domingo, 25 de janeiro de 2015

LEONARDO BOFF AGORA REPUDIA O "TERRORISMO" E DIZ QUE A CHACINA DO CHARLIE HEBDO FOI "ABOMINÁVEL"

No momento seguinte à chacina do Charlie Hebdo, o teólogo Leonardo Boff acendeu sua vela para Iblis (o correlato islâmico de Lúcifer) ao escrever este artigo que deu farta munição a quem queria atenuar a rejeição aos autores do atentado covarde, bestial e desatinado, numa relativização que equivaleu a esmaecer a distinção entre civilização e barbárie.

Como me esforço sempre para pensar o melhor das pessoas, quero acreditar que ele tenha efetuado uma profunda reflexão e percebido quão inadequada e inoportuna fora sua intervenção, pois o momento era de prantear as vítimas, não de justificar os algozes. 

Então, em novo texto, Boff acaba de enfatizar muito do que deixara em segundo plano no anterior. Pena que a posição serena vá atingir um universo bem menor de leitores, seja porque o assunto não está mais na crista da onda, seja porque quem tudo fez para que o primeiro artigo repercutisse, provavelmente tudo fará para que o segundo não repercuta.

Boff agora veio ao encontro de uma posição que, por ter familiaridade bem maior com o assunto, fui um dos poucos a assumir: a de que a matança não resultara de nenhuma reação emotiva de religiosos ultrajados em sua crença, mas havia sido, isto sim, uma premeditada e calculista demonstração de força; um ato de terrorismo clássico, comparável ao assassinato que desencadeou a 1ª Guerra Mundial e ao atentado contra o czar que valeu ao irmão do Lênin a condenação à morte.

Recomendo a todos a leitura do artigo Para se entender o terrorismo contra o Charlie Hebdo de Paris (cuja íntegra está aqui), a vela que Boff acendeu, desta vez, para Alah. 

Eis os trechos principais:

"...o ato terrorista que dizimou os melhores chargistas franceses (...) trata-se de ato abominável e criminoso, impossível de ser apoiado por quem quer que seja.

...Na França vivem alguns milhões de muçulmanos, a maioria nas periferias em condições precárias. Muitos, mesmo nascidos na França, são altamente discriminados a ponto de surgir uma verdadeira islamofobia... 

[Deve-se] superar o espírito de vingança e renunciar à estratégia de enfrentar a violência com mais violência ainda. Ela cria uma espiral de violência interminável, fazendo vítimas sem conta, a maioria delas inocentes. E nunca se chegará à paz. Se queres a paz prepara meios de paz, fruto do diálogo e da convivência respeitosa entre todos.

...O que os USA e aliados ocidentais fizeram no Iraque e no Afeganistão foi uma guerra moderna com uma mortandade de civis incontável. (...) Tal violência deixou um rastro de raiva, de ódio e  de vontade de vingança em muitos muçulmanos vivendo em seus países ou pelo mundo afora.

A partir deste transfundo, se pode entender que o atentado abominável em Paris é resultado desta violência primeira e não causa originária. Nem por isso se justifica.

O efeito deste atentado é instalar um medo generalizado. Esse efeito é visado pelo terrorismo: ocupar as mentes das pessoas e mantê-las reféns do medo. O significado principal do terrorismo não é ocupar territórios, como o fizeram os ocidentais no Afeganistão e no Iraque, mas ocupar as mentes.         

A profecia do autor intelectual dos atentados de 11 de setembro, Osama Bin Laden, feita no dia  8 de outubro de 2001, infelizmente, se realizou: 'Os EUA nunca mais terão segurança, nunca mais terão paz'. Ocupar as mentes das pessoas, mantê-las desestabilizadas emocionalmente, obrigá-las a desconfiar de qualquer gesto ou de pessoas estranhas, eis o objetivo essencial do terrorismo.

Para alcançar seu objetivo de dominação das mentes, o terrorismo persegue a seguinte estratégia:       
  1. os atos de terror têm de ser espetaculares, caso contrário, não causam comoção generalizada;
  2. os atos, apesar de odiados, devem provocar admiração pela sagacidade empregada;
  3. os atos devem sugerir que foram minuciosamente preparados;
  4. os atos devem ser imprevistos para darem a impressão de serem incontroláveis;
  5. os atos devem ficar no anonimato dos autores (usar máscaras) porque quanto mais suspeitos, maior é o medo;
  6. os atos devem provocar permanente medo;
  7. os atos devem distorcer a percepção da realidade: qualquer coisa diferente pode configurar o terror. Basta ver alguns rolezinhos entrando nos shoppings e já se projeta a imagem de um assaltante potencial.
Formalizemos um conceito do terrorismo: é toda  violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com  medo e pavor.

O importante não é a violência em si,  mas seu caráter de espetáculo, capaz de dominar as mentes de todos.

Um dos efeitos mais lamentáveis do terrorismo foi ter suscitado o Estado terrorista que são hoje os EUA...

Oxalá não predomine no mundo, especialmente, no Ocidente, este espírito. Aí sim, iremos ao encontro do pior. Somente meios pacíficos têm a força secreta de vencer a violência e as guerras".

2 comentários:

tiago coelho disse...

irmão o texto não é do boff... é de outro padre!!! abraço!!!

celsolungaretti disse...

Tiago,

por surpreendente que pareça, é do Boff, sim. Foi publicado primeiramente na Carta Maior (http://cartamaior.com.br/?/Coluna/Para-se-entender-o-terrorismo-contra-o-Charlie-Hebdo-de-Paris-/32641) e reproduzido no Brasil 247 (http://www.brasil247.com/pt/247/artigos/167731/Para-se-entender-o-terrorismo-contra-o-Charlie-Hebdo-de-Paris.htm).

Abs.

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