Toque do editor |
Tenho dificuldade cada vez maior para encontrar, tanto na grande imprensa quanto nas redes sociais, textos que me tragam informações relevantes, análises perspicazes e me levem a admirar o caráter do autor. Estes três requisitos dificilmente andam juntos.
Então, é alentador ainda existir um Clóvis Rossi que, aos 74 anos, mantém uma coerência exemplar e uma profundidade de raciocínio invejável.
Então, é alentador ainda existir um Clóvis Rossi que, aos 74 anos, mantém uma coerência exemplar e uma profundidade de raciocínio invejável.
É o caso de sua avaliação do julgamento da chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral. Mesmo compartilhando a repulsa que os ministros do TSE inspiraram em quase todos que acompanharam sua atuação, ele não se contentou com o simplismo maniqueísta amplamente dominante, indo ao fulcro do problema.
Os antológicos parágrafos finais do seu artigo O Brasil fica incompatível com o brasileiro estão abaixo. Confiram, pois vale muito a pena!.
Os antológicos parágrafos finais do seu artigo O Brasil fica incompatível com o brasileiro estão abaixo. Confiram, pois vale muito a pena!.
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Rossi: desencontro irremediável. |
"Há um desencontro aparentemente irremediável entre a maior parte do público e as instituições. E não apenas em relação à permanência de Michel Temer na Presidência.
Acho até que ela é irrelevante para o que velhos marxistas chamariam de classes dominantes. Tanto é assim que Henrique Meirelles, o representante dos negócios e das elites no governo, já disse que fica na Fazenda, com Temer ou sem Temer.
Fica por uma razão muito simples: a agenda que Temer tenta levar adiante é a agenda obrigatória para quem o substituir, em eleição direta ou indireta, agora ou em 2018.
O teto de gastos e as reformas trabalhista e previdenciária foram impostas por uma coligação informal entre os agentes de mercado e os partidos políticos à direita do centro.
Desafiá-la levaria ao mesmo problema enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002.
Ele teve que render-se à pressão dos mercados – que forçaram a alta do dólar e pressionaram a inflação – sob pena de ter seu governo desestabilizado já na partida.
Agenda de Temer é "a agenda obrigatória para quem o substituir" |
Desafiá-la levaria ao mesmo problema enfrentado por Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de 2002.
Ele teve que render-se à pressão dos mercados – que forçaram a alta do dólar e pressionaram a inflação – sob pena de ter seu governo desestabilizado já na partida.
Não por acaso, Lula escolheu para conduzir a economia, como presidente do Banco Central, o mesmo Henrique Meirelles que manda nela de novo agora.
Não vou discutir se a agenda é correta ou não. Que reformas são necessárias, não há a menor dúvida. Mas o formato agora adotado é rejeitado pela maioria da população, conforme mostram todas as pesquisas.
Pode funcionar decentemente um país em que há uma agenda imexível e uma sociedade majoritariamente contrária a ela?"
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