segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

JAMAIS ESQUECER, JAMAIS PERDOAR: A INÚTIL DESTRUIÇÃO DE DRESDEN, JÁ NOS ESTERTORES DA 2ª GUERRA MUNDIAL.

Uma das imagens de divulgação do filme Matadouro 5
Há 73 anos teve início um dos piores massacres da 2ª Guerra Mundial: o bombardeio de Dresden, que se prolongou por três dias, exterminando cerca de 25 mil civis a troco de nada, pois nada havia que fizesse daquela cidade à margem do rio Elba um objetivo militar.

O escritor Kurt Vonnegut Jr., estadunidense de ascendência germânica, fez de tal episódio o ponto culminante de sua obra-prima Matadouro 5, de 1969, que tem uma razoável versão cinematográfica dirigida três anos depois por George Roy Hill.

Não se pode, evidentemente, equipará-lo às também desnecessárias (do ponto de vista militar) bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, pois inexiste horror remotamente comparável àquilo.

Mas, foi uma matança que jamais deveremos esquecer e jamais poderemos perdoar, daí eu a estar relembrando com a publicação dos trechos principais de um ótimo resgate histórico da Deutsche Welle (o texto completo pode ser acessado aqui).

Servirá, inclusive, de contraponto à forma piegas e maniqueísta como Hollywood acaba de retratar Winston Churchill, incluindo uma totalmente inventada consulta aos passageiros do metrô londrino. 

Refiro-me, claro, a O Destino de uma Nação, que ora está em cartaz no Brasil e concorrerá a seis Oscar, inclusive o de melhor filme.
"Em 13 de fevereiro de 1945, 245 quadrimotores Avro Lancaster da quinta frota de bombardeiros britânicos decolaram em direção à cidade à beira do rio Elba, que contava então 630 mil habitantes e abrigava um número estimado de centenas de milhares de refugiados.

Estratégica e economicamente, Dresden era irrelevante para o desenrolar da guerra, cujo desfecho já era previsível no início de 1945.

Às 21h39, as sirenes antiaéreas soaram na cidade. Cerca de 3 mil bombas explosivas de alta capacidade e 650 mil bombas incendiárias choveram sobre a Florença do Elba, como Dresden era conhecida por sua beleza arquitetônica e por seus tesouros culturais. Tudo isso em apenas 23 minutos.
O centro da cidade virou um mar de chamas. O brilho era tão intenso que pilotos britânicos relataram que, já a 320 quilômetros de distância e 6.700 metros de altitude, era possível ver Dresden em chamas. O calor atingiu temperaturas tão altas que era capaz de derreter vidro nos porões. Duas ondas de ataques britânicos e uma subsequente de bombardeiros dos EUA arrasaram cerca de 15 quilômetros quadrados da cidade.

O comandante da operação de destruição de Dresden, da qual participaram centenas de pilotos britânicos e americanos, era Arthur Harris, comandante-em-chefe da Royal Air Force e o homem do primeiro-ministro Winston Churchill para o bombardeio da Alemanha nazista, um instrumento de guerra visando desmoralizar o inimigo.

"Sem hobbies, nunca leu um livro, não gostava de música, vivia para o seu trabalho." Essa foi uma das mais curtas definições do militar Harris, até hoje uma figura polêmica.

Harris era o antibritânico. A cortesia tão peculiar a seus compatriotas era coisa estranha para ele, uma pessoa rude e propensa a ofensas. Muitos o chamavam simplesmente The Butcher, o açougueiro.

No período entre as duas grandes guerras, Harris descobriu sua paixão pelo combate aéreo. Foi comandante de esquadrão da RAF no Paquistão e no Iraque, onde voava, ele mesmo, frequentemente. 

Tinha preferência pelo emprego de bombas incendiárias contra os curdos e árabes, pondo em chamas suas casas cobertas de palha. Ele adorava o efeito da guerra quando visto do alto.

Assim como muitos oficiais das forças aéreas, também fora do Reino Unido, Harris acreditava na superioridade militar dos bombardeios. Já em 1943, prometeu levar a Alemanha à capitulação somente a partir do ar, sem o uso de tropas terrestres. Um ano depois, em 1944, Harris afirmava que 45 das 60 maiores cidades alemãs estavam destruídas, incluindo Colônia e Hamburgo. Era hora de dar cabo do restante, reivindicava. Isso incluia Dresden.

COOPERAÇÃO COM OS SOVIÉTICOS 
Uma vergonha para a civilização: o açougueiro de Dresden

Alguns historiadores veem o bombardeio de Dresden como parte de uma crescente cooperação militar entre as potências ocidentais e a União Soviética, nos estágios finais da 2ª Guerra. Desde o final de 1944, a ofensiva aliada contra a Alemanha ia a passos lentos na frente ocidental, enquanto o Exército Vermelho avançava rapidamente no leste. 

Diante disso, Churchill, pouco antes da Conferência de Yalta, determinou que fosse verificado se "Berlim e outras grandes cidades do leste da Alemanha não deveriam ser consideradas objetivos que valessem particularmente a pena".

...Dresden estava nos planos de Harris. E houve avisos bem antes do 13 de fevereiro. Notícias divulgadas pelas rádios dos aliados e jornais afirmavam que cada cidade alemã poderia se tornar um alvo da linha de frente. Além disso, Dresden era ponto de junção de estradas e linhas ferroviárias, tanto no eixo leste-oeste como norte-sul. E Dresden era considerada, pelos aliados, um possível refúgio de Hitler e dos nazistas no caso de Berlim e Leipzig serem desligadas como linhas de abastecimento. 
Esta foi outra darkest hour do Churchill... 
Dresden estava, portanto, no foco, e Churchill era mais do que alguém que apenas tolerava o impiedoso modo de bombardeiro de seu estrategista de aviação Harris. Pouco antes de morrer, Harris chegou a dizer que a destruição de Dresden "foi considerada na época uma necessidade militar por pessoas que eram muito mais importantes do que eu".

O Exército Vermelho, comandado pelo marechal Jukov, estava em fevereiro de 1945 a apenas 80 quilômetros a leste de Dresden, quando bombardeiros britânicos e americanos quiseram dar aos soviéticos um sinal de cooperação contra a Alemanha de Hitler.

"Uma barbárie como essa jamais seria feita pelo Exército soviético", disse mais tarde Jukov. E, mesmo na Inglaterra, o bombardeio de Dresden ainda é questão controversa. Em 1992, quando Bomber Harris ganhou uma estátua de bronze de 2,70 metros no centro de Londres, a rainha o chamou de líder inspirador, enquanto centenas de manifestantes gritavam genocida!, genocida!".

4 comentários:

SF disse...

.
Coincidentemente, estava revendo conceitos do livro O Mal-estar da Civilização.

O gênio genial de Sig asseverava ser a agressividade o inimigo e que as maneiras que se usava para controlá-la causavam também graves problemas.

Tudo que aqueles genocidas fizeram foi previsto por ele em sua teoria da psicanálise.

Teoria muito boa que explica quase todo comportamento humano.

Some-se a isso biologia e genética e é facilmente entendida a compulsão destrutiva da humanidade.

Os antigões simbolizavam esse tipo de gente como o minotauro - cabeça animal e corpo humano.

Mas "o que há com Teseu" que não apareceu para destruir o monstro?

Ficou só a palavra "aconteceu" rsrsrs!

celsolungaretti disse...

Dois autores que levam adiante as teorizações de Freud sobre instinto de morte x civilização são o Marcuse, em EROS E CIVILIZAÇÃO, e o Norman O. Brown, em MORTE CONTRA VIDA.

São leituras áridas, que exigem conhecimentos profundos da obra de Freud e (no caso do Marcuse), da de Marx também.

Mas, essenciais para decifrarmos nossa época.

Abs.

SF disse...

.
O que se vai confirmando é que a hipótese de que o bicho humano é mais fera que gente.

Que todo o esforço de civilização que vem sendo feito, no sentido de transformar a fera em humano, sofre periódicos retrocessos, mas avança.

Os antigos usaram o símbolo do minotauro preso em seu labirinto escuro, alimentando-se de jovens, e nascido da cobiça do rei fraticida Minos e da lascívia de Pasífae.

O símbolo da civilização, Teseu mata o monstro e liberta os jovens.

Isso permitiu-me o trocadalho o que "há com teseu?" que não chegou a tempo.

Querendo eu associar a palavra "aconteceu" com o fato consumado do bombardeio de Dresden.

O bomber foi só mais um minotauro que fez e aconteceu!

O contraponto ao minotauro é o Centauro.
Um ser com torso e cabeça humana em corpo de cavalo.

Esse símbolo da superioridade do humano sobre o animal se repete no Cavaleiro e na Amazona e em todas as vezes que a figura mostra o humano cavalgando o animal e
dominando-o.

Mas o bom de uma teoria é possibilidade de previsão.

Logo, o que o bomber jagunço de primeiro-ministro fez tem se repetido, confirmando o acerto da hipótese.

Podendo-se considerar ser uma regra que o homem continuará cometendo atrocidades contra si e contra seus semelhantes, inexoravelmente.

Até evoluir ou extinguir-se

Anônimo disse...

mal estar NA civilização

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