sexta-feira, 19 de outubro de 2018

OS MOTIVOS DAS GUINADAS ABRUPTAS À DIREITA NA POLÍTICA MUNDIAL

Não é novidade o fato de que em momentos de crise econômica aguda surjam movimentos abruptos à direita. A análise que se pode fazer sobre tais movimentos é que eles consistem numa busca desesperada de soluções sem maior reflexão por parte da população economicamente exaurida. 

É nesse contexto que surgem mais facilmente os salvadores da pátria com seus discursos simplistas de soluções aparentemente práticas para problemas complexos.

O exemplo histórico mais emblemático é o surgimento do Partido Nazista, que levou o povo alemão a uma histeria supremacista a partir de 1923, quando a inflação alemã estava de tal modo acentuada que o marco alemão nada valia e toda a economia do país se deteriorava, deixando o povo perplexo.

Hitler apareceu como o homem forte capaz de resgatar o orgulho alemão ferido de morte na 1ª Guerra Mundial e capaz de recuperar a economia como um outsider de espírito militarista disciplinador.

A economia alemã, na esteira da recuperação mundial depois da crise de 1929/1930, caiu como uma luva para aquele que parecia ser capaz de reconduzi-la ao patamar que os germânicos consideravam ser o seu lugar numa Europa que lhes impunha sacrifícios enormes desde a derrota militar.

O resultado do endeusamento dos princípios militaristas dos nazistas, fixados no respeito à disciplina e ao trabalho abstrato produtor de valor (nos campos de concentração nazistas se lia a frase O trabalho liberta) atingiram seu clímax com concentração de poderes em Hitler, cujo despotismo incubado acabou logrando a legitimação pelo voto. Era a democracia burguesa a serviço da tirania.
De início, salvador da pátria; depois, seu destruidor

Os valores humanistas passaram a ser sistematicamente desmoralizados pela propaganda de massas surgida a partir de um novíssimo instrumento de comunicação de então – a radiofonia. 

Assim, os métodos nazistas de imposição da força passaram a ser absorvidos pela consciência alemã como resultante natural de um sentimento supremacista diuturnamente introjetado nas consciências dos cidadãos alemães pelo maciço proselitismo do seu ministro da Propaganda Joseph Goebbels. 

Tudo se processou num espaço de apenas 20 anos; uma consequência foi o maior genocídio já sofrido pela humanidade, com aproximadamente 50 milhões de mortos e atrocidades tão terríveis contra a vida humana que antes tidas como impossíveis de acontecer. Os relatos sobre os crimes de guerra nazistas não têm precedentes em crueldade. 

Qualquer semelhança de 1939/1940 com a realidade político-econômica mundial de 2018 não é mera coincidência, mas sim a repetição histórica de um quadro de depressão que, com a potencialidade genocida atual (população maior, economia globalizada e artefatos militares nucleares de destruição), prenuncia-se como muito mais grave.

Candidatos que se propõem a resolver complexos problemas sócio-econômicos (cuja base reside no choque entre forma e conteúdo do modo de produção social que encontrou o seu limite existencial) a partir de bravatas simplistas que buscam na causa do mal a solução para o mal, infelizmente calam fundo na inconsciência popular pauperizada e desesperada pelo desemprego e subemprego –tendente, portanto, a acolher tal discurso ilusionista, pois este vai ao encontro dos seus anseios mais imediatos. 
"Maior genocídio já sofrido pela humanidade"

A massificação da informação imediata pela internet, ao vivo e a cores, com abrangência imensamente maior do que a do rádio da época hitlerista, é agora otimizada por mecanismos de análise mercadológicos (a análise da emoção como base da indução ao comportamento), podendo ser tão perigosa quanto foi durante o período que vai da ascensão de Hitler ao poder até o seu suicídio.

O fenômeno do surgimento de novos salvadores da pátria é mundial porque a crise do capitalismo é mundial e não são difundidas alternativas consistentes e modernas a esse modo de mediação social.   

Mesmo os Estados Unidos, tido como exemplo a ser seguido economicamente por seus elevados PIB e  níveis de empregabilidade, não resiste a uma análise mais acurada e fria da sua realidade: a insustentabilidade de longo prazo fica bem evidente. 

Segundo o secretário do Tesouro Steven Mnuchin o déficit do orçamento fiscal estadunidense cresceu 17% em 2017, atingindo a cifra de US$ 799 bilhões e a dívida pública americana bateu recorde totalizando US$ 20 trilhões, para um PIB anual de USS 19,3 trilhões.

Como os EUA conseguem conviver com tais números sem grandes traumas na sua economia? Com a credibilidade do seu dólar, moeda internacional por todos aceita, que assim pode ser emitida sem lastro e exportada sem causar inflação interna; e com a venda de títulos a juros substancialmente baixos.

Tal mecanismo, artificial por excelência, não perdurará indefinidamente. 
Será iminente outra grande crise?

Já a China, segunda economia mundial em termos absolutos, recebeu em agosto passado um comentário do FMI, que considerou perigoso o seu alto nível de endividamento, de 235% do PIB com projeção de crescimento para 290% até 2022. O FMI alertou que isto poderá eventualmente provocar uma desaceleração acentuada do PIB anual de 6,7%, o que seria desastroso para a economia mundial já combalida. 

A nossa rica e vizinha Argentina, com o governo de centro-direita de Maurício Macri, vive um processo de deterioração econômica, com inflação de 40% ao ano, tendo já batido às portas do FMI para pedir empréstimos salvadores. Na América latina o quadro é de depressão, como, aliás, em toda periferia mundial do capitalismo. 

Nesse cenário depressivo em âmbito mundial ocorre uma fuga para a frente, ou seja, a ilusão de que a melhora do quadro seja possível com medidas político-econômicas de austeridade, além da redução de franquias democráticas e de vários direitos, um pacote somente passível de ser implementado por políticos que se dizem avessos ao que até então vinha sendo praticado (os outsiders). Sonha-se com a recomposição do antigo status quo, ora em rota de deterioração crescente. 

A falta de conhecimento teórico por parte da população sobre as causas do seu infortúnio abre caminho para o acolhimento de bravatas eleitorais simplistas estimuladas por uma propaganda ágil, que, embora falsa, atinge o cerne dos anseios populares.

Deveria se constituir como crime eleitoral (tal como ocorre na venda de mercadorias) a propaganda enganosa de políticos com viés totalitários que mais não são de que a defesa do velho travestido de novo.  
Tudo isso já foi falado ou tentado, nada vingou
O quadro brasileiro da economia imporá medidas de austeridade como forma de recuperação do orçamento fiscal num cenário de depressão econômica renitente, num país com moeda sem credibilidade internacional; o candidato Boçalnaro, o ignaro apresenta-se como o personagem talhado para tal papel, o de reprimir violentamente qualquer manifestação de insatisfação popular que venha a ocorrer.                   

Os eleitores ricos sabem muito bem por que apoiam Boçalnaro, o ignaro; os pobres são induzidos a acreditar na sua cantilena de que, com murros na mesa, resolverá problemas para os quais ele verdadeiramente não tem solução. Tudo dentro do melhor figurino de estelionato eleitoral. 

A nós cabe resistir a tais evoluções hoje, amanhã e a partir de 2019. (por Dalton Rosado)

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