domingo, 23 de abril de 2017

"O QUE A CREFISA FEZ COM O PAPA É UMA ESCROTIDÃO"

Gostaria de ter sido eu o autor de tal frase, mas o comentarista esportivo Menon chegou primeiro. E bateu pesado, ao explicar o porquê da escrotidão:
"Usar a imagem de um religioso para aumentar a renda de quem empresta dinheiro a juros para desesperados é triste retrato da ganância".
Sem dúvida. Ainda mais porque a usura contraria os próprios ensinamentos bíblicos, como se pode constatar abaixo:
Êxodo 22:25 – Se emprestares dinheiro ao meu povo, ao pobre que está contigo, não agirá com ele como credor que impõe juros. 
Levítico 25: 35,36,37 – 35 Se teu irmão empobrecer, e as suas forças decaírem, então, sustenta-lo-ás (...). 36 Não receberás dele juros nem usuras (...) 37 Não lhe darás teu dinheiro com juros, nem lhe darás alimento para receber usura. 
Salmos 15: 1,2,5 - 1 Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? (...) 2 O que vive com integridade, e pratica a justiça. 5 O que não empresta o seu dinheiro com usura, nem aceita suborno contra o inocente...
Lucas 6: 35 - Amai, porém, os vossos inimigos, fazei o bem e emprestai, sem esperar nenhuma paga; será grande o vosso galardão, e sereis filhos do Altíssimo...
Se o papa Francisco tivesse dado o seu consentimento para tal despautério, estaria inclusive infringindo o cânone 13 do 2º Concílio de Latrão, realizado no ano de 1139:
O Scrooge do conto natalino de Dickens
"...condenamos além disso, aquela detestável e ignominiosa rapacidade insaciável dos prestamistas, rechaçada pelas leis humanas e divinas por meio da Escritura do Antigo e Novo Testamento... Nenhum arcebispo, nenhum bispo ou abade de qualquer ordem, qualquer que seja a ordem ou clero, se atreva a receber os usurários".
Evidentemente, à medida que o capital financeiro passou a ser o tentáculo mais poderoso do capitalismo, a atitude da Igreja Católica se flexibilizou

A tal ponto que já não se reza o Pai nosso no Brasil da forma como o aprendi na infância, "Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos as de nossos devedores". Seguíamos a tradição de países como a Itália (que orava pelo perdão dos debiti) e a Espanha (das deudas).

É obviamente incompatível com o capitalismo a noção de que as dívidas devam ser perdoadas e não cobradas, então a Igreja, aos poucos, foi passando uma borracha em tudo que dissera a este respeito desde os tempos bíblicos até o fim da era feudal. Seria muito ruim para os negócios do Vaticano se o catolicismo continuasse atualmente caracterizando os banqueiros como vis usurários e empedernidos pecadores... mesmo que tais rótulos estejam totalmente de acordo com os preceitos cristãos (já os laicos preferem lhes afixar a etiqueta de parasitas).

Mas, daí a uma financeira fazer o papa de garoto-propaganda vai uma certa distância. Afinal, o coitado apenas aceitou receber uma camisa de time de futebol, sem intenção nenhuma de levantar a bola da patrocinadora do Palmeiras.

Em termos jurídicos, a Crefisa cometeu um ilícito civil e ficou sujeita a uma ação legal que requeresse a suspensão do uso da imagem papal e o pagamento de uma indenização pela utilização indevida da mesma. Mas, é praticamente certo que o Vaticano não fará nada disto.

Até porque lhe poderiam atirar na cara que papas se associaram a abominações piores ainda do que a agiotagem legalizada, como o nazismo e o fascismo...

3 comentários:

Ramon Veloso disse...

Boníssimo dia Celso!
Seu Blogue tem me sustentado nessa loucura que é a vida contemporânea... lhe agradeço por isso.
Textos lúcidos sem esquerda ou direita, mas com consciência de que essas palavras foram criadas pelo ser humano e não refletem nada a não ser partidarismos...
Precisamos é fazer, sem nenhum cunho religioso, o que nosso grande amigo e irmão nos informou há dois mil anos: fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem! Sei que é terrivelmente difícil, mas tentemos!!!
E não nos esqueçamos de que eles atualmente estão emprestando e lavando dinheiro com juros através do banco do Vaticano ou IOR...
Ou estou enganado?...

celsolungaretti disse...

Prezado Ramon,

pensei que essa "parcerias" com a contravenção tivessem acabado depois daquele escândalo enorme envolvendo o Ior e a máfia de Riina e Provenzano, que foi até uma das inspirações do filme O PODEROSO CHEFÃO 3. Continuam?!

Ramon Veloso disse...

Sendo o lucro a essência do capitalismo parece difícil um banco sobrevier sem tais ações.
Observemos.

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