Gandhi (1982), o filme que está disponibilizado (completo, dublado) na janelinha abaixo, foi um daqueles casos, cada vez mais raros, de acerto de Hollywood na outorga dos principais Oscar.
Ben Kingsley, no papel-título, esteve impecável. Mereceu, com sobras, a estatueta.
Richard Attenborough, ator que só começou a dirigir no 27º ano de sua carreira, foi mais correto do que brilhante. Mereceu, sim, ser escolhido como melhor diretor, pelo mesmo motivo que Gandhi fez jus à distinção de melhor filme. Só que muito mais em função da grandeza do personagem histórico que enfocou e da força dramática da história levada às telas. Bastava a fidelidade a ela para garantir-se a consagração.
A comparação óbvia é com Lawrence da Arábia (1962), que retratou figura tão fascinante e rica em termos cinematográficos quanto Gandhi. Mas, o toque pessoal do extraordinário diretor que foi David Lean é perceptível num sem-número de detalhes -como a sutil insinuação de que T. E. Lawrence seria um homossexual enrustido, com um lado masoquista.
Ou seja, Lean foi além da postura convencional de endeusar o herói, tomando seu partido incondicionalmente. Não enfatizou suas ambiguidades, mas também não as omitiu. Já Attenborough apenas reverenciou Gandhi, com a atenuante de que o dito cujo foi mesmo extraordinário. Mas, perfeito, ninguém é.
Vale a pena todos conhecermos (e refletirmos sobre) a trajetória do homem que descobriu a força do protesto não-violento como instrumento na luta contra o colonialismo e, depois, a utilizou também contra a xenofobia sanguinária de hindus e paquistaneses. Num e noutro caso, conseguiu evitar muitíssimas mortes. Foi magnífico!
É fácil atribuirmos seu êxito a circunstâncias históricas muito específicas, que não se repetirão facilmente. Mas, Nelson Mandela trilhou caminhos semelhantes para libertar a África do Sul. Até que ponto as possibilidades de bisar tal receita eram tão ínfimas? Até que ponto elas eram consideráveis, mas faltaram líderes da envergadura de Gandhi e Mandela para as aproveitar?
Não há resposta fácil. Mas, como nunca fui exatamente um determinista em relação à História, já me ocorreram hipóteses como a de que a quartelada de 1964 provavelmente não derrubaria o governo legítimo com um piparote se o presidente da República fosse o aguerrido Brizola ao invés do pusilânime Goulart...
Um comentário:
Concordo plenamente no que tange a Goulart. Não fosse covarde, o golpe não ocorreria. Até porque a maior parte do exército era legalista. E a quartelada teria sido facilmente debelada. Quanto à 4ª Frota dos EUA que para cá se dirigia, duvido sinceramente que ela interviria. Num país do tamanho do Brasil seria impossível controlá-lo. Até porque nem mesmo em países pequenos como Cuba e o Vietnã eles lograram sucesso. Que dizer do Brasil!...
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