamentares do PSL, partido do presidente, visitam sob pretexto inconsistente a China, numa viagem de turismo internacional às custas do Estado deficitário que tanto fala em apertar os cintos.

O combate ao crime organizado esbarra na descoberta de homenagens e ligações funcionais de figurões dos esquadrões da morte do Rio de Janeiro (hoje chamados eufemisticamente de milícias) com parlamentar da família presidencial.             

E uma correta investigação jornalística comprovou o desvio de recursos públicos destinados ao financiamento de candidatas mulheres do PSL para outras finalidades, numa repetição daquilo que os políticos costumam chamar de rachadinha.

E por falar nisto, onde está mesmo o Fabrício Queiroz? Parece que é mais difícil achá-lo do que ao Amarildo. 

Enquanto isso, o baixo nível do Senado Federal estarrece os brasileiros, com a eleição de seu presidente lembrando as comédias pastelão de outrora. O bate-boca  incluiu um você é ladrão disparado por Tasso Jereisssati, ao que Renan Calheiros retrucou: Mas você é um merdaFoi uma briga de foice no escuro, televisada e ao vivo, na qual não faltou sequer uma fraude eleitoral: 81 senadores da República votaram e 82 votos apareceram! 
O debate civilizado entre ladrões e merdas da República...

Querem mais ou vamos parar por aqui? 


Enquanto isso, na sala da justiça (como diria um desenho animado estadunidense), quer-se antecipar a aposentadoria por idade dos juízes do STF para possibilitar a troca de indesejáveis por desejáveis, num casuísmo político que demonstra estarmos nos igualando cada vez às Repúblicas das Bananas.  

E o festival de horrores não tem fim. Pior do que que tudo isso, e por uma trágica coincidência:
— a tragédia de Mariana (MG), pouco mais de três depois, se repete em escala ampliada com o rompimento da barragem da Vale S.A. em Brumadinho (MG), com 166 mortes confirmadas e grave agressão ao meio ambiente; 
— repetem-se também as tradicionais mortes por desabamento de barreiras provocadas por chuvas torrenciais no Rio de Janeiro; e
— morrem promissores jovens atletas do Flamengo, vitimados por incêndio num alojamento que mais parecia uma armadilha mortífera.  

A pauta política se resume ao discurso que defende a aceitação da restrição de direitos previdenciários como forma de salvar-se a Previdência de uma iminente, mas que não foi provocada por quem contribuiu ou contribui para o sistema. O que a está levando à falência é a lógica capitalista liberal, que sacrifica a tudo e a todos no altar da manutenção da lógica totalitária do mercado em fim de feira

Como se tudo isso não bastasse, perdemos uma artista insubstituível como Bibi Ferreira e um jornalista do gabarito de Ricardo Boechat. 

Nas disputas esportivas, nosso futebol sub-20 acaba de ter participação desastrosa no campeonato sul-americano; e da Copa Libertadores de Voleibol de clubes também saímos com as mãos abanando. 

Definitivamente, esse governo, além de desastrado, é pé frio... (por Dalton Rosado) 

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