Ninguém me levou a sério quando escrevi que governar o Brasil no período 2015/2018 seria tarefa tão espinhosa que mais valia o PT deixar que uma adversária do campo da esquerda (Marina Silva) botasse a casa em ordem, amargando todo o desprestígio de ter de tomar decisões impopulares, para voltar triunfalmente ao poder na eleição seguinte, com Lula.
Ao final do primeiro mês do novo mandato, só mesmo os mais teimosos e/ou obtusos discordarão de mim.
Agora, vejo Dilma Rousseff contribuindo acentuadamente para o derretimento da Petrobrás porque não quer dar o braço a torcer quanto à necessidade de afastar Graças Foster. A companhia já perdeu bilhões de dólares em valor de mercado por insistir em não tomar a mais óbvia e indispensável medida para tentar reverter as expectativas.
A Petrobrás só apaziguará os investidores quando tiver pessoas confiáveis à sua frente, produzindo balanços confiáveis. Graças é vista como pessoalmente honesta, mas incapaz de agir com independência no que tange aos deslizes cometidos ou consentidos pelo PT, além de incompetente para lidar com uma crise da envergadura atual. Está definitivamente queimada há meses; nem o Papa conseguiria restaurar seu prestígio.
Enquanto Dilma continuar adiando o inevitável, só fará aumentar o passivo da derrota final. Até o Ricardo Kotscho admite que a situação de Graças é insustentável. Chegamos a um ponto em que a bola de neve seguirá se avolumando até que ela e toda a diretoria atual sejam retiradas de cena. É simples assim.
O quadro, aliás, é o mesmo do impeachment de Dilma. Em vez de mover céus, terras, cargos e recursos públicos para evitar que a Câmara Federal tenha um presidente talvez simpático a ele, o PT deveria é travar logo essa batalha, que mais dia, menos dia, acabará mesmo ocorrendo.
A conjugação das crises econômica, hídrica e energética, do esfarelamento da Petrobrás e das revelações escabrosas da Operação Lava-Jato só fará crescer, dia a dia, a insatisfação com o governo. A pressão pelo impeachment não cessará de aumentar até que os parlamentares, por uma questão de sobrevivência política, acabem por libertar o gênio da garrafa.
Então, como o governo não conseguirá escapar da contenda pelos próximos quatro longos anos, melhor fará se levantar a luva imediatamente, aceitando o desafio enquanto os inimigos ainda não estão suficientemente fortes para que o impedimento de Dilma possa ser dado como favas contadas.
Daqui para a frente, os partidários do impeachment acumularão forças incessantemente e o governo será cada vez mais abalado pelas más notícias em cascata e suas consequências no cotidiano dos brasileiros.
Se nos próximos meses talvez ainda se safe (e, uma vez votado e rejeitado o impedimento, quebraria as pernas da oposição, ganhando um novo alento), eu chutaria em 99% as possibilidades de que, em 2016 ou 2017, perderá por goleada.
Mas, nada indica que terá o discernimento para escolher o melhor caminho, nestas circunstâncias que lhe são altamente desfavoráveis. O mais provável é que continue marchando passo a passo para o precipício, repetindo em escala maior o que já aconteceu com a Petrobrás.
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