quinta-feira, 5 de junho de 2014

O ÚLTIMO GRANDE FILME SOBRE A SAGA DE BILLY THE KID

Emilio Estevez: um Billy marcante
O filme para ver no blogue que disponibilizo abaixo, agora em versão legendada, é uma das muitas abordagens cinematográficas da saga de Billy the Kid: Jovem demais para morrer (1990, d. Geoff Murphy). 

Trata-se da sequência de  Os Jovens Pistoleiros (1988, d. Christopher Cain), trazendo novamente Emilio Estevez como Billy, Kieffer Sutherland como 'Doc' Scurlock e Lou Diamond Phillips como Chavez y Chavez. 

A troca de diretor ajudou: é um filme bem mais rico e estiloso do que o anterior.

O primeiro reconstituiu, sem grandes novidades, a chamada guerra do condado de Lincoln

O segundo não se limitou ao foco principal (a perseguição movida contra Billy por seu velho amigo Pat Garrett, interpretado por William Petersen), acrescentando elementos interessantes como a participação do jornalista contratado pelo xerife para ser seu ghost writer e a introdução do nonagenário Brushy Bill Roberts (falarei mais sobre os dois assuntos abaixo). 

Os Young Guns, como se constata no próprio título original, exploraram e enfatizaram o fator juventude. É seu diferencial, dos mais convenientes para uma época em que o juvenilismo andava muito em alta nas artes.

A escolha do roqueiro Jon Bon Jovi para criar a trilha musical do Jovem demais para morrer, no entanto, revelou-se mais do que uma tacada comercial perspicaz; ele compôs temas realmente bons, principalmente "Blaze of glory", que acabaria se tornando um dos seus maiores sucessos.

Na categoria único grande filme de um diretor sem maiores pretensões artísticas, não chega a ser um Keoma, a obra-prima da qual poucos julgavam Enzo G. Castellari capaz. Mas, sem dúvida nenhuma, é muito superior a tudo que Geoff Murphy fez, antes e depois.

O HOMEM E A LENDA

Morto aos 21 anos, Henry McCarty, também conhecido como William Henry Bonney e  Billy the Kid, começou a se tornar uma das maiores lendas do Velho Oeste estadunidense por obra e graça daquele que o matou.

Pat Garrett pagou a um escriba para relatar, em seu nome, a caçada ao velho parceiro de cavalgadas.

A versão de Pat Garrett -- Billy the Kid: a história de um bandido (L&PM, 258 p.) -- é apresentada como uma tentativa de restabelecer a verdade dos fatos, pois já se começava a mitificar o personagem.
Billy não era parecido com
Kris Kristofferson ou Estevez...

Foi como apagar uma fogueira com gasolina: fez o mito crescer cada vez mais.

O que se sabe:
  • Billy perdeu cedo o pai e, aos 14 anos, tornou-se órfão também de mãe;
  • preso por roubar roupas de uma lavanderia, foge da prisão e vagueia pela fronteira entre EUA e México, furtando cavalos;
  • mata um ferreiro no Arizona, aos 17 anos;
  • escapa para o Novo México e, no condado de Lincoln consegue um emprego honesto na fazenda de John Tunstall, a quem passa a admirar muito;
  • quando Tunstall é assassinado a mando de outro fazendeiro da região, ele e outros vingadores, intitulando-se  vigilantes, travam uma guerra sangrenta contra a facção contrária.
O que permanece nebuloso:
  • o número de suas vítimas fatais, pois, das 20 ou 21 mortes que lhe atribuíram, apenas em quatro sua autoria é hoje dada como líquida e certa, havendo dúvidas quanto a outras cinco e a certeza de que as demais foram mero exagero;
  • se realmente foi morto por Pat Garrett ou sobreviveu, só vindo a expirar em 1950, quando um ancião que usava o nome de Brushy Bill Roberts disse ser, na verdade, Billy the Kid, em busca do perdão governamental (mas, faleceu antes que sua história fosse apurada e o assunto se arrastou até 2010, quando o governador do Novo México negou definitivamente o que seria um indulto simbólico do pistoleiro).
...nem Pat com James Coburn...
O motivo para o pedido tão insistentemente reapresentado é o seguinte: o governador Lew Wallace, empenhado em acabar com a corrupção e arbitrariedades dos poderosos de Lincoln, prometeu (mas não cumpriu) perdoar Billy caso ele depusesse incriminando os assassinos do seu ex-patrão.

"O fora-da-lei foi mais honrado", diz o criminalista Joel Jacobsen, autor de Such Men as Billy the Kid, garantindo existirem evidências "fortes, irrefutáveis mesmo" da veracidade de tal barganha.

Em Jovem Demais Para Morrer,  Wallace é mostrado como sincero, mas impotente para cumprir o prometido.

Foi no último dia do mandato que o governador Bill Richardson anunciou sua decisão: alegou "incertezas" quanto a seu antecessor haver ou não prometido o perdão e "uma ambiguidade histórica sobre o motivo pelo qual o governador Wallace teria desistido da graça".

De qualquer forma, Billy já havia sido reabilitado pela arte, com sua lenda  inspirando verdadeiras obras-primas:
  • o estranhíssimo western freudiano Um de Nós Morrerá (1958, d. Arthur Penn), em que seu drama é equiparado ao de um filho que perdeu o pai (não o biológico, mas o fazendeiro Tunstall);
    ...talvez com William Petersen
    • o belíssimo western outonal Pat Garrett & Billy the Kid (1973, d. Sam Peckinpah), centrado na má consciência do primeiro, que aceita uma estrela e uma missão infame como preço a pagar por uma velhice sem sobressaltos nem preocupações financeiras; e
    • a antológica trilha musical composta por Bob Dylan para o filme de Peckinpah, incluindo "Knockin' at Heaven's Door".
    Isto em meio aos mais de 20 filmes e a uma série cinematográfica de 42 episódios que o tiveram como personagem, a partir do silencioso Billy the Kid, de 1911, dirigido por Laurence Trimble.

    O mais bizarro, certamente, foi Billy the Kid vs. Dracula (1966, d. William Beaudine), em que o vampiro, interpretado por John Carradine, dá uma chegadinha no Velho Oeste.

    Poucos sabem, mas o western clássico A face oculta (1961), dirigido e estrelado por Marlon Brando, se baseou numa novelização da vida de Billy. Rod Além da Imaginação Serling e Sam Peckinpah teriam colaborado no roteiro, sem que isto lhes fosse creditado.

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