domingo, 27 de janeiro de 2019

O INSTANTE É PROPÍCIO PARA REVERMOS O PREMONITÓRIO 'SOB O DOMÍNIO DO MEDO'

São tantos  os brasileiros que estão sob o domínio do medo nos dias atuais (afora os que não estão mais aqui, por já terem dado no pé...), que avaliei ser um momento bem oportuno para repostar o filme de Sam Peckinpah que recebeu tal título em nosso país.

Lançado em 1971, é uma obra das mais impactantes, dirigida com a maestria habitual por Peckinpah, o poeta da violência

Mas, se o enredo for tomado como uma parábola sobre o mundo moderno, a coisa pega. Houve quem o considerasse fascistoide, mesma prevenção que existiu contra outras duas fitas marcantes do período, Perseguidor implacável (d. Don Siegel, 1971) e Desejo de matar (d. Michael Winner, 1974).

As decisões dos personagens principais das três fitas fazem sentido à luz dos seus dramas específicos, mas parecem servir como pretexto para uma apologia da volta à lei das selvas. Cabe a cada espectador decidir se os encara como episódios isolados ou como receita genérica para a sociedade, na linha dos ignaros de hoje em dia.
Susan George estuprada: tensão vai num crescendo até explodir

Matemático estadunidense (Dustin Hoffman) vai com sua esposa (a sensual Susan George) para o vilarejo de origem dela na Inglaterra rural, onde espera escrever um livro em paz. Mas, os aldeãos tomam sua sofisticação por fraqueza e o provocam continuamente, até que ele explode e desencadeia uma espiral de violência.

O caldo entorna quando, após atropelá-lo sem o ferir gravemente,  socorre um deficiente mental (David Warner). Ignora, contudo, que um clã truculento está à caça do sujeito, pois acredita tratar-se de um pedófilo assassino. 

É quando o matemático se enche de brios e, como um castelão medieval, recusa-se a entregar aquele a quem acolheu. Mais: decide defender a sua fortaleza seguindo à risca o figurino da idade das trevas, ou seja, mostrando-se tão brutal quanto os sitiantes. 

Os menos simplistas viram o filme sob outro aspecto: o de que estaríamos regredindo à Idade Média, a ponto de sermos obrigados a trancar-nos em nossos edifícios seguros e condomínios fechados, enquanto a miséria grassa ao redor e os miseráveis nos acossam. 

Então, não se trataria de uma ode à barbárie, mas sim de um alerta contra ela, na forma de uma exacerbação dos horrores que a escalada da desigualdade estaria engendrando.
Forças desiguais: seis ferrabrases contra um matemático

Mas, existe um aspecto que me parece mais lincado com este momento: o de que mesmo um indivíduo franzino e pacífico pode, em determinadas circunstâncias, travar uma batalha pessoal contra ferrabrases e vencê-los. Isto, claro, desde que não fuja do desafio.

Pois, como ensinou o Geraldo Vandré dos bons tempos, "quem afrouxa na saída / ou se entrega na chegada / não perde nenhuma guerra / mas também não ganha nada".

Por último: fujam do remake de 2011, é um caça-niqueis irrelevante.

Um comentário:

Anônimo disse...

Boa noite Celso, aqui é o Hebert.

Parabéns, pela ótima dica de entretenimento,
como sempre.

Este em particular, é daqueles filmes que
ouvi os anúncios ( seja nos bons tempos do
Super cine, ou Domingo maior ), mas nunca
parei para assistir, apesar do diretor.

Vale a pena ver, no final de minhas férias.

Mudando de assunto, eu tenho uma dúvida:

O que você tem achado das decisões do
pt, com relação sua participação junto ao
atual governo?

Considerando que a presença da oposição,
seja a característica de qualquer democracia,
e que o poder deva ser fiscalizado de perto,
creio eu que a preocupação com assuntos externos,
juntando com ao não comparecimento, na posse
do atual presidente, um equívoco.

Gostaria de saber também, se o pt continua
sendo o carro chefe, das esquerdas, ou se
existe a possibilidade, de uma nova frente
partidária.

Forte abraço, e ótima semana.

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