terça-feira, 21 de abril de 2015

DA GRÉCIA PARA O BRASIL: EU SOU VOCÊ AMANHÃ.

"...no final de 2009, a Grécia estava enfrentando uma crise propelida por dois fatores –alta dívida e custos e preços inflacionados que reduziam a competitividade do país.

A Europa respondeu com empréstimos que mantiveram o caixa grego solvente, mas apenas sob a condição de que a Grécia adotasse políticas econômicas extremamente dolorosas. Elas incluíam cortes de gastos e aumentos de impostos que, se aplicados na mesma proporção aos Estados Unidos, envolveriam valor de US$ 3 trilhões anuais.

Também houve cortes de salários em uma escala difícil de conceber, com uma redução média de 25% nos vencimentos ante seu pico.

Esses imensos sacrifícios supostamente deveriam produzir recuperação. Em lugar disso, a destruição do poder aquisitivo aprofundou a crise, criando sofrimento em escala semelhante ao da Grande Depressão e severos problemas humanitários.

No sábado, visitei num abrigo de moradores de rua, e ouvi histórias dolorosas sobre um sistema de saúde em colapso, e pacientes recusados por hospitais por não poderem pagar uma taxa de atendimento de cinco euros, ou recebendo alta sem medicação porque os estoques das clínicas se esgotaram e elas não têm caixa para o repor; e muito mais.

A situação vem sendo um pesadelo interminável, e mesmo assim a elite política grega, determinada a se manter parte da Europa e temerosa das consequências de uma moratória e do abandono do euro, manteve sua adesão ao programa imposto pelos credores ano após ano. 

Por fim, o público grego não conseguia suportar mais. Porque os credores estavam exigindo ainda mais austeridade –em uma escala que bem poderia derrubar a economia em mais 8% e empurrar o desemprego a 30%—, o país votou no Syriza, um movimento genuinamente de esquerda (e não de centro-esquerda), que prometeu mudar o rumo do país."

Trechos de um artigo de Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia, que expõe magistralmente como um país pode ser destruído pelos ajustes recessivos ditados pela ortodoxia neoliberal. É para onde Joaquim Levy nos levará, se consentirmos.

Discordo de Krugman, contudo, quando ele sonha com uma solução a partir da implausível boa vontade de credores. A única saída está na revolta dos devedores, confrontando a iniquidade extrema com que a lógica desumana das coisas está sendo imposta aos homens.

Nestes tristes tempos presentes, o capitalismo terminal e putrefato é o inimigo supremo da civilização e a mais terrível ameaça à sobrevivência da espécie humana.

Ou acabamos com ele, ou ele acabará conosco. É simples assim.

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