domingo, 22 de novembro de 2015

DETERIORAÇÃO AVANÇA: DESEMPREGO JÁ SE APROXIMA DA CASA DE DOIS DÍGITOS.

Neste sábado, eu e o Apollo Natali, meu ex-colega de Agência Estado e amigo há quase três décadas, tivemos o prazer de papear com o Rui Martins, o grande jornalista que foi para a Europa quando pipocavam os boatos de que estava na lista negra da ditadura militar, prestes a ser preso (o que Vladimir Herzog também deveria ter feito, por sinal).

Acabou ficando e, ganhando a vida como colaborador dos jornais e revistas de lá, nunca perdeu contato com as coisas do Brasil e dificilmente passa um semestre sem dar as caras por aqui. 

Ele foi o primeiro jornalista a engajar-se na luta pela liberdade de Cesare Battisti, carregando o piano no momento mais difícil, quando má parte da nossa esquerda preferia acreditar nas baboseiras rancorosas do Mino Carta, inimigo figadal dos ideais de 1968 e dos revolucionários italianos que ousaram confrontar a hegemonia do domesticado PCI.
Rui coincide comigo na avaliação de que o segundo mandato de Dilma tende a ser cada vez mais desastroso para o Brasil (explorados e coitadezas em primeiro lugar!) e um verdadeiro tsunami para a esquerda brasileira, atirando nosso prestígio e credibilidade no fundo do mais fundo poço. Mas, está desanimado com o aparente êxito palaciano em represar as mudanças necessárias recorrendo às jogadas imundas da politicalha (as mesmas que, com um estelionato eleitoral do tipo o brigadeiro Eduardo Gomes despreza o voto dos marmiteiros, garantiram-lhe a vitória-bumerangue de 2014).

Eu repeti o que há muito venho escrevendo: essas escaramuças na esfera dos podres poderes só alongam a agonia de um governo sob o qual a crise econômica se agudizará até tornar-se avassaladora. Não são as matreirices do Cunha que vão derrubar Dilma, mas sim a ortodoxia econômica e a crassa incompetência do Levy. Quando a recessão (ou depressão) começar a gerar turbulência social, alguma solução vai ser encontrada pelas forças políticas para impedir que o País exploda. 

Sei que a minha avaliação é meio chocante para os internautas que engolem a desinformação da rede chapa branca, majoritariamente incapazes de fazer uma leitura correta do quadro econômico e mesmerizados pela ópera bufa da política oficial. Então, reproduzo adiante um bom balanço da situação atual. 

O encolhimento já admitido do PIB (de mais de 3% em 2015), o avanço da inflação (9,99% é conta de mentiroso) e a escalada do desemprego são mais do que suficientes para os perspicazes perceberem que há uma tempestade se formando, para desabar com força total em 2016. Quanto aos demais, nada os convencerá, a ficha só vai cair para eles quando as multidões já estiverem saqueando supermercados e sendo reprimidas à bala. 

Antecipando-me à habitual desqualificação dos que preferem ignorar as verdades desagradáveis enfiando a cabeça na areia, explico que o editorial é um item muito nobre de um jornal e tratado com o máximo rigor em termos de informação; discutíveis são as opiniões nele expressas, mas dados como os que a Folha de S. Paulo alinhavou neste, dominical, tendem a ser sempre rigorosamente exatos, sob pena de enorme desmoralização do veículo. 
Portanto, vale a pena lermos, acreditarmos e fazermos tudo que estiver a nosso alcance para deter essa marcha da insensatez.

A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE atesta que a deterioração do mercado de trabalho nas seis regiões metropolitanas acompanhadas (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Porto Alegre) avança numa velocidade cada vez maior.

A população ocupada caiu 3,5% em outubro, em relação ao mesmo mês de 2014, um ritmo inédito na série histórica. Por sua vez, a taxa de desemprego subiu para 7,9%. Há um ano, era de 4,7%.

A alta só não é maior porque continua a encolher a parcela dos que procuram emprego. A chamada taxa de participação, que mede o número de pessoas economicamente ativas em relação à população total em idade de trabalho, diminuiu de 56,2%, há um ano, para 55,4% em outubro. Se o índice tivesse ficado constante, o desemprego estaria em torno de 9%.

Talvez esteja em curso, por ora, o chamado efeito desalento –muitos indivíduos deixam de procurar emprego por acreditar que dificilmente terão sucesso em uma conjuntura tão negativa. Alguns recorrem às famílias, outros contam com seguros pagos pelo governo.

Por suas próprias características, contudo, tal efeito dura poucos meses. Com o elevado nível de endividamento das famílias e a queda da renda real (acima da inflação), logo não haverá alternativa senão voltar ao mercado em algum momento –e isso vai pressionar as taxas de desemprego.

O drama adquire contornos ainda mais cruéis quando se observa que a faixa etária mais afetada é a de jovens de 18 a 24 anos, entre os quais o desemprego saltou de 11,8% para 19,5% em apenas 12 meses. Assiste-se, assim, à reversão da dinâmica dos últimos anos, quando esse grupo passou a adiar a busca por trabalho –muitas vezes para estender os estudos.

Outra consequência desse quadro está na queda da massa real de salários: decréscimo de 10,3% no período. Trata-se do pior resultado desde 2003, quando caiu 12%. Não espanta que a recessão ora se aprofunde, com queda adicional das vendas e dos empregos.

A formalização do mercado também regrediu. Fecham-se empregos com carteira assinada; criam-se vagas somente entre autônomos.

Mantido o ritmo atual de deterioração, o desemprego deve logo superar 10%.

4 comentários:

Unknown disse...

Qdo escuto loas ao "emprego" e toda a mistificação em torno do desemprego lembro do capítulo "Economia" do livro Walden de Thoreau.
Trabalhou dois meses e foi o suficiente para viver um ano.
Considerando as férias para quem vão os nove meses restantes?
Mas Thoreau era um sonhador que sentava no batente de sua cabana e passava o dia só observando, pois não era tolo o suficiente para ser empregado. Era freelancer, agrimensor.
E é tão engraçada a maneira como eke comenta os leilões dos finados.
Por aqui, o Jorge Amado nos presenteia com o inesquecível Quincas Berro D'Água. Sem quase nada mais cheios de amigos.

Quanto ao editorial, pode ser que todos estes cálculos e números apenas procurem amedrontrar o pobre empregado. Assulá-lo a trabalhar mais e mais.
Vc que é revolucionário, poderia ver o potencial corrosivo ao sistema do alto índice de desempregados.
A falência é uma saída tão boa quanto qualquer outra, mas o trabalhador parece não percebê-la e nem seus familiares.
E a sociedade de consumo não pode existir se houver muitos falidos.
Gera uma força desestabilizante capaz de fazer os caras agirem.
Eles darão um jeito...

Grave mesmo é o descongelamento do permafrost.
Isso nos levará a extinção.
Posso estar enganado, mas já soam ao longe as trombetas do apocalípse.

celsolungaretti disse...

Sady,

sabemos que a destruição irresponsável dos recursos indispensáveis à sobrevivência da espécie humana nos causará problemas terríveis adiante, ameaçando-nos mesmo com o apocalipse na segunda metade deste século.

Em economia é a mesmíssima coisa. Os dados e projeções que a Folha alinhavou --e não são inventados, existem mesmo-- prenunciam cenários terríveis no ano que vem. Simplesmente os internautas não se dão conta das consequências desses números num PAÍS QUE É E NUNCA DEIXOU DE SER POBRE, sem gordura para queimar.

A recessão entre nós é dez vezes mais devastadora do que em qualquer país europeu, mesmo a Grécia. E eu, que tenho alguma noção do assunto --não me pretendo um expert, mas trabalhei em editorias de Economia da grande imprensa o suficiente para aprender ao menos o bê-a-bá-- aflijo-me com os penares atuais e os que serão impostos ao nosso povo sofrido.

Não se é um verdadeiro homem de esquerda sem identificação com o povo e sem compaixão por ele. Eu sou e sempre serei solidários aos coitadezas dos bairros pobres, da periferia e dos grotões, não aos ex-companheiros que se venderam ao capital por um prato de lentilhas. A sustentação de um governo que jamais foi revolucionário não é prioridade nenhuma, a prioridade é, pelo menos, atenuarmos o sofrimento dos explorados, que a dupla Dilma/Levy só faz aumentar com sua terrível incompetência.

Unknown disse...

Concordo contigo que dores superlativas serão impostas aos pobres deste país.
Tais dores seriam mitigadas com programas de renda mínima universal. Programas bancados pelo aumento de impostos sobre os poderosos, combate a corrupção e ao rentismo.
Seria o óbvio numa sociedade que tenha como valores o bem, o belo, o bom e o Justo.
Estamos construindo esse tipo de sociedade, mas acredito que temos que caminhar mais nesta direção.
Me parece que o avanço se dá com recuos que duram mais que uma existência humana.
Figuras como as que citou são meros fantoches controlados por interesses que desconheço e apresentados como santos ou demônios ao sabor das conveniências.
O que está nos bastidores do cenário, a mim parece uma neurose narcísica e sua amoralidade psicopática.
A cura dessa doença mental será uma autocura, pois é o louco quem tem que abdicar da sua loucura. Vc acredita que ele fará? Temo que não.
É neste cenário de psicopatas narcisistas e com delírios esquizóides que terão que lidar os demais que tenham alguma sanidade.

Valmir disse...

"Me parece que o avanço se dá com recuos que duram mais que uma existência humana."
mas tinha de ser logo na minha vez???????

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