terça-feira, 30 de janeiro de 2018

O NOVO E PROVAVELMENTE DERRADEIRO APOGEU DE UM GÊNIO DO ESPORTE

A emoção de uma conquista quase impossível: o 20º Grand Slam aos 36 anos de idade.
O suíço Roger Federer se tornou, no último domingo (28), o primeiro tenista do sexo masculino a atingir a marca de 20 torneios de Grand Slam conquistados.

Para quem não sabe, os dois referenciais maiores do sucesso dos tenistas são a quantidade de troféus de Grand Slam (os quatro principais torneios disputados anualmente: os abertos da Austrália, da França, da Inglaterra e dos EUA) em suas prateleiras e o número de semanas que permanecem encabeçando o ranking da Associação de Tenistas Profissionais.

Federer é o melhor da História pelos dois critérios. Em Grand Slam's, está à frente do espanhol Rafael Nadal (16) e do já aposentado estadunidense Peter Sampras (14).

Foi o nº 1 durante 302 semanas, superando grandes nomes de outrora como Sampras (286), o tcheco Ivan Lendl (270) e o estadunidense Jimmy Connors (268).
O tênis tem sido seu encanto desde menino

Doque continuam em atividade, o único com uma pequena chance de alcançá-lo é o sérvio Novak Djokovic (223), se voltar à excelência anterior à grave lesão no cotovelo direito que o fez despencar em 2017, forçando-o a parar para tratar-se durante o semestre passado. 

Federer é uma lenda viva. Aos oitos anos de idade já começava a frequentar as quadras, como pegador de bolas nos jogos de adultos e também disputando as primeiras partidas com outros meninos. Seu entusiasmo continua inalterado quase três décadas depois.

Dotado de extrema habilidade, impôs um domínio avassalador ao tênis profissional masculino entre julho de 2003 e janeiro de 2010, quando conquistou o absurdo de 16 Grand Slam's. De fevereiro de 2004 até junho de 2010, totalizou 285 semanas como o nº 1.

Vieram as dificuldades: o seu jogo vistoso e ofensivo começou a esbarrar na tenacidade e preparo físico de tenistas com propostas mais defensivas, como o espanhol Rafael Nadal. As vitórias que antes chegavam naturalmente passaram a exigir esforços para os quais não estava preparado, fisica e mentalmente. Parecia marchar para a decadência e a aposentadoria.

De repente ele se reinventou, voltando a ter um semestre auspicioso (o segundo de 2012), quando acrescentou à lista mais 17 semanas liderando o ranking e o 17º Grand Slam (Wimbledon). Canto do cisne?

Viriam quatro anos de vacas magras, incluindo o segundo semestre de 2016 perdido por causa de uma contusão que sofreu ao dar banho nas suas crianças.  
Fab-four: o mais velho está voando, os outros capengando.
A pausa foi também uma oportunidade para ele aprimorar seu desempenho com uma raquete diferente e uma postura ainda mais ofensiva, pois não tem idade para aguentar o desgaste de longas partidas. 

Principalmente nas de Grand Slam, disputadas em cinco sets, o ideal para ele é vencer tantos adversários quanto possa por 3x0, guardando fôlego para os jogos mais difíceis (o que acaba de acontecer em Melbourne, onde só cedeu sets na final, quando venceu o croata Marin Cilic por 3x2 num duelo de 3h03).

O certo é que ele renasceu mais uma vez no ano passado, ao conquistar os abertos da Austrália e da Inglaterra, voando nas quadras e sepultando de vez o trauma com relação a Nadal. Se o espanhol quebrara sua autoconfiança quando passou a vencê-lo seguidamente na década passada, agora já amarga cinco derrotas consecutivas diante de Federer, algo que nunca lhe acontecera antes.

Ter um novo apogeu a esta altura de sua carreira é ainda mais impressionante se levarmos em conta as contusões de todo tipo que acometem ultimamente seus principais rivais, todos mais novos: Nadal (31 anos), Djokovic (30), o britânico Andy Murray (30) e o também suíço Stan Wawrinka (32).
O milagre se deve, de um lado, ao atual estilo matador de Federer para encurtar as partidas; e também a ele estar simplesmente descartando os torneios que lhe possam causar problemas físicos em função do tipo de piso (o saibro, principalmente) ou tão somente pelo acúmulo de competições sem tempo suficiente para recuperação.

Federer dá exemplo de independência com relação aos interesses econômicos que estão impondo esforços excessivos aos tenistas, a ponto de, no recém-findo Aberto da Austrália, os outros quatro maiores campeões desistirem de antemão ou serem derrotados pelas dores que sentiam. 

É inteligente dentro e fora das quadras, motivo principal de sua inacreditável longevidade como tenista competitivo. E, entre o esporte e a grana, opta sem pestanejar pelo esporte, colocando sua permanência na ativa como prioridade máxima, perca quanto dinheiro perder por ficar de fora de torneios com vultosas premiações. 
Nadal e Federer: competidores leais, nunca inimigos.
Consegue manter um espírito de artesão em pleno século 21: é o homem que fez sucesso na primeira atividade que o fascinou e parece até hoje não querer nada além disso.

Tanta paixão pelo tênis comove. Seu choro ao festejar o novo título e sua afirmação de que o conto de fadas continua foram momentos mágicos, inesquecíveis. 

Deixará uma lacuna gigantesca quando finalmente pendurar a raquete. Mas, suas declarações são de quem não dará tal passo em 2018, pelo menos. 

Temos de aproveitar este derradeiro apogeu enquanto dura, pois nada garante que surja um tenista remotamente comparável a Federer nas próximas décadas. Talvez nunca. 

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