quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

O OURO NEGRO É TUDO E A VIDA NÃO VALE NADA

O salário do medo tem 60 anos, mas nada perdeu do seu impacto e do seu charme. Naquilo que realmente importa, é um filme moderno, pois essencializado e empolgante. 

Tenho muita satisfação em disponibilizá-lo no blogue, ainda mais com a qualidade superlativa da versão restaurada da Criterion Collection. As legendas são em português.

Começa inserindo-nos rapidamente no inferno que é um vilarejo perdido da América do Sul, fim de linha para aventureiros que perderam muitas batalhas. Sem terem como bancar a viagem de volta, eles ficam entregues ao marasmo, à espera de uma oportunidade para darem a volta por cima.

A economia do grotão gira toda em torno de uma multinacional petroleira, que prospera enquanto o povo definha. Se queres um monumento ao imperialismo, vede este filme!

Quando um poço de petróleo pega fogo, quatro sujeitos têm a chance que há tanto aguardavam: ganharão uma boa grana se conduzirem a nitroglicerina necessária para apagar o incêndio, dirigindo dois velhos caminhões por estradas esburacadas e enlameadas, conscientes de que qualquer solavanco pode mandá-los pelos ares. O ouro negro é tudo e a vida deles não vale nada, segundo a impiedosa lógica do capital. 

A viagem é cheia de peripécias, tão tensa que nos surpreendemos com a respiração presa em vários momentos. Não há como deixarmos de admirar os resultados obtidos nas cenas de ação, mesmo com a incipiência dos efeitos especiais então disponíveis.  

Trata-se de uma obra-prima do grande cineasta francês Henri-Georges Clouzot, alguns pontos acima do seu também ótimo As diabólicas (1955).

E Yves Montand já deixa antever o magnífico ator que se tornaria adiante. Comunista no início da carreira, depois da invasão de Praga ele passou a repudiar todas as ditaduras, tendo sido um dos principais nomes (o outro: Gian-Maria Volonté) do cinema político europeu das décadas de 1960 e 1970. Estrelou filmes de Costa-Gravas, Jean-Pierre Melville, Alain Resnais, René Clement e Jean-Luc Godard, dentre outros.

Vale cada fotograma!

2 comentários:

Unknown disse...

Muito boa lembrança, Celso! Eu vi esse filme quando era menino, na TV. Ficou por muito tempo marcado em minha memória. De fato é um filme eletrizante e muito bem conduzido e interpretado. Fazia tempo que não houvia falar dele. Obrigado pela oportunidade. Um abraço fraterno, de um cidadão comum, como diria o poeta cearense desaparecido(Belchior).

celsolungaretti disse...

Eu também. Em 1962 e 63 eu fazia o ginásio à noite e, quando voltava, costumava assistir ao "Cinema em Casa", da então TV Excelsior - Canal 9.

Como era uma emissora pobre, passava quase sempre filmes europeus, por serem mais baratos. Alguns muito bons, como este e "O assassino", do Élio Petri. Foram dois que me ficaram na memória.

Só achei engraçado você se apresentar como cidadão comum. Este não é um espaço para cidadãos incomuns (poderosos, celebridades, personalidades). Felizmente! Então, você está entre amigos.

Um forte abraço!

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