Foi mais um passeio do Barcelona. A conquista do Mundial de Clubes da Fifa, neste domingo (20) em Yokohama, não esteve ameaçada em momento algum. 3x0 foi pouco.
O River Plate caiu na besteira habitual de times que enfrentam o Barça: armou uma retranca brava e ficou rezando para que um lance salvador caísse do céu.
O Barcelona, como sempre, buscou o jogo, pois quem procura tem muito mais chance de achar. Foi trocando bolas no ataque até encontrar uma brecha para seus cracaços fazerem a diferença.
Aconteceu aos 35' do 1º tempo. Daniel Alves levantou para Neymar disputar com um zagueiro, o brasileiro subiu muito e espanou a bola para Messi matá-la e dar um toque mágico, acrobático, fazendo-a a passar por um espaço mínimo entre os três defensores. Se ainda havia alguma dúvida sobre quem receberá a Bola de Ouro da Fifa, Messi a dissipou de vez.
O pobre River foi obrigado a correr o risco que tentava evitar. Voltou do intervalo com uma postura ofensiva e o melhor time do mundo não perdoou: logo aos 4' Busquets lançou Suárez em profundidade, este chegou na cara de Barovero e arrematou entre as pernas do goleiro argentino.
Daí até o final a equipe catalã fez o River de gato e sapato, desperdiçando uma meia-dúzia de gols, pois Neymar e Messi andaram algo dispersivos nos momentos agudos.
Suárez queria mais: aos 22' recebeu um passe perfeito de Neymar pelo alto e cabeceou colocado.
Suárez queria mais: aos 22' recebeu um passe perfeito de Neymar pelo alto e cabeceou colocado.
Vi muita coisa no futebol, mas nunca uma concentração tão exuberante de talentos ofensivos como a do tridente sul-americano do Barça, ainda mais tendo a apoiá-lo o extraordinário Andrés Iniesta.
Decidem mesmo quando estão não estão num dia dos mais inspirados. Suárez fez os dois gols que liquidaram o River, mas perdeu outros dois. Messi tirou coelho da cartola quando era mais necessário, depois vacilou em situações até melhores. Neymar às vezes foi fominha, mas compensou com as duas assistências que acabaram nas redes.
A coisa anda tão desequilibrada que, mesmo impedido de reforçar-se nesta temporada por uma decisão esdrúxula da Fifa, o Barcelona termina 2015 como vencedor das três principais competições que disputou (o Mundial de Clubes, a Liga dos Campeões e o campeonato espanhol) e de duas menores (a Copa do Rei e a Supercopa da Uefa). Só ficou faltando a Supercopa da Espanha, na qual, voltando das férias, foi surpreendido pelo Athletic Bilbao.
O melhor de tudo é que o predomínio do Barça de 2005 para cá vem sendo o carro-chefe de um novo apogeu do futebol-arte, quando pensávamos estar condenados ao defensivismo, à truculência e excesso de faltas, às ligações diretas, aos chutões pra todo lado e aos gols resultantes de bolas paradas.
O melhor de tudo é que o predomínio do Barça de 2005 para cá vem sendo o carro-chefe de um novo apogeu do futebol-arte, quando pensávamos estar condenados ao defensivismo, à truculência e excesso de faltas, às ligações diretas, aos chutões pra todo lado e aos gols resultantes de bolas paradas.
Aliás, ultimamente se evidenciou bem, por aqui, a diferença entre o presente e o passado: o Corinthians conquistou o Campeonato Brasileiro com um futebol tão bonito quanto eficiente, superior em todos os quesitos, enquanto o Palmeiras foi buscar uma Copa do Brasil na bacia das almas dos pênaltis, aos trancos e barrancos, sem jamais convencer de que era mesmo a melhor equipe que sobrara (o Corinthians e o Atlético Mineiro, visivelmente, deram um jeito de ser eliminados depressa para se dedicarem apenas ao Brasileirão).
Há quem torça o nariz para as competições que premiam a constância e a qualidade, preferindo as emoções baratas dos mata-matas, que nivelam os competidores por baixo e dão chance para que equipes guerreiras em jornadas afortunadas surpreendam os melhores.
Mas, pelo visto nos últimos Mundiais de seleções e de clubes, não é por aí que voltaremos aos nossos anos de ouro, reconquistando a hegemonia perdida.
2 comentários:
Até hoje não entendo o porquê. Como pessoas aparentemente inteligentes e informadas, seja da esquerda, do centro e da direita, até mesmo do raio que as parta, perde tempo com esportes de competição. Coisa absolutamente comercial.
Vinte e dois marmanjos disputando um balão de ar, ou dez, ou doze. Dois com objetos trançados trocando arremessos sobre um rede. Um piloto, nada solitário, num veículo automotor, conduzindo marcas. Tudo reduzido a publicidade e patrocínios corporativos. O pior é que por muitos deles matam ou morrem.
Não consigo compreender. O tempo e a energia dispendidos a troco de uma fugaz emoção, numa tentativa, talvez, de substituir a miserável existência, seja material ou espiritual, é uma das coisas mais patéticas que presencio.
A adoração dos ídolos, nos chamados esportes como nas ditas artes, totalmente reduzidos ao retorno monetário, está além do meu entendimento. Talvez este seja o período da história humana dominado pelas nulidades, tanto individual quanto coletivamente. Era destinada a ser resumida em meras notas explicativas pelos historiadores do futuro.
Rebolla, quem olha a coisa desse jeito, com prevenção e hostilidade, nunca entenderá mesmo nada. Sem noção da complexidade e dificuldades inerentes a cada esporte, como avaliar e, mais ainda, apreciar?
Sugiro que você leia O SOL TAMBÉM SE LEVANTA, do Ernest Hemingway (sobre touradas); A LUTA, do Norman Mailer (sobre boxe); À SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS, do Nelson Rodrigues (sobre futebol), etc. São fascinantes.
Talvez você consiga captar um encanto que, às vezes, ganha dimensão bem maior do que seu aspecto financeiro.
Ou reflita sobre o que ainda busca um Roger Federer, rico e realizado, mas capaz de esforços inauditos para manter-se competitivo numa idade em que a quase totalidade dos tenistas já está decadente ou pendurou a raquete.
O cara já é o maior de todos os tempos, mas ainda sente prazer em estar nas quadras nas quadras, enfrentando adversários da segunda ou terceira geração posteriores à sua; e o público retribui com uma verdadeira adoração, ciente de que está assistindo às últimas façanhas de uma lenda viva.
O esporte é uma das poucas possibilidades que o insosso mundo atual nos oferece de ultrapassarmos nossos limites; e também de conseguirmos entrosamento perfeito com nossos pares, formando equipes em que o resultado final consegue ser bem maior do que a soma das partes (p. ex., o Corinthians atual, com alguns jogadores brilhantes e os restantes, medianos, mas cujo conjunto consegue encher os olhos dos admiradores do bom futebol).
Enfim, talvez esteja perdendo meu tempo. Quem não começa cedo a familiarizar-se, dificilmente o fará na maturidade. Eu já entendia e gostava do futebol aos seis anos de idade, torcendo pelo meu time e tentando, em vão, me tornar bom goleiro.
Com o tempo, passei a gostar cada vez mais do que há de beleza no esporte e a ser cada vez menos um obcecado pelo meu time. Em vários momentos, quando este me desagradava, deixei-o em segundo plano e passei a acompanhar as partidas de equipes estrangeiras com futebol mais vistoso, como o Napoli de Maradona ou o Barcelona dos últimos 10 anos.
Enfim, o papo seria longo. Melhor parar por aqui.
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