A COPA DOS HORRORES E DO FRACASSO ANUNCIADO

É muito interessante o Blog do José Cruz, jornalista que se propõe a discutir o esporte sob a ótica da política e da economia.

Trata-se de uma opção para quem busca vida inteligente nos comentários sobre futebol (principalmente) e, desde a morte de Sócrates, ficou restrito a Tostão e quase ninguém mais.

O artigo desta 6ª feira 13 do Cruz, A Copa dos Horrores, é um ótimo cartão de visitas, daí eu reproduzi-lo na íntegra (no final, acrescentarei algumas maltraçadas linhas da minha lavra):

"O Jornal Nacional acaba de divulgar que 13 pessoas morreram num hospital do Distrito Federal, onde o governador, Agnelo Queiroz, é médico.

Todos os mortos passaram pelo leito 19 do Hospital de Santa Maria. Ali, em vez de oxigênio os doentes recebiam ar comprimido. Ou seja, ar para encher pneus…

'A instalação foi trocada', disse um burocrata do governo, justificando o erro fatal.

No Rio, um fotógrafo húngaro morreu no Hospital Souza Aguiar. Esperou um mês por uma cirurgia que deveria ter ocorrido em 48 horas…

'Não havia material para a cirurgia', disse outro burocrata.

Memória

Em 2000, o então governador Joaquim Roriz, construiu a Ponte JK, no Lago Sul.

 Orçada em R$ 39 milhões custou perto de R$ 200 milhões, enquanto centenas de doentes morreram por falta de medicamentos. Isso está documentado em reportagens e processos que não deram em nada.  Roriz está livre e, quando precisa, vai aos Estados Unidos cuidar de sua saúde.

A morte é vulgarizada a esse ponto. Depois, burocratas e políticos dão explicações, as famílias enterram os mortos e os assassinos continuam soltos.

Roriz e Agnelo: tudo a ver.

 Enquanto isso…

os governos federal, estaduais e municipais gastam bilhões de reais construindo estádios de futebol. Vou continuar com este assunto, sim.

Aqui em Brasília, Agnelo Queiroz, que sabe lá como se sustenta no cargo devido gravíssima crise política, misturando lixo e corrupção, mandou construir um estádio de 72 mil lugares, numa cidade onde ver futebol é tortura para o torcedor.

Assim como Roriz, Agnelo fez a opção pelo concreto, enquanto os hospitais que administra matam doentes. Com ar comprimido".

Na minha opinião, nada há de errado em sediarmos grandes eventos esportivos e investirmos neles, desde que haja boas perspectivas de retorno (precisamos  realmente  do futebol para incrementar o turismo?) e desde que aproveitemos, preferencialmente, a infraestrutura com a qual já contamos, apenas aprimorando-a onde houver comprovada necessidade.

Mas, o Mundial 2014 está servindo, isto sim, como pretexto para maracutaias sem fim. A voracidade dos empreendedores predadores é tamanha que o Brasil brigou com a Fifa para que fosse aumentado o número de cidades-sede, de 10 para 12. Brasília é uma que entrou de gaiata, além de roubar a vaga de Goiania, onde o futebol desperta interesse bem maior.

E o que verdadeiramente impedia o Pacaembu reformado de ser o estádio para a abertura da Copa? Nenhum outro seria tão acessível nem é tão simpático aos olhos dos torcedores. Mas, claro, havia óbvios interesses por trás da opção Itaquerão.

Esta capa do JT foi antológica,
mas NÃO vale a pena ver de novo...

O capitalismo, em si, já é péssimo. Nós o conseguimos piorar ainda mais, tornando-o, além de desumano, mafioso.

Com a diferença que os gangstêres de Chicago corriam risco de prisão e de morte, enquanto os atuais estão sujeitos, quanto muito, a serem momentaneamente execrados e purgarem um tempinho de ostracismo, depois voltando à tona belos e lampeiros como o Collor.

Os bodes expiatórios se sucedem, o povo é mesmerizado pela farsa permanente dos três Poderes (com a permanente contribuição do quarto, ao qual compete prover holofotes para a tempestade de som e fúria, omitindo sempre que ela significa nada...) e tudo continua a mesmíssima m...

"A vida não mudava mudando só de lugar", cantou o Vandré. Nem o Brasil mudará para melhor enquanto permanecer capitalista. Caça a corruptos não passa de engana-trouxa. É simples assim.

Por último, um aviso de quem amigo é: estamos nos encaminhando para uma decepção futebolística bem pior que a de 1950. O ranking da Fifa não mente, nosso futebol é mesmo o sexto da atualidade e está em marcha acelerada para o cesto... de lixo!

A Espanha e Alemanha estão mesmo anos-luz à nossa frente, merecendo a primeira e segunda colocações.

Praticamente perdemos o Mundial 2014 no instante em que o Santos conseguiu segurar Neymar e Ganso, impedindo que fossem aprender futebol moderno na Europa; serão presas fáceis da marcação de defensores de verdade, como o foram no Mundial de Clubes, totalmente anulados pelos do Barcelona.

Como não temos ninguém com potencial semelhante para resolver nossos problemas no meio de campo e no ataque, o que é bom para o Santos foi péssimo para o Brasil.

Ainda há tempo para evitarmos o fracasso anunciado? Há. O que não parece haver é disposição nem senso de urgência, pois o futebol, para aqueles que o administram, não passa de um grande negócio.

Pior: eles são negociantes tão tacanhos que nem percebem o quanto o hexa impulsionaria seus negócios. Continuarão aplicando esparadrapos em hemorragias.