dalton rosado
BOLSONARO É A CRIA (PERIGOSA) DA
DECADÊNCIA SISTÊMICA
A barbárie não é boa conselheira. Em nenhum lugar do mundo onde grassa a miséria se obteve a redenção por meio do processo eleitoral; isto acontece porque tal processo sempre foi dominado pelo poder econômico, o qual, num ambiente de pobreza crescente, concentração de riqueza e desigualdade social se torna ainda mais poderoso.
Trata-se de um cenário em que a chamada classe média, temerosa da perda dos seus recursos e privilégios, se apega conscientemente ao conservadorismo, enquanto os empobrecidos e miserabilizados são alvos fáceis de todo tipo de manipulação.
É chocante vermos um Donald Trump, ainda hoje, referir-se com tamanha insensibilidade à multidão de latinos centro-americanos (homens, mulheres e crianças) caminhando a pé em busca da meca do capitalismo:
"Os Estados Unidos trabalharam bem. Os outros trabalharam mal e agora querem ameaçar a nossa prosperidade. Mas, vamos contê-los na fronteira e impor restrições econômicas aos seus países".
Os algozes costumam atribuir às suas vítimas a culpa pelo mal que se lhes impõem. Trump é a imagem acabada da visão supremacista de mundo que considera que:
—os ricos assim o são independentemente da existência dos pobres; e
— que são seus méritos pessoais que os tornam ricos e não inúmeros mecanismos político-econômicos-financeiros cuja base primária e funcional é a extração de mais-valia pelo trabalho abstrato em fase de obsolescência (a contradição explícita). Toda riqueza abstrata é trabalho abstrato acumulado e apropriado indebitamente.
Boçalnaro, o ignaro é a imagem terceiro-mundista do fanfarrão estadunidense, mais o sentimento militarista disciplinador de Adolf Hitler; e é justamente por isso que não hesita em antecipar (a partir de uma postura ditatorial aberta e anunciada sem pejo) sua intenção de revogar as franquias democráticas ainda existentes numa sociedade essencialmente injusta como a nossa.
Qualquer pessoa que conserve um sentimento mínimo de solidariedade humana fica estarrecida ao constatar a aceitação do discurso do ódio e do arbítrio por parte de brasileiros inconscientes de si mesmos e que, justamente por isto, tornam-se presas fáceis de uma manipulação grosseira mediante mentiras descaradas e bravatas inconsistentes.
Dize-me com quem andas e te direi quem és. Quem são as companhias visíveis e invisíveis de Boçalnaro, o ignaro?
As visíveis são seus filhos que empilham mandatos como pretendentes a uma dinastia política. Eles agora se danam a dizer sandices que logo depois têm de ser desmentidas por eles mesmos, ainda que as imagens e falas gravadas comprovem o seu verdadeiro conteúdo imbecilizado.
Dize-me com quem andas e te direi quem és. Quem são as companhias visíveis e invisíveis de Boçalnaro, o ignaro?
Pretenso outsider, ele já passou por 8 partidos, inclusive os de Paulo Maluf e Roberto Jefferson |
Outros ainda visíveis são militares de altas patentes reformados, que sentem o vazio em suas vidas a partir da troca da farda pelos pijamas e querem recuperar o poder pela via da força.
Outros mais, seus colegas de profissão, são políticos que representam a escória da vida pública brasileira, sempre ávidos em exercerem o seu fisiologismo aderindo às medidas impopulares, desde que lhes sejam politicamente vantajosas. São aqueles que não mudam nunca porque estão sempre a favor dos governos, quaisquer que seja o partido no poder.
Mas, há também os apoiadores invisíveis. São banqueiros, grandes empresários insensíveis da indústria, do comércio e do agronegócio, segregacionistas por excelência, mas encarados por muitos ingênuos explorados como os empregadores capazes salvá-los da fome e da penúria (não percebendo que suas riquezas advêm justamente do valor do trabalho subtraído e acumulado pelo capital).
Mas, há também os apoiadores invisíveis. São banqueiros, grandes empresários insensíveis da indústria, do comércio e do agronegócio, segregacionistas por excelência, mas encarados por muitos ingênuos explorados como os empregadores capazes salvá-los da fome e da penúria (não percebendo que suas riquezas advêm justamente do valor do trabalho subtraído e acumulado pelo capital).
Quão triste é vermos a negação de valores humanistas serem apologeticamente alardeados como medidas virtuosas!
Quão desalentador é presenciarmos alguém que faz questão de identificar-se com um torturador e assassino de presos indefesos (um criminoso vil e hediondo como o coronel Brilhante Ustra!), ser incensado impunemente como defensor da sociedade!
Quão desalentador é presenciarmos alguém que faz questão de identificar-se com um torturador e assassino de presos indefesos (um criminoso vil e hediondo como o coronel Brilhante Ustra!), ser incensado impunemente como defensor da sociedade!
Um pretenso fim virtuoso justificará a incidência em práticas aviltantes da dignidade humana? Não, nunca! A perversidade é sempre o caminho para atitudes monstruosas, deve ser combatida logo no seu nascedouro.
Como não nos indignarmos quando eleitoras manifestam a intenção de votar em alguém que, do púlpito do parlamento, sob a forma de piada de mau gosto, afirma que mulheres feias e desprovidas de atração sensual não merecem ser por ele estupradas?!
Como admitir-se que um candidato a presidente manifeste a intenção de prender e mandar para o exílio seus opositores? Será que ele só consegue conviver com quem lhe diga amém, independentemente de pregar ilegalidades?
Como admitir alguém cujo vice-candidato à Presidência um é um general capaz de afirmar publicamente que índios e negros (base auspiciosa da nossa miscigenação) se constituem como sub-raças culpadas pelos nossos infortúnios históricos?
Como admitir-se alguém que exerce mandatos políticos há três décadas e levou seus filhos para o mesmo caminho, tendo assim conseguido para sua família um padrão de vida muito superior à grande maioria dos brasileiros, fingir-se agora de inconformado com as mazelas dos políticos profissionais, como se fosse um outsider pronto para chutar o pau da barraca sob a qual se abrigou até hoje (e de inverter as regras constitucionais às quais prestará juramento caso eleito)?
O povo brasileiro já está sofrido demais para aceitar calado as imposições que o capitalismo em fim de feira faz aos países por ele tratados como secundários e periféricos, que são por ele explorados mas não podem ser por ele atendidos.
Definitivamente não somos uma república de bananas e, caso você seja eleito, tome posse e consiga governar, a nossa população de mais de 200 milhões de habitantes decerto lhe mostrará com quantos paus se faz uma jangada (para utilizar uma expressão cearense).
Se a barbárie sob a qual vivemos pode induzir o povo, desesperado em sua maioria, a um desvaio eleitoral, a fome de tudo, associada ao processo de conscientização e luta que logo aflorará, vai desfazer as ilusões autoritárias. Não será na força bruta que você vai vergar a nossa gente sofrida. Nosso povo não vai aceitar calado a dor do chicote.
Os momentos históricos que vivenciamos e aqueles do passado que estudamos a fundo nos ensinam que o padecimento de hoje pode servir para uma virada futura que nos conduza a uma sociedade emancipada.
Assim, passaríamos de imediato a questionar a legitimidade desta eleição, unindo os brasileiros civilizados numa frente ampla de resistência às promessas criminosas e às ilegalidades autoritárias apregoadas por Boçalnaro, o ignaro. (por Dalton Rosado)
4 comentários:
Caro celso, sair da disputa alegando fakenews, ou algo similar parece desculpa esfarrapada. Só para citar algumas; Manuela em um vídeo diz não acreditar em Deus já em outra aparece rezando. Outra ,defende Venezuela e agora diz que nada a ver. Outra, Lula tem de estar livre mas tiraram Lula das propagandas assim como o vermelho. Apenas para citar algumas. Dá a impressão que eleição só vale se a esquerda ganhar. Seria melhor nesta reta final de campanha pedir voto. Vox populi deu uma diferença pequena , quem sabe pode haver uma virada. Desconstruir o processo eleitoral só aumenta a possibilidade de vitória de Bolsonaro. Volto a lembrar,dos cerca de 58% dos votos em Bolsonaro , 42% votam por convicção no mesmo. Cerca de 16% são contra o PT. Abraço.
Não vou entrar nesta discussão porque o artigo é do Dalton Rosado e logo ele deverá estar te respondendo. É melhor que cada autor defenda seus textos. Abs.
Caro William Orth,
como sabem todos os leitores que acompanham o blog (que defende a liberdade de opinião de forma verdadeiramente democrática), defendo o voto nulo. Tal posição deriva da compreensão que tenho de que a estrutura institucional republicana democrático-burguesa existe para servir a uma ordem social que é injusta na sua raiz. Portanto, ela é a correia de transmissão da injustiça, e não pode mudar a sua natureza consolidada pelo processo eleitoral, e que apenas perpetua a inconsciência social sobre o objeto teleológico social do qual somos todos vítimas (uns muitos mais diretamente e outros indiretamente).
Como devem saber os leitores que nos acompanham, sempre fiz a crítica da forma-valor (dinheiro e mercadorias) como modo de produção social que é a responsável pela tragédia que infelicita a humanidade, principalmente nesse momento de contradição inconciliável entre forma (produção tecnológica de mercadorias e serviços) e conteúdo (a mediação social pelo dinheiro).
Destarte, a minha inserção no processo eleitoral se dá no sentido de negá-lo e de modo a não compactuar com o que chamo de eterno pêndulo na ineficácia (governos de direita e de esquerda que são diferentes na política, mas idênticos quanto ao modo de produção social).
Entretanto, não podemos assistir impassíveis ao surgimento de projetos políticos de ultradireita que ameaçam os direitos civis duramente conquistados e a partir de expressões chulas e proposições até criminosas que nos ameaçam a todos (grifo nosso).
Nesse sentido, a mera disputa eleitoral legitima (pela vontade popular manipulada e induzida pela crescente perda de direitos; pela perda crescente do atendimento das demandas sociais pelo Estado; e pela perda crescente da capacidade de consumo) e fortalece proposições ditatoriais que se apresentam como a salvação da lavoura, mas que na verdade representam um retrocesso civilizatório contra o qual devemos nos insurgir sob pena de cometermos crime de omissão perante o que está por vir (grande parte do povo alemão, e muitos dos seus intelectuais, até hoje sentem a responsabilidade por sua omissão e apoio aos crimes nazistas).
Os erros do PT (Partido do qual fui fundador e coordenador de sua primeira vitória eleitoral para um cargo executivo e que dele fui expulso por não compactuar com os desvios de orientação comportamental que se processavam) não nos dão o direito de aceitarmos as sandices de um candidato cuja postura deveria ser considerada como criminosa a partir dos seus conceitos e proposições.
Imagine um homem desses legitimado pelo voto dos que não tEm a capacidade de compreender os seus propósitos nefastos (a maioria) e uma minoria privilegiada ameaçada pela debacle capitalista, e que forma opinião, e que é consciente da sua opção; os problemas logo evidenciar-se-ão acaso seja eleito, hipótese que já se prenuncia como (fatídica) real possibilidade.
A proposta de retirada da Candidatura do Fernando Haddad, desde já, representa um pré-questionamento aos princípios que norteiam o projeto político anunciado por Bolsonaro, a quem apelidei de "Boçalnaro, o ignaro", como deboche ao seu jeito ridículo (e perigoso) de ser.
A mera participação na disputa eleitoral (mesmo que desigual) empresta alguma legitimidade ao projeto ditatorial, e isso deve ser negado sempre e desde já.
Um abraço e obrigado pela participação e leitura dos meus escritos que espero seja continuados, pois ainda teremos tempo, num futuro imediato, de avaliar o que agora está sendo dito.
Dalton Rosado
Dalton OBRIGADO!!
Há dias tenho pensado na retirada da candidatura como única opção
Seria um ato - talvez - análogo ao suicídio de Getúlio
Um ato de grandeza
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