ALEXIS TSIPRAS É UM TRAIDOR?
Gilberto Maringoni (*)
Posso estar enganado, mas sigo achando profundamente errado se falar em traição por parte de Alexis Tsipras e do Syriza, mesmo diante da aprovação parlamentar – por larga maioria e com apoio da direita – do acordo firmado no final de semana entre a Grécia e a Comissão Europeia.
Não tenho todos os dados à disposição, mas me parece que Tsipras fez uma aposta e perdeu. A aposta é que haveria algum tipo de solidariedade internacional, após o referendo, o que lhe daria condições de enfrentar a maré montante que se armava contra o país.
Não houve.
A solidariedade internacional implica – neste caso – enfrentar o sistema financeiro internacional todo. No atacado.
Significa enfrentar o fato de os EUA terem uma enorme base aeronaval em Creta, na beira do Oriente Médio. É um complexo estratégico, através do qual se pode atingir em vinte minutos a Líbia, o Egito, a Síria e o Iraque.
Nem mesmo a Rússia ou a China aventuraram-se a tocar nesse vespeiro. Uma coisa é intervir na Ucrânia. Outra, bem diversa, é intervir na geopolítica europeia.
Alexis Tsipras ficou só, o Syriza viu-se só e a Grécia colheu um isolamento assustador.
Frente à possibilidade de uma formidável fuga de capitais – diante da qual o governo grego nada pode fazer – da carência de papel moeda para fazer pagamentos e da quebradeira do sistema bancário nacional em três dias, o primeiro-ministro se viu sem cartas na manga. Não havia sequer como trucar.
É boa a situação?
Nada. É péssima. Péssima é a humilhação a que o país está sendo submetido.
A sessão do Parlamento grego foi deplorável, na noite de quarta (15). A direita, em bloco, votou pelo acordo.
A pergunta não é se o Tsipras traiu ou não. A pergunta é por que o isolamento foi tão grande.
Essa é a resposta a ser buscada.
Para que os arautos do bom-senso não venham com a velha história de que “There is no alternative” e que o ajuste é inescapável.
No prefácio de “Crítica da economia política”, há quase 160 anos, Marx escreveu uma de suas frases memoráveis: “A humanidade só se coloca problemas que ela pode resolver”.
Nenhum messianismo nisso.
O problema da Grécia pode ser resolvido.
Depende de luta política e força. Coisas muito, muito humanas.
* é professor de Relações internacionais e foi candidato do PSOL ao governo paulista em 2014.
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