Toque do editor |
Só não percebe quem não quer: o mandato presidencial em curso já está encerrado. Depois que Rodrigo Janot, com as Organizações Globo segurando o arco para ele, disparou sua flecha de bambu no próprio pé, começou a corrida presidencial de 2018. O provocador-geral da República promete renovar a tentativa antes de deixar pateticamente o cargo, mas é só para manter a pose, pois não vai dar em nada.
Felizmente, aliás! Considerando-se os prazos de um processo de impeachment cujo pontapé inicial fosse dado em setembro, teríamos eventualmente um Rodrigo Maia como presidente-tampão do Brasil no primeiro trimestre de 2018 e uma eleição indireta no 2º trimestre. O feliz contemplado sentaria na cadeira durante uns poucos meses, fingindo governar enquanto todo o mundo político estivesse focado nas campanhas eleitorais.
Muito barulho por nada, mais um ano jogado no lixo e outro pacote de bondades para os deputados federais é o presente de despedida que nos quer deixar Janot, antes de partir para o merecido esquecimento. [E, se tentar eleger-se governador de Minas Gerais, só vai acrescentar mais uma uma derrota vexatória à coleção. É melhor ele sair calado, na esperança de descolar um empreguinho na Globo.]
Bem, agora que o golpe dos Trapalhões fracassou, o que vem por aí?
Se São Marx iluminar a mente dos dirigentes esquerdistas, eles tirarão a única conclusão possível do ciclo petista na Presidência da República: a de que, enquanto perdurar o capitalismo no Brasil, quaisquer concessões temporárias dele extraídas serão revogadas quando o poder econômico bem entender. Ou mudamos a coisa por atacado e organizamos o povo para defender tais mudanças, ou continuaremos a cumprir o inglório papel de mercadores de ilusões, ajudando a classe dominante a ludibriar os explorados.
Depois do fracasso anterior, Janot mostra qual é a chance de a nova flechada resultar. |
Caso a esquerda continuar fugindo da autocrítica como o diabo da cruz e trilhando caminhos que não levaram nem levarão a lugar nenhum, dois cenários relevantes se desenham:
- ou teremos o milagrezinho brasileiro com o qual sonha Marcos Troyjo (vide aqui), que seria necessariamente tão efêmero quanto o primeiro, mas tendente a viabilizar a eleição de um presidente sorridente e light (o João Dória ou qualquer similar) e não de um senhor rancor (Lula ou Bolsonaro); ou
- ou teremos um Temer governando em clima de fim de feira, sem boom econômico nem euforia consumista, a arrastar-se melancolicamente até a entrega da faixa (e aí a eleição se tornará imprevisível, menos no aspecto de que Lula será alijado da disputa pelo Judiciário, a chamada caçapa cantada).
Se quisermos acertar nossos passos com a História, temos de levar em conta os possíveis cenários futuros, preparando-nos para reagir a eles no momento certo, não depois dos fatos consumados.
Se continuarmos enxergando o presente com a nuca, outros fracassos virão. É simples assim. (CL)
Por Vinícius Torres Freire |
OS ÚLTIMOS MESES DE TEMER
Muitas cabeças rolaram para que fosse paga a conta dos votos que evitaram a decapitação de Michel Temer, a abertura do processo que o afastaria do cargo. Desafetos perdem cargos às dezenas. Vão-se anéis e dedos que em tese poderiam votar em alguma reforma da Previdência, hoje quase uma memória desbotada.
No entanto, há gente no Congresso e no governo que acha possível aprovar alguma coisa da mudança previdenciária a partir de outubro. O que seria essa coisa pouca? Idade mínima de aposentadoria e um tapa em servidores públicos.
O aumento do tempo de contribuição para 25 anos e todo o resto relevante iriam para o vinagre. Se sobrarem 40% da poupança estimada originalmente pela reforma do governo, será um milagre.
A prioridade, porém, é aprovar o pacote de agosto, as medidas desesperadas para evitar um buraco ainda maior nas contas do governo, e o pacotão privatizador, que pretende tapar o buraco na imagem do governo que se jactava do ajuste fiscal, que não veio, e da reforma essencial, a previdenciária, que vai indo.
Vai dar pé? Há refregas de geometria variada no Congresso.
PMDB e centrão pedem os cargos de ministros e agregados do PSDB, como se sabe. Querem ver na ponta da estaca em especial a cabeça de Antônio Imbassahy (Secretaria de Governo), por vingança, e Bruno Araújo (Cidades), que administraria um fazendão de verbas restantes.
A mixórdia que se chama de reforma política causa mais disputas no governismo. PMDB e PP lideram o movimento pela aprovação do distritão, rechaçado por partidos pequenos e médios (em geral, o centrão), além da oposição.
Ao que parece, o PSDB pretende dar uma limpada na imagem fazendo campanha, ao menos da boca para fora, por uma reforma responsável e prudente. Ou seja, limitada ao fim das coligações em eleições proporcionais e a alguma cláusula de barreira, restrições igualmente rejeitadas pelos partidos menores.
O partido quer mudar de assunto, pois. Os tucanos concordaram que não vão rachar. Não oficialmente, claro, porque metade da bancada quer manter a boca no governo e a outra metade abomina Aécio Neves e Michel Temer quase tanto quanto o eleitorado brasileiro.
Apesar dessas e de outras refregas no Congresso, o governo está à beira de aprovar o fim paulatino dos juros subsidiados do BNDES (fim da TJLP) e, na prática, uma lipoaspiração duradoura do banco. Não é pouca coisa. O lobby da indústria nacional contra a medida era forte (que contava ainda com a oposição da capital de Patópolis, a Fiesp).
O governo então se animou com as perspectivas do pacote de remendão fiscal, que, no entanto, contém coisas intragáveis para o parlamentar padrão, como um bocadinho de impostos e um peteleco nos salários de servidores.
Até a penúltima semana de setembro, os parlamentares estarão cozinhando o angu de caroço da reforma política e sob pressão para aprovar os pacotes econômicos da liquidação de inverno de Temer. Ignora-se o novo tiro de flechas de Rodrigo Janot contra o presidente. Em outubro, a pauta estaria limpa para votar a Previdência.
O pessoal do governo acha que é uma ficção verossímil para os últimos meses úteis de Temer. Depois, é eleição.
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