Os europeus sempre primaram por deitarem e rolarem em cima do cinema estadunidense em termos de qualidade, embora nunca tenham podido competir com ele no terreno dos investimentos e do marketing.
Até mesmo o western, o filão made in USA por excelência, os italianos reinventaram. E os melhores policiais são os franceses; as melhores comédias, as italianas; e o melhor terror, disparado, o britânico das companhias Hammer e Amicus, no período que começa no final da década de 1950 e se estende pelos anos '60 e '70 adentro.
Sem as maldições dos efeitos especiais e da obrigatoriedade de mimar o público-alvo adolescente, que mataram boa parte da vida inteligente no gênero, o forte eram as histórias muito bem boladas, o clima tenso e a sempre correta interpretação de atores característicos como Christopher Lee e Peter Cushing, os melhores Drácula e Van Helsing de todos os tempos.
Vai inquirindo um a um sobre seus casos (cada relato é um dos episódios que compõem o filme). No final, tem uma desagradável surpresa.
Asilo do terror (1972), o filme que escolhi para marcar o transcurso do dia das bruxas, é um dos melhores exemplares desse filão:
- pela direção sempre marcante de Roy Ward Baker, cineasta que mostrou sua excelência em Somente Deus por testemunha (1958) e tinha o mérito de não desdenhar os projetos menores que assumia para garantir o pão nosso de cada dia, imprimindo também neles sua marca pessoal (casos de Uma sepultura na eternidade, de 1967, e O conde Drácula, 1970, excelentes!);
- por se basear em histórias criadas pelo ótimo escritor e roteirista Robert Bloch (do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock);
- graças ao carisma de Cushing --o cast inclui Britt Ekland, Charlotte Rampling, Herbert Lom e Patrick Magee;
- e em função da trilha musical fortíssima de Douglas Gamley, outra figurinha carimbada do terror britânico das décadas de 1960 e 1970.
Vai inquirindo um a um sobre seus casos (cada relato é um dos episódios que compõem o filme). No final, tem uma desagradável surpresa.
7 comentários:
Celsão, na boa? acompanhando seu resumo dos principais cinemas nacionais e suas características eu me atreveria a dizer que assim como os franceses inventaram o cinema mesmo e a dramaturgia cinematográfica no começo, e depois o cinema-cabeça com a nouvelle vague e com Goddard pondo atores pra ler trecho de livros até falar chega; os italianos inventaram o cinema propriamente politico-ideológico com o neo realismo ou o onírico-poético com Felini; os russos inventaram um tipo de cinema épico com Eisenstein. Daí vieram os americanos e inventaram o cinema..divertido; e ninguém mais os perdoou por isso.
Taí uns imprestáveis enchendo o saco do Tarantino por conta de um pretenso racismo em seus filmes e tal...
Eu diria que os europeus criaram arte cinematográfica, uma culinária requintada, e os estadunidenses fazem entretenimento, um fast food das telas. Ou uma comida chinesa: quando vc sai do cinema, já esqueceu tudo.
Quanto ao Tarantino, o BASTARDOS INGLÓRIOS é um dos filmes mais repulsivos que eu vi na vida, pois espetaculariza a tortura e assassinato do "inimigo". Tudo que eu tinha a dizer sobre ele, disse aqui:
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com.br/2010/01/volta-do-critico-acidental.html
Desculpe, Valmir, mas neste assunto somos mais antípodas do que às vezes somos na política...
Um forte abraço!
Tá bom..e as séries televisivas?? nunca vi vc falando nada sobre: breaking Bad, House of Cards The Walking Dead, The Americans (excelente)...
ahhh sim seu guru Paulo Francis cansou de dizer que cinema não era pra levar a sério de jeito nenhum...agora não dá pra divertir adoidado com Testa de Ferro por Acaso (The Front)..ou Bananas??
ahhhhh Bananas não, sei que não deve gostar né??? ridiculariza a revolução cubana e Fidel até não poder mais...mas e Um Assaltante Trapalhão??
Não tenho saco para longas séries como "Breaking Bad" (afora ter sentido, logo de cara, forte antipatia pelo personagem principal, pois não vejo um sujeito como aquele virando traficante na vida real). Dessas, só mesmo o "Kung Fu", pois cada episódio era, praticamente, uma unidade independente. Mas, das que nos obrigam a assistir todos para não perder o fio da meada, estou fora.
Geralmente, dou uma olhada nas mini-séries que têm nota acima de 8 no IMDB e cujos temas me interessam. De preferência as da BBC e as italianas, pois são confiáveis. As estadunidenses podem pregar peças.
"Os Bórgias", p. ex. Os executivos decidiram não fazer 4ª temporada em cima da hora e deixaram tudo inconcluso. O criador, Neil Jordan, que é artista de verdade, sugeriu um último episódio longo para fechar dignamente a mini-série. Nem isto os mercenários aceitaram.
"Under the dome" é para ter uma temporada só e a trama do livro foi esgotada nela. Mas, como teve surpreendente audiência, resolveram espichá-la. Aí, foram acrescentando personagens saídos do nada para substituírem os importantes que haviam morrido. Ou seja, virou um lixo. O Stephen King nem sequer criou as duas temporadas seguintes, apenas deu algumas idéias para os roteiristas da emissora.
"Game of thrones", a mesma coisa. Era para ter uma temporada só, personagens fundamentais morreram e, como decidiram espichá-las, começaram entrar em cena outros bem menos interessantes. Pulei fora.
Quando você compara essas picaretagens dos EUA com as mini-séries da BBC, parece que encontrou vida inteligente. "Edge of Darkness", p. ex., é simplesmente primorosa, revelando as tramoias da indústria nuclear. Você não consegue acreditar que uma TV estatal pôde produzir algo tão indigesto para o sistema. Na Itália e na França talvez isto fosse também possível, mas nos EUA, com toda certeza, não.
Preciosidades também são as mini-séries italianas que embutem um filme (ou seja, já são concebidas para que delas possa ser derivado um longa-metragem).
Enfim, na Europa elas às vezes conseguem ser mais ricas artisticamente do que o próprio cinema. Se tivesse tempo para consultar meus dados, citaria no mínimo 10 imperdíveis.
Quanto ao Woody Allen e seu humor blasé de novaiorquino sofisticado, francamente nunca achei que ele fosse tudo que se acha. O melhor filme com ele, para o meu gosto, é "Testa de ferro por acaso", exatamente porque a direção coube a alguém muito melhor do que ele, o Martin Ritt.
Também gosto de alguma coisa de diretores como o Sam Peckinpah, o Robert Altmann (da fase da contracultura, ou seja, anos 60 e 70), o Sidney Lumet, o Arthur Penn, o David Mamet (tanto as fitas que ele próprio dirige quanto as que são baseadas nas suas peças teatrais), o Clint Eastwood, o Brian De Palma, o Don Siegel, o Fred Zinnemann e o Elia Kazan (estes dois radicados nos EUA, mas foi lá que fizeram suas melhores obras).
Mas, levando em conta a imensidão de lixo que eles descarregam no mercado, as obras deles são gotas d'água num mar de banalidades.
valeu Celsão...agora, cá pra nós vc é um tremendo saudosista cara...1968 acabou faz tempo sô.
está convidado de Volta para o Futuro...
ahhhh..mas esqueci que vc citou as séries da BBC, nisso vc tem toda razão e se não viu corre pra ver
Black Mirror, show total...
Mas, a História é assim, há períodos de maré crescente, quando cada ano vale por dez, e de maré vazante, quando cada década vale menos do que um ano.
O último fluxo (na política e nas artes) foi 1968, desde então estamos passando por um longo refluxo. Voltamos para trás (bem atrás em algumas questões) dos marcos atingidos há quase meio século. Essa política maniqueísta, característica da guerra fria, é um exemplo; pensei que nunca mais veria tal excrescência. Emburrecemos.
Quanto às mini-séries, eis algumas que acho bem interessantes:
"Foyle's war"
"A classe"
"Eu, Cláudio, imperador"
"Il capo dei capi"
"Jack, o estripador" (1988, com o Michael Caine)
"Luther"
"Os pilares da Terra"
"The Shadow line"
"O túnel"
"Wallander"
"Wolf Hall"
"Wynne and Penkovsky"
Abs.
anotado a dica..obrigado
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