quarta-feira, 19 de abril de 2017

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O filme 1900 (Novecento, 1976), cujas duas partes podem ser vistas abaixo com legendas em português e na sua DURAÇÃO ORIGINAL DE 5 HORAS E 10 MINUTOS, foi um projeto extremamente ambicioso do cineasta italiano Bernardo Bertolucci.

Passou nos cinemas com pouco menos de 4 horas, depois saiu em DVD com 310 minutos (como o vemos aqui), mas Bertolucci sonhara com uma obra maior ainda: uma minissérie em seis capítulos, totalizando oito horas!  O que terá deixado de lado, quando não conseguiu viabilizá-la nas tratativas com a TV?
De Niro e Depardieu: amigos pessoais, inimigos de classe. 

Por meio das trajetórias paralelas de um filho de latifundiário (Robert De Niro) e um filho de camponeses (Gerard Depardieu), nascidos exatamente ao iniciar-se o novo século, ele traça um grandioso painel da sociedade italiana no século 20, com destaque para o apogeu e decadência dos movimentos comunista e fascista (este personificado por um capataz composto de forma tão vigorosa por Donald Sutherland que acaba ofuscando os dois atores principais).

A história alcança até o chamado compromisso histórico, quando o PCI, em troca do poder, abdicou definitivamente de quaisquer veleidades revolucionárias. [As semelhanças com um certo pacto firmado pelo PT em 2002 NÃO são mera coincidência. Goethe explica...]

Num primor de sarcasmo, Bertolucci dá sua visão sobre o compromisso histórico  na sequência em que os dois envelhecidos amigos pessoais/inimigos de classe, gagás e rabugentos, fustigam-se mutuamente, mas já não têm capacidade para causar dano um ao outro.
Sutherland encarna de forma brutal o fascismo nascente

Trata-se, contudo, de um filme com altos e baixos, às vezes nos empolgando por suas sequências fortíssimas, às vezes nos parecendo um tanto esquemático. O certo é que as cinco horas passam bem mais depressa do que as duas ou três horas dos épicos de Hollywood, com raríssimas exceções (Spartacus, do Stanley Kubrick, é uma delas).

As grandes obra-primas de Bertolucci foram mesmo O Conformista (Il conformista, 1970), sobre o papel da repressão sexual na formação da personalidade fascistizada; e Último tango em Paris (Ultimo tango a Parigi, 1972), que primeiramente despertou a fúria dos moralistas rançosos de direita, depois das patrulheiras cricris feministas, mas é infinitamente maior do que seus vãos detratores, em seu primitivismo abissal, conseguiram captar...

Aliás, quem disse tudo sobre a intolerância dos broncos foi o grande poeta Capinam: "moda de viola não dá luz a cego". 

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