.A VOZ DAS RUAS
Em junho de 2013 o povo saiu às ruas em grandes manifestações sem nenhuma chamada oficial pela grande mídia. A motivação catalizadora era um protesto contra o aumento das passagens de ônibus, mas a motivação maior era a insatisfação com a incapacidade do Estado de prover as demandas sociais e os baixos salários (ou salário nenhum). As manifestações inicialmente tiveram cunho pacífico e contaram com a participação de uma classe média insatisfeita com as dificuldades que se lhe começavam a incomodar; depois derivaram para a depredação de lojas, bancos e até morte praticada por revoltosos (chamados de vândalos pela grande mídia e que foram contestados por manifestantes pacifistas).
A insatisfação foi em seguida canalizada para o debate político eleitoral de 2014, e que polarizou na fase final entre dois candidatos, com a vitória de um deles por margem apertada.
Veio a posse do governo reeleito; o agravamento da crise internacional e nacional; e com ela o aumento da insatisfação, que passou a ser incitada pela grande mídia, transformando-se então em manifestações gigantes.
As multidões nas ruas têm uma força impressionante, daí o atendimento do apelo popular pelos políticos, que derrubaram o governo eleito. Mas os tradicionais detentores do poder econômico e político, que manipulam a insatisfação popular quando lhes convém, certos de que a conseguirão manter dentro do limite dos seus interesses, correm um grave risco –o de a insatisfação virar insurreição popular.
A crise que tragou o governo de Dilma e ainda está longe de ser debelada, não é de gestão, ou não é apenas de gestão; não é decorrente apenas da corrupção (que existia e continua existindo); mas é estrutural.
A crise sistêmica decorre da incapacidade internacional e nacional de reprodução aumentada da massa de valor global, como resultante de um processo de relação social que se exauriu graças ao desemprego estrutural –não há valor válido sem trabalho abstrato.
Não se trata de uma marolinha, como chegou a dizer o Lula, e nem pode ser consertada apenas por um judiciário que se entrega a um repentino e faccioso acesso de combate à histórica corrupção nos negócios públicos que são perniciosos para o povo, mas alimentadores de um sistema intrinsecamente corrupto. O buraco é mais embaixo, como ouvi de uma trabalhadora analfabeta, na sua sábia intuição.
Das mega-manifestações fica uma lição: muito cuidado com o poder das ruas, porque a insatisfação popular continuada, açulada pelo segmento formador de opinião despossuído, pode mudar o rumo de tudo.
As ruas tanto podem derrubar o czar de todas as Rússias quanto levar um Hitler ao poder. E nem mesmo a rede Globo, que leva a manipulação dos videotas ao perfeccionismo, consegue controlar o humor das massas indefinidamente. (por Dalton Rosado)
As ruas tanto podem derrubar o czar de todas as Rússias quanto levar um Hitler ao poder. E nem mesmo a rede Globo, que leva a manipulação dos videotas ao perfeccionismo, consegue controlar o humor das massas indefinidamente. (por Dalton Rosado)
Um comentário:
Os caras sabem disso e estão tentando anestesiar o povo, mas está ficando cada vez mais difícil.
E para onde irá o imenso contingente de jovens desempregados?
Na cidade dificilmente ficarão, pois a cidade só é viável até certo ponto.
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