quarta-feira, 21 de setembro de 2016

LULA NA HORA DA VERDADE: SE NÃO FICAR ESPERTO RAPIDINHO, ACABARÁ EM CANA.

Colocado na berlinda, Lula está repetindo o grande erro de Dilma Rousseff e, se não, ficar esperto rapidinho, perderá não apenas mordomias palacianas, mas algo muito mais precioso: a liberdade.

Dilma, que quando era Wanda sabia muito bem o quanto a razão de Estado achatava a democracia burguesa nos momentos de crise, pareceu ter desaprendido e teimou em travar a batalha do impeachment no terreno meramente jurídico, tentando provar que pedaladas fiscais não constituíam crime de responsabilidade.

Ora, o xis da questão eram a economia em recessão aguda e marchando para a depressão, eram os quase 12 milhões de desempregados, era a iminência dos distúrbios sociais que inevitavelmente ocorreriam se o governo continuasse em parafuso durante alguns meses mais, com reais chances de darem ensejo a um golpe de verdade e a uma nova ditadura sanguinária.

Então, ao invés de ficar repetindo sem parar a lengalenga do "estão condenando uma mulher inocente!", deveria é ter buscado um acordo com os inimigos, pelo qual lhes entregasse o comando da economia e das grandes decisões, mas permanecesse até o fim do seu mandato como presidente figurativa. Seria menos traumático para todos.  

Agora é a vez do Lula, que também teima em travar a batalha no terreno que mais convém ao inimigo.
Aceitando o exílio em São Borja, Vargas evitou o pior. 

Ele desperdiça tempo e esforços com besteirinhas do tipo "as provas são insuficientes", mas não é isto que conta para a grande maioria dos brasileiros, e sim o fato de que as maracutaias brotaram como cogumelos durante os governos petistas, o que as investigações provaram e a imprensa adversa incumbiu-se de martelar dia e noite na cabeça dos seus públicos.

Dilma caiu porque estava conduzindo o País ao caos econômico. Lula acabará preso porque, independentemente de ter ou não recebido uma parte do butim, fossem o que fossem o sítio e o triplex, o povo está convencido de que a roubalheira grassava solta e desmedida ao seu redor. É crível que um sujeito astuto como ele a ignorasse por completo?

O melhor filme de tribunal que conheço é O Veredicto (d. Sidney Lumet, 1982). Erro médico transformou uma parturiente em vegetal. O hospital pertence à Igreja Católica, que contrata a melhor equipe jurídica disponível. No julgamento, uma antiga atendente dá testemunho dramático do que realmente ocorrera, mas o brilhante advogado de defesa consegue que seu depoimento seja anulado em razão de uma filigrana legal.

Enquanto os jurados deliberam, um assessor comenta com o arcebispo que a batalha está ganha, no terreno do Direito. O arcebispo, apreensivo, indaga: "Mas, você acreditou nela [a testemunha-bomba]?". Todos haviam acreditado. E o júri produz uma sentença simplesmente devastadora contra o hospital.

Então, não serão as minúcias jurídicas que vão salvar Lula. Sua única chance, como já expliquei neste artigo, é mirar-se no exemplo de 1945 de Getúlio Vargas, entrando em acordo com o inimigo para preservar-se pessoalmente e evitar o pior.

Qual seria a vantagem, para o outro lado? Uma que se depreende da coluna de Hélio Schwartsman desta 4ª feira, 21:
"A esmagadora maioria dos políticos adoraria parar a Lava Jato. Essa é uma pauta ecumênica, perseguida tanto por membros do governo Temer como por gente do PT. Não passam de dezenas os parlamentares de fato dispostos a deixar que as investigações continuem até o fim. E, se a maioria encontrar um jeito de limitar a operação sem ser responsabilizada perante a opinião pública por isso, não hesitará em empregá-lo".
Eu apostaria que o real empecilho à pizza anunciada, neste momento, seja a intenção da direita de sepultar definitivamente a carreira política do Lula, não repetindo o que ela certamente considera um grande erro (tê-lo deixado safar-se incólume do escândalo do mensalão em 2005).

Se Lula concordar em pendurar as chuteiras, os políticos profissionais poderão finalmente fazer aquilo com que sonham há muito tempo. Aliás, não tenho dúvidas de que, de um jeito ou de outro, mais cedo ou mais tarde, Moro e os procuradores serão enquadrados, pois o Brasil não se tornou jacobino num passe de mágica nem é possível extirpar-se a corrupção sob o capitalismo.

Se, pelo contrário, Lula insistir em travar até o mais amargo fim uma batalha de antemão perdida, a Operação Lava-Jato prosseguirá vitimando situacionistas e oposicionistas por mais alguns meses, mas ele acabará, já septuagenário, vendo o sol nascer quadrado. Compensa?

Por motivos até sentimentais (nenhum revolucionário deixa de ser, à sua maneira, um romântico), eu detestaria que ele terminasse a vida tão mal; ainda por cima, sendo tripudiado pelas vejas da vida. 

Mas, a decisão é dele. Só posso mostrar-lhe o caminho das pedras, torcendo para que lhe caia logo a ficha de que a cana é dura e o tempo das bravatas ficou pra trás...

3 comentários:

Mario Ferraz disse...

Não dá para comparar Lula com Getúlio. Não estou dizendo que o artigo afirma isso.

Getúlio tinha formação. Em sua biografia consta que tinha lido as obras de Nietzsche e tudo leva a crer que era ateu. No poder, para enganar as massas de trabalhadores, falava em Deus.

Foi um ditador e toda ditadura silencia os opositores, tortura e assassina.

Lula saindo da presidência copiou Fernando Henrique montando um instituto para sua imagem.Que genialidade aplaudida por sua turma mais próxima!

Deveria ter deixado o partido escolher seu sucessor, aguardando 2014 ou 2018.

Mas a hubris de que tanto falavam os antigos gregos, o seu orgulho, a sua presunção, a sua vaidade, com base na aprovação de 80% quando deixou o governo, impôs uma incompetente e despreparada que ocupou a da cadeira presidencial.

Quer reparar seu maior erro político. No entanto nos discursos em palanques, em auditórios de sindicatos embora não use o antigo bordão "NUNCA DANTES NESTE PAÍS", mas também não ataca o capitalismo que tanto infelicita nosso povo.

Não explica a causa porque sua pupila foi tirada do governo que é manutenção das taxas de lucro agora tirando a pele dos trabalhadores.

Com seus discursos continua enganando o povo em vez de esclarecê-lo.

Pelos 08 anos de conciliação de classe no seu governo não tem como fazer isso.

Tornou-se um estorvo para luta do trabalhador e não tem consciência disso.


celsolungaretti disse...

Concordo. Mas, não creio que, chegando aos 71 anos, o Lula conseguisse reerguer-se da derrota que sofreu, mesmo sem a Lava-Jato no seu pé. Enfim, ficarei contente se ele passar o resto de seus dias em liberdade, curtindo os filhos e netos, bem longe da política. Pertence a uma etapa encerrada da nossa história política, deve ir pro museu e não pra cadeia.

Isto vale também para o Zé Dirceu, a quem a Dilma, com uma pequenez chocante, não concedeu o indulto natalino. Não concordo com que o Lula deva ser considerado um mártir e o Zé, um traste. Para mim, há muito de hipocrisia nisto.

Mauro Julio disse...

Num país em que a educação é das piores do mundo como o nosso, a maioria das pessoas constroem suas convicções com fantasias que as emocionam. A verdade, o fato concreto, que nos conduz ao óbvio, não faz parte da cultura da maioria do nosso povo. Isso é coisa mais próxima dos anglo-saxões e dos asiáticos que os copiaram com sucesso, depois do fracasso de terem se embrenhado também em fantasias.
A religião política ou ideologia, o que dá no mesmo, é a responsável pelas "verdades" que a maioria traz dentro de si por aqui, quando se trata de administração pública. Do poder político.
Se Lula, não tivesse se contaminado com ela, hoje não estaria enfrentando os problemas com a justiça. Mas, ele não teve defesa cultural para evitá-la. Fez o que fez. Deve pagar por isso. Assim como um dos sacerdotes dessa religião Zé Dirceu que o contaminou.
Só para não deixar passar, o MST começou com o óbvio: a reivindicação de terras, o que todos nós, o país, apoiou. Mas , com o tempo vieram os sacerdotes do "bem" e os transformaram massa de manobra para seus fins: o poder político absoluto: se foderam, os pobres coitados, que queriam terras.

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