segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O PSOL NA ENCRUZILHADA

Juiz Haywood (Spencer Tracy): a primeira
infâmia abre caminho para todas as outras
Há sempre uma desculpa ou atenuante qualquer para se ultrapassar a fronteira entre a civilização e a barbárie, o justo e o injusto, o certo e o errado, o digno e o indigno.   

Então, a regra de ouro foi expressa pelo velho juiz protagonizado por Spencer Tracy, num filme memorável: Tribunal em Nuremberg (d. Stanley Kramer, 1961). 

Indagado sobre quando começou o desvirtuamento da Justiça alemã  sob o nazismo, ele responde: "Foi no dia em que o primeiro juiz condenou o primeiro réu que ele sabia ser inocente".

É imperativo para nós, os verdadeiros revolucionários, voltarmos a ser os que não abrem o precedente dúbio, ao qual segue-se a banalização da dubiedade. Por maior que seja o preço a pagar, cabe-nos personificar a alternativa à geléia geral na qual conveniências amorais e imorais são colocadas à frente dos princípios. Ou não haverá para o cidadão comum nenhum símbolo visível de que outro mundo seja possível.

O PSOL pode agora abrir tal precedente, ao consentir que Clécio Luís, seu primeiro prefeito de capital, defenda posturas TOTALMENTE inaceitáveis (como a aceitação do financiamento de bancos e empreiteiras e as alianças indiscriminadas com reformistas) à luz dos valores socialistas e libertários aos quais aderiu até no nome. Com o agravante de já haver aceitado apoios repulsivos para vencer a eleição --os quais, sabem-no os que não acreditam em Papai Noel, certamente terão consequências nefastas na sua gestão.

Se não reagir firmemente na defesa de sua identidade política, o PSOL entrará no mesmo caminho sem volta que o PT começou a trilhar quando da expulsão de Paulo de Tarso Venceslau, em 1998.

Venceslau, o honesto.
A QUEDA DOS ANJOS

Ex-militante do movimento universitário e antigo combatente da ALN, o economista Venceslau foi a única voz no partido a protestar contra o PRIMEIRO grande esquema de desvio de recursos públicos para financiamento partidário, por meio de uma firma chamada CPEM - Consultoria para Empresas e Municípios.

Tendo sido secretário das finanças de duas prefeituras petistas no interior paulista, em ambas ele resistira às pressões para contratar a CPEM ou para pagar-lhe valores exorbitantes por serviços já prestados, acabando por ser exonerado da última delas, a de São José dos Campos.

Depois de dois anos de denúncias infrutíferas aos dirigentes máximos do PT, Venceslau tornou público o favorecimento escuso à CEPM em entrevista ao Jornal da Tarde.

Como resposta ao escândalo, o partido submeteu o assunto a Comissão de Ética presidida por Hélio Bicudo, cuja salomônica decisão foi a de que Venceslau deveria ser expulso por haver vazado um assunto interno para a imprensa burguesa; idem o empresário Roberto Teixeira, da CPEM, por pilotar um mais do que evidente (e evidenciado no relatório final da Comissão) esquema de corrupção, bem ao estilo daquele que depois celebrizaria Marcos Valério. 

Luiz Inácio Lula da Silva, que Venceslau aponta como responsável pela montagem de tal esquema e maior beneficiário (graças ao dinheiro sujo, sua tendência teria mantido a supremacia no partido), ameaçou sair do PT juntamente com Teixeira --que, além de tudo, era seu compadre e lhe fornecia um apartamento de cobertura para morar de graça.

A direção estadual optou, então, por desconsiderar o parecer da Comissão de Ética, expulsando somente Venceslau. Foi o instante em que se assumiu como um partido igual aos outros, capaz até de sacrificar um militante honesto (e REVOLUCIONÁRIO!!!) para preservar uma maçã podre. 

Teixeira, o compadre do Lula.
Segundo Venceslau, o tal Teixeira havia sido, inclusive, "torturador do delegado Fleury". E em 2006, quando era advogado da Brasil Telecom e foi convocado para depor na CPI dos Bingos, admitiu "conhecer" Daniel Dantas, dizendo-se impedido de dar mais detalhes por haver cláusula de confidencialidade

Ao contrário do que os petistas querem nos fazer crer, no caso deles o  ovo da serpente  não foi o  mensalão mineiro, mas sim as maracutaias da CPEM. Estão certíssimos ao alegarem que todos os grandes partidos do sistema incidem nas mesmíssimas práticas, mas devemos sempre lembrar-lhes que o PT tinha obrigação política e moral de não resvalar para tal vala comum.

Tudo que de ruim aconteceria depois foi consequência desta terrível decisão. Orgulho-me de haver me solidarizado a Venceslau, antecipando que o partido tendia ao desvirtuamento, no artigo PT expulsa PT, que o Jornal da Tarde publicou com destaque na sua página de Opinião, ao lado e como contrapartida a uma crítica que João Paulo Cunha (logo quem...) fazia ao correto trabalho jornalístico de Luiz Maklouf Carvalho.

Como, face às mesmas circunstâncias, tendemos a desempenhar novamente os mesmos papéis, devo ter sido o primeiro a pedir agora a expulsão de Clécio Luís (vide aqui). É provável que nem desta vez meu alerta leve ao esmagamento do  ovo da serpente, mas a minha parte eu sempre faço.

4 comentários:

Galvão disse...

Muito louvável a sua coerência, e para ser coerente novamente, deve pedir a expulsão do senador Randolfe que na CPMI do Cachoeira vem atuando - ao lado de Pedro Taques - na defesa da organização criminosa que vem atuando a partir do estado de Goias e de seus membros: Civitta e "Caneta", "Poli" ou "JR".

celsolungaretti disse...

Galvão,

não sou o Catão do PSOL, até porque o partido jamais me incumbiu de julgar o comportamento de ninguém.

Ocorre que o caso do Venceslau x Teixeira repercutiu amplamente e o PT tomou a pior posição possível, dando sinal verde para os desvios de recursos públicos para financiamento partidário.

Percebi que daquela decisão adviriam consequências desastrosas e me posicionei (também pesou minha solidariedade ao Venceslau e aos companheiros que participaram da luta armada em geral, sempre que injustiçados).

O caso do Clécio Luís tem as mesmas características, pois abre as portas para o desvirtuamento do partido: promiscuidade com o DEM, defesa pública (numa entrevista ao jornal da ditabranda) da aceitação de doações podres, disposição de se atrelar ao reformismo, etc.

Eu intervenho nesses episódios emblemáticos, não em todos os episódios. E isto já me causa problemas e retaliações demais. Não dá para um franco atirador (o que, na verdade, continuo sendo) sustentar todas as brigas.

Abs.

José Carlos Lima disse...

Nada a ver essa história do Venceslau. O que ocorre é que naquele momento quem exercia cargo em comissão na administração petista era obrigado, por exigência do estatuto, a doar 30 por cento dos seus ganhos ao PT. Isso levou muitos, como Venceslau, a se revoltar, aqui em Goiás ocorreram algumas rebeldias por causa disso, muitos Venceslaus sairam atirando por esse motivo.

celsolungaretti disse...

Lima,

basta você colocar os nomes do Venceslau e do Teixeira (ou CPEM) na busca do Google e aparecerá o que relatei, em muitos textos diferentes.

Venceslau foi expulso EXATAMENTE por tal motivo, e não por causa dessa tal doação compulsória --aliás, também uma ABERRAÇÃO, lembrando o dízimo dos católicos e o achaque que sofrem os cordeiros da Igreja Universal.

Abs.

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