DISCURSO DE TSIPRAS ENSINA UMA VELHA LIÇÃO
Breno Altman (*)
Concordando-se ou não com a posição do primeiro-ministro grego, chama atenção seu discurso político.
Ao contrário da tradição demagógica, que infesta também círculos de esquerda em vários cantos do mundo, Tsipras não edulcora o acordo que defendeu diante do Syriza e do parlamento de seu país.
Denuncia que foi chantageado.
Esclarece que considera o pacto com a União Europeia, em boa medida, lesivo aos interesses nacionais e dos trabalhadores.
Relata que bateu à porta dos Estados Unidos, Rússia e China em busca de alternativas, mas não encontrou apoio.
Destaca claramente que a escolha é entre a rendição sob condições ou o colapso político-econômico, identificando os inimigos que combate e sua natureza.
Não transforma necessidade em virtude, como se o acordo fosse algum capítulo harmônico à estratégia de desenvolvimento traçada por seu partido.
Não vende felicidade ou irrealismo.
Pinta o quadro com todas as suas cores, em um esforço notável para informar e educar militantes e cidadãos que até agora marcharam ao seu lado.
Tsipras pode estar certo ou errado. Mas revela-se um discípulo da velha lição de Gramsci, que horroriza os defensores de substituir a política pelo marketing: apenas a verdade é revolucionária.
Um comentário:
O que o chefe do Syriza fez foi o discurso da servidão voluntária na prática. A Grécia tem como principais setores de sua economia o turismo e a indústria naval. Poderia relançar a dracma e aumentar dramaticamente a competitividade destes setores. Evidentemente, a brutal desvalorização em relação ao euro iria inundar de liquidez a economia grega. Mas, a hiperinflação não ocorreria (apenas um "pico" muito rápido) pois os investidores iriam "atropelar" a Comissão Europeia para aproveitar os baixíssimos custos em euro dos ativos gregos. O capital não conhece fronteiras e as ameaças de Juncker e Merkel não seriam mais do que palavras ao vento para ele. Milhões de pessoas, inclusive brasileiros, iriam invadir a Grécia em viagens turísticas pois os custos de "pacotes" seriam mais baixos do que os do turismo interno. Mas, o chefe do Syriza ficou com medo do que poderia acontecer no breve período de extrema turbulência na transição euro-dracma e arruinou o futuro de seu país.
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