Uma das marcas registradas do meu trabalho é permanecer fiel a teorizações marxistas das quais a maioria dos veteranos da esquerda esqueceu ou prefere, convenientemente, ignorá-las (quanto aos jovens, temo que grande parte não tenha lido nossos chamados clássicos).
Uma delas é a de que a pujança de uma sociedade é determinada pelo seu polo mais avançado. Quando este prevalece, a sociedade avança. Se este é detido, a sociedade encrua.
O exemplo clássico: se a vitória da União na guerra civil estadunidense não houvesse removido os empecilhos à industrialização, aquele país dificilmente teria se tornado uma potência no século 20.
Marx era enfático quanto à postura que os marxistas deveriam adotar em países semifeudais ou de desenvolvimento tardio: num primeiro momento, favorecerem a implantação plena do capitalismo, minando as forças políticas representativas e responsáveis pelo atraso; isto feito, travarem a luta que mais importava, pelo fim do capitalismo e advento do socialismo.
Então, quando vi o PT perder influência nos grandes centros urbanos e depender cada vez mais dos grotões para ganhar eleições, igualzinho ao PDS nos estertores da ditadura militar, soube que chegaríamos onde estamos agora. Países nos quais a eleição dos presidentes é decidida pelos votos das regiões com baixo dinamismo econômico tendem à estagnação; a qual, por sua vez, deforma-lhes o sistema político e os predispõe à ingovernabilidade. Daí decorre, finalmente, a derrubada dos mandatários, de uma ou doutra forma, sob uma ou outra justificativa.
O PT marchou cegamente para o abismo. Poderia ter tentado virar o jogo apostando, pelo menos, na reconquista dos formadores de opinião --mas isto implicaria abrir mão de muitas prática odiosas que passou a adotar, como o acumpliciamento com o agronegócio selvagem em detrimento da sustentabilidade.
Hoje o Brasil pujante quer o fim da hegemonia do PT, que tem como seu último e frágil sustentáculo o velho assistencialismo. O xeque-mate é só questão de tempo. Pode demorar alguns meses, pode acontecer nos próximos dias.
Hoje os formadores de opinião detestam tanto o PT que os politizados leitores da Folha de S. Paulo aprovam, por 76% x 22%, até mesmo a flagrantemente exagerada condução coercitiva de Lula para prestar depoimento. Nos tempos do Lula-lá, ele era um ídolo para tal segmento. Hoje não passa de um pixuleco.
Quando este pesadelo tiver fim e começarmos a reconstruir a esquerda --vem aí uma fase de muitas críticas e autocríticas, rompimentos, adesão a outros (ou criação de novos) partidos em substituição aos que necrosaram como o PT--, uma lição a ser levada muito em conta é a de que temos de novamente nos sintonizar com os ímpetos transformadores da sociedade. O progresso e a modernidade não devem ser abominados, o bom selvagem de Jean-Jacques Rousseau não passa de uma relíquia ideológica.
Mas, o progresso econômico precisa ser humanizado, servir ao homem e não o subjugar e aviltar, como acontece sob o capitalismo. Era assim que Marx via a coisa, e ele estava certo, como quase sempre em quase tudo.
Quem não dormiu no sleeping-bag, nem sequer sonhou...
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