LÚCIO FLÁVIO, PASSAGEIRO DE UMA
AGONIA QUE PERDURA ATÉ HOJE.
AGONIA QUE PERDURA ATÉ HOJE.
Os brasileiros avessos a argentinos que me desculpem mas, depois da morte de Glauber Rocha e do declínio dos grandes nomes do cinema novo, foi o hermano Hector Babenco quem segurou as pontas da cinematografia brasileira em termos de qualidade e relevância, pelo menos até a afirmação de Walter Salles na década de 1990.
E, sem desmerecer Pixote: a lei do mais fraco, O beijo da mulher aranha e Carandiru (clique nos títulos para abrir), sua obra-prima é mesmo Lúcio Flávio, o passageiro da agonia (pode ser assistido na janelinha abaixo), de 1977, que esmiuçou a atuação da polícia bandida – ou seja, da polícia que era parceira dos bandidos, fornecendo-lhes armas e proteção em troca de parte substancial do produto dos roubos – e o nascimento do Esquadrão da Morte no Rio de Janeiro. Um filme que contrastou vivamente com as produções cautelosas daquela fase da ditadura.
Ótima direção de Babenco, marcantes atuações de Reginaldo Faria como o bandido Lúcio Flávio Vylar Lirio (um personagem interessante, pois se tornou criminoso após ver sua casa invadida e seu pai humilhado por agentes do Dops durante uma festa de casamento) e de Paulo César Peréio como o policial Moretti (ersatz do famoso Mariel Mariscot), e um tema que continua atualíssimo, pois a associação entre policiais e criminosos só fez aumentar desde então, assim como as ilegalidades e torturas praticadas nas delegacias.
Aliás, a forma chocante como as torturas são mostradas no filme foi o que mais causou espanto em 1977. Mesmo não se tratando de maus tratos infligidos a prisioneiros políticos, tratava-se de um tema tabu. Foi uma surpresa o filme ser liberado pela censura, sinalizando que o pior momento da ditadura havia finalmente passado.
Recomendo enfaticamente. (post originalmente publicado em 2014)
5 comentários:
Assisti o filme no cinema, mas não sei se assistirei de novo.
Celso, parece que há uma outra leitura do seu texto em que posso estar enganado.
Acredito que vc aponta para ocorrências recentes de assaltos espetaculares...
Será que foi isso mesmo?
Consórcio tipo "Lücio Flávio"?
Adianto que acho a idéia uma boa linha de investigação para desvendar os crimes. E se for verdade contribuiria para melhora da segurança de todos.
Ora, enquanto o Ministério Público corre atrás dos criminosos do colarinho branco, certamente esses esquemas de delegados e investigadores com os bandidos da pesada devem estar funcionando a todo vapor. Onde essa gente iria buscar armamento pesado para estourar caixas eletrônicos, p. ex.?
Outra vez na França onde terroristas fazem o que querem. Bélgica, Espanha e toda a casa da mãe joana europeia comum...depois as esquerdas de todo o mundo fazem cara feia pq o reino unido não quer fazer parte dessa muvuca europeia.
Se abre as portas para esses demônios eles farão la o mesmo que fazem no continente já que terão transito livre assegurado...
O mundo latino - europeu ou americano - é o território livre onde nada se aprende e nada se esquece.
Caro celso. Armamento pesado esta sobrando no Paraguai. Atravessar a fronteira é facílimo. Discordando, quem tinha de cuidar da fronteira é a Polícia Federal. Nós (me incluo) Investigadores e meus chefes Delegados tentamos investigar e prender aqueles que estouram caixas eletrônicos. Infelizmente existe uma minoria que denigre a imagem das polícias Civil e Militar se envolvendo em corrupção. A federal só prende a picanha, quem entre em Paraisópolis, San Remo etc é a Civil e a Militar, afinal enfrentar Fuzil e metralhadora é muito mais difícil que entrar na casa do dono de empreiteira, Construtora apreendendo documentos e ganhando um salário 3 vezes maior. Outro detalhe, o Estadão divulgou( repassado pelo DEIC) que quase 90 % do dinheiro que foi roubado das empresas de segurança foi para a mão do PCC. Abraço.
"Meu amigo Babenco." Não um amigo convencional. Não o conheci, nem convivemos pessoalmente. Mas somos da mesma geração. E assisti à maioria de seus filmes, desde "O Rei da Noite" até "Meu amigo Hindu". Este me tocou profundamente, de uma forma especial e chorei quase o filme inteiro, pelo filme como um todo, não apenas pelo seu tema mais aparente. E todos os seus filmes, ao longo desses 40 anos como espectadora assídua, sempre me trouxeram reflexões profundas e determinantes, sobre a vida, os seres humanos, o cinema, a arte. E me tornaram uma pessoa melhor. Amadureci vendo os filmes do Babenco. Não é este o papel de um grande e verdadeiro amigo.
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