A Veja obteve (por que será?) o privilégio, concedido a poucos veículos do mundo inteiro, de fazer uma reportagem em Guantánamo, a prisão de estilo nazista que os EUA mantêm arrogantemente em Cuba, a despeito da promessa de Barack Obama de desativar tal monstruosidade.
A ilha caribenha é onde os estadunidenses costumam fazer, na moita, o que pegaria mal fazerem em casa.
Antes da revolução, a jogatina e as orgias dos ricaços.
Depois, os atentados contra um país livre e seus líderes, cujo ponto culminante foi a frustrada invasão da baía dos Porcos, em 1961.
Finalmente, as torturas a que submete cidadãos de outras nações, sequestrados alhures sob suspeita de terrorismo.
E, mais uma aberração (que até a Veja foi obrigada a reconhecer): os julgamentos farsescos, inquisitoriais, de cidadãos que deveriam ser considerados prisioneiros de guerra.
Os EUA os capturam como tais, mas, depois, não os julgam como tais. Chegam ao cúmulo de, mesmo que seu tribunal de exceção seja obrigado a declará-los inocentes --por pesarem conta eles unicamente as confissões arrancadas nas torturas, inaceitáveis em termos legais--, AINDA ASSIM NÃO OS LIBERTAREM!!!
Imaginem a cena, um juiz encerrando desta forma o julgamento:
"Declaro o réu inocente. Reconduzam-no à cela!"
Infelizmente, Cuba abdica da superioridade moral que colocaria cada homem justo do planeta ao lado de suas exigências de fim do embargo econômico e desativação de Guantánamo, ao agir de forma também indefensável e inaceitável.
A blogueira cubana Yoani Sánchez teve negado pela 19ª vez seu pedido de vista de saída, agora para participar de um evento cultural no Brasil.
Não é acusada de nada. Não está sendo submetida a processo nenhum. Mesmo assim, não lhe permitem ir para onde quiser e voltar quando quiser. Está confinada em seu país, como se fosse súdita de um reizinho nos tempos longínquos do absolutismo.
E ainda debocham, como fez a funcionária que lhe transmitiu a decisão absurda: "Tente quantas vezes você quiser".
Então, ao serem criticados pelo arremedo de justiça que encenam em Guantánamo, os estadunidenses poderão sempre responder: "É uma prática característica de Cuba".
6 comentários:
A blogueira, que tanto "ama" Cuba, não deve mesmo se afastar de lá.
Não entendo o porquê de não liberarem essa gusana para sair de Cuba. Essa funcionária dos interesses ianques já devia há muito ter obtido visto pra viajar pra onde quisesse. Não fará estrago maior do que faz sendo retida em Cuba.
chinchonero
Acho que a medida do seu texto fica comprometida quando coloca lado a lado dois episódios diametralmente opostos: o tratamento desumano dos "prisioneiros"(????) de Guantânamo pelos EUA, e o tratamento do governo cubano a 'prisioneira' (???) do blog. Enxergar simetria em atos de selvageria e em atos político-institucionais - no primeiro caso, com patente ameaça a vida, no segundo, com apenas o cerceamento do direito de ir e vir que nem de longe ameaça a vida da blogueira - é um evidente exagero, senão de retórica, talvez de enfoque. Claro que concordo que a vida e o direito de ir e vir são direitos inalienáveis, mas como Marx, distinguiria o que constitui direitos do homem de direitos que a noção burguesa de homem classifica como tais.
Abraço
É óbvio que eu fiz uma metáfora em cima de dois fatos que estão no noticiário.
Na verdade, são este e muitos outros casos de desrespeito dos direitos humanos e civis por parte de Cuba que dela afastam o apoio dos cidadãos NEUTROS.
Se Cuba adotasse outra postura, decerto seria bem mais difícil aos EUA manterem o embargo econômico e o enclave de Guantánamo.
E, insisto: É CRASSA BESTEIRA DESMORALIZAR-SE POR TÃO POUCO. O REGIME NÃO CAIRIA SE CUBA ADMINISTRASSE MELHOR AS INSATISFAÇÕES DE ALGUNS (ao invés de deixar morrerem os grevistas de fome) E SE EMITISSE O VISTO DE SAÍDA DA BLOGUEIRA.
Mais: além de ser uma política extremamente equivocada em termos dos interesses cubanos, é terrível também para nós, os revolucionários de outros países, que somos obrigados o tempo todo a refutar que o socialismo seja policialesco e totalitário.
COMO NOSSO DEVER É FAZERMOS A REVOLUÇÃO AQUI NO BRASIL, TEMOS TODOS OS MOTIVOS PARA EXORTARMOS OS DIRIGENTES CUBANOS A AGIREM DE FORMA MENOS NEGATIVA PARA NÓS.
Ficarmos nos calando e nos acumpliciando com essas práticas obsoletas e grotescas é darmos tiros no pé.
Ocorreu-me um acréscimo ao comentário anterior.
EMBORA O CORRETO FOSSE CUBA LIBERAR A SAÍDA DA BLOGUEIRA E TAMBÉM SUA VOLTA AO PAÍS, só como exercício de raciocínio, vamos elocubrar sobre o que ocorreria se a deixasse partir e depois a declarasse persona non grata, impedindo seu retorno.
Por uma ou duas semanas, a imprensa burguesa lhe daria muitos holofotes. Mas, a mídia vive de NOVIDADES. Então, logo seria esquecida, desaparecendo do noticiário.
Ou seja, entre o que está fazendo agora --mantê-la confinada no país-- e mantê-la impedida de entrar no país, a segunda hipótese seria igualmente autoritária e criticável, MAS MENOS ESTÚPIDA.
O que estão fazendo é maximizar o desgaste e o noticiário adverso.
Trabalhei com um dos papas da administração de crises. O que ele recomendava a empresas e instituições na berlinda era o seguinte: sendo falsa a acusação, lutar para fazer prevalecer a verdade; mas, sendo verdadeira, fazer logo uma autocrítica discreta, admitindo o erro, para tirar o quanto antes o assunto do noticiário, pois espernear sem ter razão é tudo que que os adversários sonham.
Neste episódio, Cuba está dando máxima quilometragem a um assunto que lhe é adverso.
Cuba precisa de uma reforma migratória o quanto antes possível. Felizmente, o presidente Raul Castro já anunciou a necessidade desta. Infelizmente, a execrável Lei de Ajuste Cubano e a falta de iniciativa de alguns burocratas neostalinistas atrapalham a iniciativa.
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