quinta-feira, 5 de junho de 2014

RUI MARTINS PERGUNTA: COMO DILMA PERDEU A COPA?

Rui Martins, bravo guerreiro do jornalismo independente e um dos titãs que salvaram Cesare Battisti da vendetta berlusconiana, também questiona a Copa das Maracutaias. Seu artigo (clique aqui para lê-lo na íntegra) no novo Direto da Redação, que ressurge dentro do Correio do Brasil, é um dos mais lúcidos já escritos sobre o desencanto do povo brasileiro com o Mundial da Fifa. Eis os principais trechos:

...Faltando apenas alguns dias para o chute inicial, sabe-se que apesar de organizada dentro do Brasil, esta será a primeira Copa sem entusiasmo unânime da população e com a mobilização de um enorme aparato policial-militar para evitar manifestações de protestos imprevisíveis.

...Os problemas surgidos com a Copa revelaram um Brasil onde continuam as desigualdades sociais, o racismo latente e disfarçado envolvendo pobres, negros e indígenas, a corrupção endêmica, um Parlamento dominado pelos mensaleiros do agronegócio e dos pecuaristas desmatadores. 

Um Brasil que se esqueceu da reforma agrária e uma dificuldade do governo: depois de ter tirado 30 milhões de brasileiros da miséria, não sabe como lhes oferecer a sequência das medidas sociais, pois não basta a possibilidade de terem um mínimo para entrarem no mundo capitalista e se endividarem na compra de eletrodomésticos, para alegria dos supermercados com a emergência desses novos consumidores.

Daí o aparente paradoxo de estarem também entre os manifestantes contra a Copa, jovens estudantes originários da emergência social da era lulista. Jovens ingratos ou insatisfeitos por terem provado o sabor da sociedade liberal-capitalista, mas sabendo não poderem ir além, numa sociedade que melhorou mas não solucionou seus problemas estruturais? Será que têm razão ou estariam sendo manipulados ao exigirem mais e melhores escolas e formações profissionais, mais e melhores investimentos em saúde e transportes?

As outras questões ligadas à inutilidade de se construir enormes estádios sobrefaturados, onde não há torcedores e nem clubes para ocupá-los depois da Copa; a submissão do Brasil às exigências da Fifa, quando deveria ter ocorrido o contrário; a não construção da maioria das infraestruturas que deveriam facilitar o acesso aos estádios, como o trem bala; a desapropriação de casas de moradores pobres para construção de avenidas que favorecem o mercado imobiliário, como ocorreu em Fortaleza; os vendedores ambulantes impedidos de chegar perto dos estádios para se favorecer os patrocinadores da Copa; os atrasos nas obras que provocaram insegurança para os trabalhadores e encarecimento com a aceleração dos trabalhos; o risco de congestionamentos rodoviários dos aeroportos para as cidades e dos hotéis dos turistas aos estádios, tudo isso são questões simplesmente subsidiárias.

Como a vitória lulista de 2007 de trazer a Copa ao Brasil pôde se transformar no atual pesadelo da presidenta Dilma, que recorre mesmo a decreto prevendo a mobilização de militares contra manifestantes? 

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