O recado do editor |
A autocrítica que eu venho cobrando do PT, por ter desperdiçado uma oportunidade que tão cedo não se repetirá, causando profunda decepção aos trabalhadores e aos idealistas em geral, por enquanto continua restrita a poucas vozes, como a de Marcos Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante o primeiro mandato de Lula.
Mas, a quantidade insatisfatória é compensada, neste caso, pela qualidade superlativa: o artigo de Lisboa pegou no breu, tanto que merece ser lido com muita atenção e tomado como ponto de partida para reflexões que, mais do que nunca, se impõem.
Eis os trechos principais:
Eis os trechos principais:
Marcos Lisboa: moralidade distorcida e arrogância. |
"No documentário A Névoa da Guerra, Errol Morris entrevista Robert McNamara, secretário de Defesa dos Estados Unidos nos anos 60. Um homem aparentemente bom, atormentado pela sua responsabilidade na escalada da guerra com o Vietnã. Um pequeno país foi massacrado. Um grande país descobriu-se menor.
...McNamara discute os equívocos que resultaram em uma guerra tão fútil quanto trágica. Talvez o maior tenha sido desconhecer as razões da divergência.
O filme registra o seu encontro, em 1995, com o ministro das Relações Exteriores do Vietnã na época da guerra. McNamara comenta que havia o receio de uma aliança entre a China e o Vietnã. O ministro responde: 'Vocês estavam totalmente errados! Lutávamos pela nossa independência. Você não leu um livro de história? Temos lutado com os chineses por mil anos!'
'Estávamos errados. Terrivelmente errados', constata McNamara no fim da vida...
Por aqui, nossa história decepciona. Quem reconheceu a responsabilidade pelos equívocos dos planos econômicos nos anos 1980?
Quem assumiu a culpa pela política iniciada há oito anos e que resultou na grave crise atual, com a segunda maior queda da renda em 120 anos? Tantos a apoiaram e, agora, para constrangimento da história, afirmam que foram críticos desde o começo.
O fracasso é órfão, como afirmou John Kennedy.
A campanha eleitoral de 2014 decepcionou quando a ética foi deixada no saguão de entrada.
A difamação da divergência procurou justificar a retomada de políticas que repetidamente fracassaram nos anos 1970 e 1980. A culpa das dificuldades seria da crise externa, ou da oposição.
...Agravando o malfeito, o descontrole do gasto público foi mascarado pela criatividade contábil, que tentou preservar a narrativa, ainda que em detrimento do bem comum.
A moralidade distorcida, a arrogância e o português atrapalhado ameaçaram tornar farsesco o discurso, não fosse o desastre da promessa de Brasil grande que resultou em terra arrasada.
...De lideranças que surgiram com a redemocratização esperava-se apreço pelas instituições e pelo diálogo.
O mea-culpa de McNamara contrasta com a pequenez por aqui.
Reconhecer erros e restabelecer o diálogo seria o começo da reconstrução".
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