quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

A CRISE DO CAPITAL E A NOVA DIÁSPORA MUNDIAL

"Você não pode dormir bem quando pensa que
tudo está sendo pago pelo governo. Isso não
vai ser resolvido, a menos que vocês os
deixem ou os apressem para morrer"
(Taro Aso, vice-premiê do Japão, sobre
saúde pública x doenças graves)
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A NOVA CONJUNTURA 
DO MERCADO MUNDIAL
O capital é branco, ocidental e masculino (Roswhita Scholz): e esta lógica do capital se espalhou por todas os quadrantes mundiais e se tornou one world, como resultante da necessidade de expansão vital. 

Destarte, os mundos asiático e africano (que juntos, correspondem a quase 80% da população do mundo, com equivalente extensão territorial) trocou paulatinamente as tradicionais relações pré-capitalistas, estabelecidas após o abandono da partilha primitiva, por relações capitalistas, mas sem condições de concorrência à altura.

As relações de produção predominantemente agrárias, que existiam sob o primado de instituições jurídico-sociais dominadoras, permitiam uma vida ao povo (miserável, mas possível); elas, contudo, implodiram sob a lógica do capital. 

Tal fato modificou a fisionomia do mercado mundial, posto que o capitalismo nada mais é do que uma forma de relação social (injusta, segregacionista, contraditória, e fadada à falência, diga-se en passant) que agora, quando vê alterado o seu conteúdo, alterou, correspondentemente, toda a dinâmica da concorrência mundial. 

Algumas regiões sucumbiram; outras sobrevivem num contexto de crescimento localizado, mas que implica um efeito colateral de queda geral da massa de valor e mais valia. 

Temos um exemplo disto na Ásia, cuja população está entrando no regime de concorrência mundial. A China, com seus 1,5 bilhão de habitantes, promoveu o maior êxodo rural da história da humanidade, levando para as cidades, quase compulsoriamente, centenas de milhões de pessoas que passaram o produzir industrialmente produtos para o mundo inteiro com valor reduzido, causando um estrago no tradicional regime de concorrência de mercado ocidental. 

Tal fenômeno foi possível graças à transferência de tecnologia do mundo ocidental em busca de mão-de-obra barata e abundante, e do acesso fácil atual ao conhecimento tecnológico.  

A China, dita comunista, mas capitalista de Estado, capacitou-se, a custa de:
Distopias de sci-fi são menos deprimentes do que isto...
— mão-de-obra barata;  
— transferência de tecnologia e desenvolvimento de tecnologia própria; e 
— endividamento por meio de capital fictício (a dívida privada chinesa é de 254% do PIB e, se a economia parar como se prenuncia, o calote fará estremecer de vez o mundo financeiro). 
O modo de produção industrial chinês desestabilizou o mundo capitalista de modo muito mais acentuado do que poderia prever Mao Tsé-Tung, defensor da revolução marxista tradicional. 

Com tal modo de produção, seguido pelo seu vizinho de impressionante tamanho populacional e grande extensão territorial (a Índia, que vem mantendo significativos níveis de aumento do PIB, tanto que em 2015 já ultrapassou a China em percentagem de crescimento), o capitalismo mundial ocidental estremece, de vez que o nível mundial de desemprego aumenta e as receitas fiscais do Estado definham com o emperramento da economia e da produção de valor válido. Soma-se a isto a indonésia, com seus 250 milhões de habitantes querendo seguir o mesmo caminho dos seus vizinhos. 

Diante da concorrência de mercado sob tais condições, o mundo capitalista ocidental diminui a sua produção industrial e se vê obrigado a financiar o déficit público e o fluxo monetário com dinheiro sem valor, além da emissão de títulos públicos insolváveis no futuro. 
2008: o  castelo de cartas quase desabou!

Esta é a forma de financiamento do déficit comercial dos Estados, que tudo compra, até quando evidenciar-se verdade trágica, já anunciada.  

Tudo se resume a um artificialismo financeiro que não possui lastro de sustentabilidade, tanto de um lado como de outro. Assim, o colapso, que já esteve próximo de ocorrer em 2008, quando da quebra do banco Lehman Brothers, se prenuncia como inevitável.    

O capitalismo só produz para quem pode comprar. Paradoxalmente, como é da sua natureza funcional, ele elimina postos de trabalho e diminui o contingente dos que podem comprar. Retira a escada pela qual alcança o desenvolvimento. Esta é uma equação irresolúvel sob a lógica do capital, que imporá, mais cedo ou mais tarde, uma mudança nos modos de produção. 

Um exemplo simples de contradição do capitalismo no atual estágio de produção tecnológica e redução do trabalho necessário e do trabalho excedente, formadores da mais-valia, nós podemos extrair da questão habitacional (setor no qual o capitalismo de Estado marxista-leninista encontrou sérias dificuldades). 

Há no Brasil um déficit habitacional de milhões de moradias e sabemos que a construção civil pode empregar um grande contingente de trabalhadores desqualificados profissionalmente. Assim poderiam, a um só tempo, serem resolvidas duas questões fundamentais: o déficit habitacional e o aumento da oferta de emprego. 

Mas, não há como se produzir uma residência minimamente confortável, num contexto de infraestrutura urbana necessária (esgotamento sanitário, vias públicas pavimentadas, iluminação pública, abastecimento d’água, etc.), sobre um lote de terra, mercadoria cara, pois a população que dela necessita não pode comprá-la: os salários são incompatíveis com o custo de uma propriedade habitacional ou com os juros de financiamento; e a coisa piora para quem é desempregado. 
O resultado disto é o desumano aumento das favelas, que poderia ser evitado sob outras formas de produção.       

Há uma relação de causa e feito com a miséria capitalista. Não se produz porque não se vende;não se vende porque não se compra; não se compra porque não se ganha dinheiro suficientemente. 

O capital só produz marginalmente, para uma pequena percentagem da população com poder aquisitivo e, assim, trava a produção da qual necessita desesperadamente, esta é mais uma faceta de sua contradição insuperável.
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OS EMIGRANTES DESESPERADOS
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Hoje temos graves ebulições e guerras civis ou convencionais nos seguintes lugares: Ucrânia, Afeganistão, Iraque, Síria, Sudeste da Turquia, Líbia, Somália, Sudão, nordeste da Nigéria, Iêmen, Camarões, Mali, Curdistão, Egito, Líbano, além do histórico conflito entre palestinos e israelenses. 

Existem, ainda, conflitos internos nos países do Leste Europeu, na Venezuela e na União Europeia, que enfrenta alto nível de desemprego numa região outrora carente de mão-de-obra dos imigrantes de suas antigas colônias. 
Quase todos estes países eram governados por líderes militares com mão-de-ferro. O discurso do totalitarismo vigente era lastreado pela promessa de necessidade de ordem pública, de modernização da vida social, e de unidade nacional étnica e religiosa. 

Mas o discurso moralista encobria uma inconfessada sede de poder e da prática de corrupção generalizada por parte da elite dominante. O poder corrompe, e o poder continuado corrompe muito mais.       

Com a evolução tecnológica da terceira revolução industrial, que tornou inviável a produção em níveis de baixa produtividade, a estagnação tomou conta da economia de países economicamente subdesenvolvidos, que já não podem se endividar e nem voltar às suas antigas formas de produção de subsistência numa economia globalizada. O resultado de tanta insatisfação e miséria é o pulular de guerras fratricidas pelo poder, numa região fortemente marcada pelo misticismo religioso. 
Estado Islâmico: nada além de morticínios bestiais

Este é o caldo de cultura para o crescimento de movimentos político-religiosos fundamentalistas como a Al Qaeda, Estado Islâmico, Boko Haram, Al Shabaab, Hezbollah, Al Fatah e uma infinidade de grupos advindos de etnias sunitas, xiitas, alauditas, cada um deles querendo se mostrar mais autêntico na defesa da chamada jihad, a guerra santa islâmica. 

As potências econômicas militares internacionais sempre mantiveram tas países sob a sua influência apoiando governos totalitários e corruptos que terminaram por desintegrar as culturas e instituições locais, causando anomia social e uma aberrante tragédia humanitária.

É este o quadro no qual ocorre a grande diáspora da humanidade no início do século XXI  a era da tecnologia moderna – que nada mais é do que a explicitação da barbárie de um modelo de relação social que se exauriu completamente e clama pela substituição por outro modo de produção. O pior é que, em seus estertores, a relação condenada se apresenta cada vez mais sangrenta e desumana, tornando o desfecho do drama sumamente ameaçador para o destino de toda a humanidade.              

Relatos da Organização das Nações Unidas dão conta de que, até o início de 2016, mais de 4,8 milhões de pessoas emigraram de seus países, fugindo da guerra e da fome: e, ao longo deste ano deplorável, a emigração ainda aumentou. 

Para onde essas multidões sofredoras, senão para regiões que já têm problemas internos graves? O impasse assume proporções colossais. 
Em países como o Brasil, que (ainda) não enfrentam guerra civil ou convencional, a falência das finanças públicas e a renitente depressão econômica estão deixando atônitos os seus cidadãos, que já veem as labaredas do incêndio capitalista bater às suas portas. 

Como corolário disto tudo, agora nós teremos pela frente um Donald Trump como presidente da meca do capitalismo, querendo quer apagar o fogo com gasolina. 

Fala sério! Já não é hora de repensarmos tudo isso? (por Dalton Rosado)

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