quinta-feira, 5 de julho de 2012

O GOLPE PARAGUAIO E A VOZ DO OPUS DEI

"Tanto foi tranquilo o processo de afastamento no Paraguai que não existiram manifestações de expressão em defesa do ex-presidente. As Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua...

Processo digno das grandes democracias parlamentares. Mas difícil de ser compreendido pelo histriônico presidente venezuelano, (...) pela aprendiz de totalitarismo que é a presidente argentina (...) ou pelos dois semiditadores da Bolívia e do Equador.

O curioso foi o apoio da presidente Dilma a essa 'rebelião de aspirantes a ditadores'... "

Quem escreveu as besteiras acima e as fez publicar no jornal da  ditabranda  foi o principal porta-voz do Opus Dei na mídia brasileira, Ives Gandra Martins (que, apropriadamente, está na foto da direita, acima).

O "processo digno das grandes democracias parlamentares" a que ele se refere é, pasmem!, o  impeachment relâmpago  de Fernando Lugo, na verdade um acinte e uma vergonha para a democracia.

O ato falho que ele cometeu foi salientar que "as Forças Armadas nem precisaram enviar contingentes à rua", num reconhecimento implícito de que esta providência fazia parte do esquema golpista articulado desde 2009, assim como os US marines teriam desambarcado no Brasil caso a quartelada de 1964 encontrasse resistência significativa.

Por último, sendo o Opus Dei o que é, Ives Gandra nos deu a conhecer, simplesmente, a relação atualizada dos presidentes ameaçados de sofrerem os próximos golpes parlamentares, depois do êxito das empreitadas hondurenha e paraguaia. Eia a ordem de prioridade dos eternos conspiradores:
  1. Hugo Chávez
  2. Cristina Kirchner
  3. Evo Morales
  4. Rafael Correa
  5. Dilma Rousseff
Que os cinco se considerem alertados e tomem as devidas cautelas. Quem dorme de touca acaba sendo colocado em avião de pijamas.

E que nossa Dilma reflita sobre se valeu a pena reagir de forma tão débil à deposição de Lugo, descartando o embargo econômico que seria a única medida democraticamente aceitável (já que utilizada com total impunidade há meio século pelos EUA contra Cuba...) para quebrar a espinha dos golpistas.

Preferiu aproveitar a confusão para incluir a Venezuela no Mercosul.

De que adiantará, se Chávez for derrubado, como o foram Zelaya e Lugo?

Ovos de serpente devem ser esmagados antes de eclodirem. Dois ofídios já estão firmes e fortes. Quantos mais consentiremos?

2 comentários:

Ato Adicional disse...

Qual o motivo de classificar o impeachment de Lugo como golpe?
No caso do Zelaya, eu até concordo (não tenho muitas informações), mas no Paraguai, não. Até onde eu sei, Fernando Lugo foi retirado do poder com bases constitucionais.

Onde está o Golpe?

Abraços.

celsolungaretti disse...

Eis o xeque-mate do advogado geral da União, Luís Inácio Adams, repetindo o que disseram todos os cidadãos com um mínimo de conhecimentos jurídicos (salvo os direitistas que, com contorcionismos retóricos, tentaram justificar o injustificável):

"O processo de impeachment ocorrido no Paraguai deu-se em velocidade inusitada -apenas 36 horas-, sem que ao presidente afastado se tenha permitido qualquer defesa.

Conduzido num ambiente de legalidade formal, o afastamento do presidente Lugo não respeitou sequer as garantias previstas na Constituição paraguaia, em especial no artigo 16, que cuida da inviolabilidade da defesa em juízo, e no artigo 17, que dispõe sobre a presunção de inocência e repudia condenações sem juízo prévio ou por tribunais ad hoc.

Isto sem falar que o Paraguai é signatário da Declaração Universal dos Direitos Humanos da ONU desde 1954, cujos artigos 10 e 11 garantem o julgamento justo com direito de defesa. Essas garantias são tão fundamentais ao sistema democrático que no Brasil foram elevadas à condição de cláusula pétrea".

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