O tiroteio ideológico contamina de tal forma as notícias que recebemos sobre a Venezuela que evitei publicar um quadro da situação atual até dispor de informações e/ou avaliações que considerasse 100% acima de qualquer suspeita. É como encaro o capítulo venezuelano do relatório anual da Anistia Internacional sobre O estado dos direitos humanos no mundo.
Eis a síntese das conclusões da AI, lembrando que desde então a crise venezuelana tem se agravado (e muito!):
- "As forças de segurança usaram força excessiva para dispersar manifestações".
- "Dezenas de pessoas foram detidas de modo arbitrário e privadas de acesso a médicos e advogados".
- "Houve denúncias de tortura e outros maus-tratos de manifestantes e transeuntes".
- "O Judiciário continuou a ser usado para silenciar os críticos do governo".
- "Pessoas que defendiam os direitos humanos foram intimidadas e atacadas".
- "As condições prisionais permaneceram severas".
E eis os trechos mais marcantes do relatório:
"Pelo menos 43 pessoas foram mortas e mais de 870 ficaram feridas – incluindo manifestantes, transeuntes, policiais e agentes de segurança – durante os extensos protestos contra e a favor do governo entre os meses de fevereiro e julho. Houve relatos de violações de direitos humanos e de confrontos violentos entre manifestantes, forças de segurança e grupos armados favoráveis ao governo."
"As forças de segurança usaram força excessiva para dispersar manifestações. Entre as medidas utilizadas estavam o uso de munições reais a curta distância contra pessoas desarmadas; o uso de armas de fogo impróprias e de equipamentos antidistúrbio que foram adulterados; e o uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha em áreas fechadas."
"Dezenas de pessoas detidas durante as manifestações de fevereiro e julho foram vítimas de detenções arbitrárias. Muitas foram privadas de acesso a um advogado de sua escolha e de assistência médica nas primeiras 48 horas de detenção, antes de serem levadas à presença de um juiz."
"Pelo menos 23 pessoas foram detidas durante uma operação conjunta do Exército e da Guarda Nacional em Rubio, estado de Táchira, no dia 19 de março. Enquanto detidas, elas foram chutadas, espancadas e ameaçadas de morte e violência sexual. Todos os detidos, homens e mulheres, ficaram encarcerados no mesmo recinto e passaram várias horas com os olhos vendados. Eles podiam ouvir as pessoas mais próximas sendo espancadas. Pelo menos uma pessoa foi forçada a assistir o espancamento de outra. Gloria Tobón foi encharcada com água e recebeu choques elétricos nos braços, seios e genitais. Ela foi ameaçada de ser morta e ter o corpo esquartejado antes de ser enterrada."
"O sistema de justiça estava sujeito à interferência governamental, principalmente em casos que envolvessem críticos do governo ou pessoas que se suspeitasse estarem agindo de modo contrário aos interesses das autoridades."
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