quarta-feira, 23 de março de 2016

TEORI NÃO ASSISTIU A "O VEREDICTO"

O melhor filme de tribunal de todos os tempos se chama O veredicto. É de 1982. Foi resultado de uma sinergia de talentos superlativos.

O diretor Sidney Lumet já mostrara sua afinidade com o gênero desde a estréia no cinema com outro clássico inesquecível: 12 homens e uma sentença (1957). Dramas tensos e contundentes, flagrando as contradições de uma sociedade desumana, são sua especialidade.

O roteirista (e também autor teatral) David Mamet vem sendo, nas últimas décadas,  a mais saliente manifestação de vida inteligente em Hollywood e na Broadway.

Paul Newman está entre os melhores atores da segunda metade do século passado e interpretou um dos papéis culminantes de sua carreira em O veredicto (o outro foi em Desafio à Corrupção).

Igualmente magníficos eram James Mason, Jack Warden e Charlotte Rampling.

Infelizmente, o filme não está disponível para visualização cá no blogue. Quem sabe fazer o download, poderá baixá-lo aqui

Lembrei-me de O veredicto ao ler que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, mandou trancar a sete chaves o que consta no inquérito da Operação Lava-Jato a respeito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 

Desde que foi indicado pela presidente Dilma Rousseff, suas decisões tendem a alinhar-se com as posições situacionistas. O que pode indicar apenas que se trata de um senhor que admira quem tem o poder e se enraivece quando um Sérgio Moro da vida ousa escancarar a nudez de reis e rainhas, na esperança de abrir os olhos do povo.

Aliás, desde o caso do Luiz Fux, todas as indicações presidenciais ficaram sob suspeita. Fux, como se sabe, fez o Zé Dirceu crer que, uma vez empossado, ajudaria os réus do mensalão a escaparem da condenação (ele admitiu que criava tal impressão dizendo "deixa comigo que eu mato no peito e chuto").

Quando já estava garantido na condição de ministro do STF, chutou, isto sim, os mensaleiros para  o xilindró. Nos bastidores do PT, ficou sendo tão odiado quanto o Joaquim Barbosa.

Em O veredicto, o advogado Frank Galvin (Paul Newman) que se abatera após sofrer terrível injustiça, tornando-se alcoólatra e decadente, se vê às voltas com um caso que pode ser a chance de acertar as contas com o destino.

Como da primeira vez, do outro lado estão os poderosos, com a força da grana, da mídia e da respeitabilidade acadêmica. A luta é desigual ao extremo. Mas, se não vencer, ele nunca se reerguerá. "Não existe outro caso, este é o caso!" --afirma, a quem tenta consolá-lo com a perspectiva de vitórias vindouras.

Quando o inimigo, além de tudo, recorre ao suborno e ao jogo sujo, acuando-o, só lhe resta jogar sujo também. Viola sigilo de correspondência, desencava uma testemunha-bomba e prova irrefutavelmente ao júri que sua cliente fora transformada em vegetal por causa de um erro médico cometido pelo luminar de um conceituado hospital católico, que abafou o caso e esquivou-se de arcar com suas responsabilidades.

O brilhante líder do escritório de advocacia contrário (James Mason), apelando para filigranas jurídicas, consegue que o testemunho seja impugnado. O juiz manda os jurados esquecerem o que ouviram. 

Em suas alegações finais, Galvin invoca o espírito de Justiça. Diz que tudo aquilo (o tribunal imponente, o símbolo da balança, as togas antiquadas) é apenas uma representação da vontade que os homens têm de serem justos. E, quando a letra da Lei se choca com a verdade que está em nossos corações, é a estes que devemos ouvir.

O júri não só lhe concede a vitória, como pede licença ao juiz para aumentar o valor da indenização por ele pleiteada.

Da mesma forma, Teori está de acordo com a letra da Lei ao nos pedir que esqueçamos o que lemos, ouvimos e que, por vir ao encontro do que já sabíamos ou intuíamos, era a peça que faltava para completarmos o quebra-cabeças.

As pesquisas de opinião atestam que, desde então, formou-se uma convicção; as pessoas perspicazes já sabem qual é a verdade. Estão, portanto, condenadas ao fracasso as tentativas de colocar o gênio de volta na garrafa. 

Um comentário:

SF disse...

Só agora consegui ver o filmee entendi o sentido profundo das suas palavras.

Na internet existe o meme "eu vi coisas que não podem ser desvistas".

E nós ouvimos coisas que não serão mais desouvidas!

É verdade que o magistrado impôs uma censura, mas foi tarde

A Sereníssima já falou ao povo.

Leis e salsichas, já alertava Bismark...

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