Lembram-se de quando tantos esquerdistas decepcionados diziam que, no governo, Lula era um pai para os pobres e uma mãe para os ricos?
Isto tinha tudo a ver com o pacto que o Zé Dirceu, em nome dele, firmara em 2002 com os poderosos da economia, confirmado pelo próprio Lula em sua verdadeira ode ao capitalismo intitulada Carta aos Brasileiros.
Tratou-se um documento escrito sob medida para tranquilizar magnatas, atualizando o Manifesto de Fundação do PT de 1980. Passou-se uma borracha no objetivo de se construir "sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores" e se colocou, no lugar, "o caminho de combinar o incremento da atividade econômica com políticas sociais consistentes e criativas", sempre se mantendo "o respeito aos contratos e obrigações do país".
Ou seja, contratos injustos ao extremo, que beneficiavam de forma escandalosa a classe privilegiada, continuariam sendo ciosamente respeitados. Foi o preço que Fausto/Lula pagou aos Mefistófeles do capitalismo para que o poder econômico consentisse na sua ascensão a presidente da República.
O resultado seria escancarado nas várias evidências de que os interesses do grande capital eram considerados pelos formuladores da política econômica como intocáveis; e, de maneira mais explícita, naqueles descarados press releases por meio dos quais, a cada mês, o Itaú e o Bradesco anunciavam terem atingido novo patamar de receita ou lucratividade, como se estivessem em campanha para conquistarem o Prêmio Guinness da agiotagem legalizada...
Também constava da Carta aos Brasileiros a promessa de o governo do PT reduzir os tributos pagos pelo empresariado, tomando providências contra "o caráter regressivo e cumulativo dos impostos, fardo insuportável para o setor produtivo e para a exportação brasileira".
O bom colunista Vinícius Mota, nesta 2ª feira, 15, mostra que o fardo era (e é) bem mais insuportável para os que ganham menos, muito menos. O tal do leão do Imposto de Renda não passa de um Robin Hood às avessas, pois tira dos pobres e alivia para os ricos...
Leiam e avaliem:
"Em 2015, segundo dados que a Receita acaba de divulgar, os 435 mil indivíduos no topo da remuneração representaram apenas 1,6% de todos os contribuintes que declararam Imposto de Renda. A esse pequeno conjunto de cidadãos correspondeu, no entanto, 15% da massa de rendimentos que é isenta do tributo.
Nesse ápice de pirâmide, quanto mais se eleva a renda, maior é a fatia que escapa à mordida do leão. Em torno de R$ 40 em cada R$ 100 recebidos pelos 29 mil brasileiros mais ricos (renda mensal média de R$ 332 mil) são imunes ao IR, contra cerca de R$ 30 no universo dos declarantes.
Mecanismos indiretos de cobrança de imposto e benefícios legais não garantem taxação equitativa da pessoa que recebe como acionista de empresas. O ambiente incentiva, nas altas rendas, esse regime de remuneração, sobre o qual há escassa prestação balanceada de contas.
Embora seja assunto complexo tecnicamente e custoso politicamente, é possível corrigir anomalias nele embutidas...
Mas o governo do PT, na contramão de partidos homólogos nos países ricos, jamais patrocinou uma reforma tributária para corrigir iniquidades. Preferiu reforçar os laços do capitalismo de compadrio que enfiou o Brasil na crise".
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